Supergrupos são uma jogada de marketing. Uma brincadeira entre estrelas do rock com tempo livre demais. São pouquíssimos os casos em que rendem algo minimamente aceitável, digno de ser incluído no panteão da obra dos envolvidos.
Mais restrito ainda é o grupo de supergrupos capazes de render algo genuinamente belo – não só digno de pertencer ao legado, como defini-lo. Bandas que de alguma maneira conseguem, no encontro de personalidades fortes, causar uma reação criativa em cadeia na qual o resultado muda fundamentalmente a maneira na qual certo tipo de música é vista.
“the record”, álbum de estreia do boygenius, dá a sensação de ser algo assim quando ouvido. Uma destilação de diversas correntes do indie rock, emo, country e folk sob a ótica de três compositoras talentosas.
É possível identificar ecos de Neutral Milk Hotel, The Chick, Taylor Swift, Jimmy Eat World, Death Cab for Cutie, John Darnielle, Yo La Tengo e Elliott Smith nas canções. No final, porém, o talento de Julien Baker, Phoebe Bridgers e Lucy Dacus fala mais alto.
O boygenius surgiu como consequência da amizade das três e uma turnê coletiva. O EP homônimo lançado por elas em 2018 foi um pequeno milagre ocorrido em decorrência disso. A ideia de um disco parecia ainda mais difícil, considerando que as três desde então haviam dado um pulo considerável em suas carreiras solo.
Mesmo assim, aconteceu. O álbum abre apenas com suas vozes em harmonia, cantando uma melodia country de estilo antiquado – o que cria um elo com a faixa que fecha o EP, “Ketchum, ID”. Daí em diante, imediatamente somos jogados no trio de singles lançados no anúncio do disco. “20$”, “Emily I’m Sorry” e “True Blue” continuam faixas excelentes, capazes de destilar a contribuição de cada integrante para o produto final.
Após isso, “the record” consegue a façanha de enfileirar faixa após faixa capaz de se equiparar aos singles em termos de qualidade. Seja nos arranjos, nas melodias, nas letras – que conseguem dolorosamente vulneráveis e hilárias ao mesmo tempo –, somos presenteados com pérolas do nível de “Cool About It”, “Satanist” e “Anti-Curse” enquanto os momentos mais introspectivos de “Revolution 0” e “Leonard Cohen” revelam uma beleza singela capaz de partir o coração do ouvinte.
Entretanto, o núcleo emocional de “the record” é “We’re In Love”, canção composta por Dacus que parece pertencer a um musical off-Broadway, mas na realidade serve para ilustrar seus sentimentos pelas outras integrantes. O boygenius é um grupo caracterizado pela amizade. Três artistas de talento singular se juntando porque gostam uma da outra e de fazer músicas juntas.
E, sim, elas fizeram uma canção fazendo referência aos Beatles no título. E outra ao Leonard Cohen. A capa faz referência à estreia do Pearl Jam – ironicamente um grupo nascido de um supergrupo. O trio tem um conhecimento do poder de ícones na história do rock e são capazes de usar esses símbolos para se posicionar como algo digno de virar clássico.
Só que falar é fácil. Todo grupo tem o objetivo de entrar para a história, é preciso ter um material digno de ser incluído nessa conversa. É cedo e até arrogante afirmar o status de “the record”, mas é inégavel a qualidade do álbum e a ambição por trás.
Ouça “the record” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.
O álbum está na playlist de lançamentos do site, atualizada semanalmente com as melhores novidades do rock e metal. Siga e dê o play!
boygenius – “the record”
- Without You Without Them
- Emily I’m Sorry
- True Blue
- Cool About It
- Not Strong Enough
- Revolution 0
- Leonard Cohen
- Satanist
- We’re in Love
- Anti-Curse
- Letter to an Old Poet
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