Sonata Arctica esbanja consistência para público empolgado em São Paulo

Apresentação para uma Audio quase cheia contou com passeio pela discografia e Tony Kakko no centro das atenções

Consistência é uma palavra que define não só a carreira dos finlandeses do Sonata Arctica, mas também a apresentação que celebrou seus vinte e cinco anos na quente noite de sábado (18) em São Paulo.

Uma plateia empolgada, que aguardava a banda desde quando a turnê brasileira foi anunciada pela primeira vez para abril de 2020, encheu a Audio para receber o grupo power metal melódico do norte da Europa.

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A ansiedade do público já podia ser notada quando, ainda antes de qualquer banda subir ao palco, os que chegaram cedo cantavam entusiasmados uma seleção de clássicos do heavy metal, principalmente quando a escolha recaiu sobre faixas de power metal.

*Fotos de Gustavo Diakov / @xchicanox. Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

Com público favorável, Firewing agradou

Anunciada como uma banda “multinacional” por Marcello Pompeu, vocalista do histórico grupo paulistano de thrash metal Korzus e que fez as vezes de mestre de cerimônias da noite, o Firewing recebeu um público já aquecido e, assim, sua missão ficou um pouco mais fácil.

Foto: Gustavo Diakov

Apresentando-se como um quarteto para a turnê brasileira, o Firewing, capitaneado pelo guitarrista Caio Kehyayan, abusou de bases pré-gravadas para manter funcional a aura sinfônica de seu som, cujo instrumental flutua entre o power e o prog metal.

Foto: Gustavo Diakov

Não foi um problema para o público, que respondeu animado à ativa presença de palco do grupo – principalmente quando chamado às palmas pelo vocalista Jota Fortinho, que mostrou nos tons altos cumprir todos os requisitos para cantar numa banda do estilo.

O Firewing, porém, peca pela falta de refrãos marcantes, ainda que suas músicas apresentem bons riffs e não caiam num exibicionismo virtuoso típico de quem tem dois músicos professores de seus instrumentos, o baixista Pablo Guillarducci e o baterista Victor Miranda.

Foto: Gustavo Diakov

Terminados os 40 minutos da banda de abertura, voltaram as faixas de metal clássico a tocar no sistema de som e o show do Firewing, mesmo agradando, já era passado para um público que aguardara mais de três anos por esse show do Sonata Arctica.

Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

Firewing – ao vivo em São Paulo

  • Local: Audio
  • Data: 18 de março de 2023

Repertório:

  1. Obscure Minds
  2. Demons of Society
  3. Far in Time
  4. Time Machine
  5. Eternity
  6. Tales of Ember & Vishap: How Deep is Your Heart?
  7. Tales of Ember & Vishap: The Meaning of Life
  8. Last Gasp

Promoção encheu a casa para o Sonata Arctica

Dada a quantidade de promoções às vésperas da apresentação (entradas estavam à venda no esquema “leve 2 pague 1” até dias antes do evento), seria difícil dizer se o Sonata Arctica tem por si só público para tocar em uma casa do tamanho da Audio, em São Paulo, que comporta pouco mais de três mil pessoas.

Pompeu, novamente no palco para anunciar a atração principal, agradeceu a quem manteve seu ingresso nesses três anos de incertezas e adiamentos e pediu para o pessoal comprar merchandising.

Foto: Gustavo Diakov

Ainda que seja um apelo compreensível para toda a cadeia envolvida na promoção de um evento, num ano superlotado de shows interessantes a preços nada atrativos, gastar quase o valor de um ingresso em uma camiseta é uma missão ingrata.

Com aparentemente três quartos de sua lotação, a noite de sábado na Audio tinha uma sensação de casa cheia quando, em vez de um show focado na divulgação de seu disco então mais recente (“Talviyö”, lançado em 2019), o Sonata Arctica apresentou ao público um repertório representativo de toda sua discografia.

Simpático e eficaz, Tony Kakko comandou a noite

Mudança que não parece ter sido um problema para ninguém, a julgar pela queda de ânimos quando “Storm the Armada”, faixa mais recente apresentada nesta noite, foi executada logo após a explosiva reação do público na abertura do show com “The Wolves Die Young” e “The Last Amazing Grays”, músicas mais animadas dos discos “Pariah’s Child” (2014) e “The Days of Grays” (2009).

Foto: Gustavo Diakov

No palco, o show foi de Tony Kakko. O grupo usou poucos artifícios para chamar a atenção: apenas um pano de fundo quase imperceptível com seu logo clássico e a arte do último álbum, sem telões e concentrando sua iluminação em cores frias, como predominante nas capas da maioria de seus discos e no merchandising à venda.

Foto: Gustavo Diakov

O simpático vocalista confiou em suas grudentas melodias e num carisma meio desajeitado para manter o público animado, com pouco uso de bases pré-gravadas – apenas um sampler de voz e efeito aqui e acolá – e os músicos reproduzindo ao vivo com eficiência seus arranjos num repertório de quase nenhuma ostentação virtuosística.

