“De Rush a Paul Simon, de Led Zeppelin a John Prine. Rock progressivo, mas não como você conhece”, diz a biografia que consta do site oficial do Crown Lands. Ao menos no que diz respeito ao componente musical da equação, há controvérsias.
Isso porque o cantor e baterista Cody Bowles e o guitarrista e tecladista Kevin Comeau caminham sobre solo previamente pisoteado. Mesmo a mistura de ingredientes tipicamente prog a outros mais frequentemente associados ao folk e a outros estilos do cancioneiro tradicional norte-americano não é inédita.
Inédito talvez seja o fato de dois caras na casa dos vinte e poucos anos estarem dispostos a nadar contra a corrente de tal forma. Para repelir ainda mais qualquer viabilidade comercial, em “Fearless”, seu segundo álbum de estúdio, a dupla segue apostando num background temático de múltiplos apelos impopulares entre o ouvinte médio de prog; de viagens interestelares e incursões à Terra Média a causas LGBTQIAP+ e dos povos originários da América do Norte expressas de maneira figurativa.
Com o perdão do trocadilho, “Fearless” abre destemido com “Starlifter: Fearless Pt. II”, um “disco dentro do disco” com 18 minutos de duração. Uma qualidade musical suprema se faz notar, mas são tantas as quebras de andamento, variações e até mesmo acenos a diferentes referenciais — como o Genesis de “Selling England by the Pound” (1973) e, com mais contundência, o Rush na fase pré-paletó do Didi — que é impossível não chamá-la de “música feita para músico”.
Passado o laboratório de teoria e prática musical — e deixando de lado a dissidência prog-indie “Context: Fearless Pt. I” —, “Fearless” vai se desdobrando em canções mais direto ao ponto e revelando outras águas das quais Bowles e Comeau beberam.
“Dreamer of the Dawn” é o típico AOR yuppie oitentista. De refrão quase metal com show de interpretação de Bowles, “The Shadow” tem uma pegada mais cáustica e eleva a carga dramática à estratosfera. Já “Right Way Back” reúne o que há de mais elementar no cânone do Deep Purple setentista sem copiar timbres de outrora. A instrumental “Penny” traz o violão para a linha de frente e, novamente, temos a certeza de que os Steves Howe e Hackett estão entre os artistas de cabeceira de Comeau.
Encerram o álbum “Lady of the Lake” — já a quarta faixa mais ouvida do duo nas plataformas digitais — e a meditativa “Citadel” em cujo âmago metafórico e fantasioso repousa uma mensagem de obstinação e luta por justiça que não poderia soar mais atual e/ou necessária.
Ao término de seus 58 minutos, “Fearless” deixa a impressão de que o Crown Lands, não obstante a pouca idade de seus integrantes e o relativo pouco tempo de estrada — sua formação se deu em 2015 —, tem tudo para ocupar um posto ainda vago no rock contemporâneo: o de caras do prog tão preocupados com a estética do seu som quanto com o mundo a seu redor.
Ouça “Fearless” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.
O álbum está na playlist de lançamentos do site, atualizada semanalmente com as melhores novidades do rock e metal. Siga e dê o play!
Crown Lands – “Fearless”
- Starlifter: Fearless Pt. II
- Dreamer Of The Dawn
- The Shadow
- Right Way Back
- Context: Fearless Pt. I
- Reflections
- Penny
- Lady Of The Lake
- Citadel
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Crown Lands. Muito bom!!! Sonzaco!!!