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Apesar de o baterista Tommy Portimo ser o único membro fundador que ainda segue na banda, ele se resumiu a ser uma espécie de metrônomo humano, seja ao disparar o bumbo duplo, seja marcando a batida nas canções de apelo mais radiofônico, pouco chamando a atenção – após o show, foi um dos mais empolgados agradecendo o público.

Foto: Gustavo Diakov

Mesmo Henrik Klingenberg, alternando seu teclado portátil ao instrumento tradicional, poucas vezes o empunhou para ocupar a frente do palco, enquanto o guitarrista Elias Viljanen e o baixista Pasi Kauppinen, membros mais recentes da formação atual, até se movimentaram, mas pareceram fazê-lo sempre de forma a não ofuscar Kakko.

Foto: Gustavo Diakov

Discografia consistente bem representada

Desde que a banda estreou com “Ecliptica”, em 1999, quando o power metal melódico europeu passava por uma entressafra junto à ascensão de bandas de apelo mais sinfônico, o Sonata Arctica soube equilibrar uma identidade calcada em melodias fáceis ao longo dos quatro primeiros trabalhos com alguma diversidade musical posterior, nem sempre agradando seus fãs, mas sem gerar grandes rupturas.

Foto: Gustavo Diakov

Assim, “Unia”, o primeiro disco do Sonata Arctica a se aventurar fora da caixinha do power metal tradicional, foi um dos poucos trabalhos a ter mais de uma música escolhida para a noite: “Paid in Full” e “Caleb”. Ambas na primeira metade da apresentação, ambas bem recebidas pelo público, majoritariamente jovem, boa parte nem saída das fraldas ainda quando os finlandeses estrearam no país mais de vinte anos atrás.

Foto: Gustavo Diakov

A banda ainda foi inteligente ao escolher músicas mais fáceis de seus álbuns menos celebrados, como “I Have a Right”, de “Stone Grows Her Name” (2012), para reação excitada do público a seu refrão repetitivo, ou numa resposta mais modesta, mas ainda favorável, para “Closer to an Animal”, de “The Ninth Hour” (2016).

Foto: Gustavo Diakov

O disco mais representado na noite foi “Silence”, lançado em 2001. Suas três faixas escolhidas, porém, nem sempre despertaram frenesi na plateia, talvez por terem recaído sobre canções menos pesadas, como “Sing in Silence” ou “Tallulah” – o que não significa que seus refrãos não tenham sido cantados com entusiasmo.

Por outro lado, quando “Black Sheep” foi executada, já tinha ficado claro que o público se empolgava ainda mais quando a banda enfiava o pé no acelerador, como já havia acontecido com “Kingdom for a Heart”, a primeira música tocada do disco de estreia, que recebeu um dos maiores coros da noite.

Foto: Gustavo Diakov

Só não foi superior à da introdução de “FullMoon”, do mesmo álbum de estreia, cantada sozinha pelo público no encerramento da primeira parte do show, que ainda pediu em coro para a banda voltar ao palco com “Replica”, outra faixa de seu trabalho inaugural.

Antes de a banda encerrar o show após voltar ao palco, Tony Kakko sozinho teve seu momento Freddie Mercury de aquecimento da voz do público, como se fosse necessário, mas serviu para uma simpática alusão à faixa pedida em coro, para imensa reação dos fãs, que tiveram de se contentar com a promessa de ver a música executada num futuro retorno dos finlandeses.

Foto: Gustavo Diakov

O bis ficou marcado por duas faixas do período de consolidação do Sonata Arctica. A rápida “The Cage” representou “Winterheart’s Guild” (2003) – que também tivera “Broken” executada anteriormente –, enquanto o final do show “Don’t Say a Word”, de “Reckoning Night” (2004). Já é chover no molhado falar sobre a reação empolgadíssima do público.

Assim como a entrada modesta da banda enquanto o sistema de som executava a sarcástica faixa de Monty Python “Always Look on the Bright Side of Life” até o encerramento com Tony Kakko fazendo o público responder “Vodka” antes de a banda tocar uma música de bebedeira como despedida, o Sonata Arctica não ofereceu em hora e meia nada além de despretensiosa descontração. E ninguém saiu da Audio reclamando.

*Fotos de Gustavo Diakov / @xchicanox. Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

Sonata Arctica – ao vivo em São Paulo

  • Local: Audio
  • Data: 18 de março de 2023
  • Turnê: 25th Anniversary Tour

Repertório:

Intro: Always Look on the Bright Side of Life

  1. The Wolves Die Young
  2. The Last Amazing Grays
  3. Storm the Armada
  4. Paid In Full
  5. Sing In Silence
  6. Kingdom For a Heart
  7. Caleb
  8. Closer to an Animal
  9. Black Sheep
  10. Broken
  11. I Have a Right
  12. Tallulah
  13. FullMoon

Bis:

  1. Replica (parcial, à capella)
  2. The Cage
  3. Don’t Say a Word

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Thiago Zuma
Thiago Zuma
Formado em Direito na PUC-SP e Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero, Thiago Zuma, 43, abandonou a vida de profissional liberal e a faculdade de História na USP para entrar no serviço público, mas nunca largou o heavy metal desde 1991, viajando o mundo para ver suas bandas favoritas, novas ou velhas, e ocasionalmente colaborando com sites de música.

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