Quando eu tinha lá por volta de 9 ou 10 anos de idade, ganhei do meu pai o tão sonhado Mega Drive – o que me colocou diretamente na linha de frente de uma “batalha” que acontecia recorrentemente entre os moleques da época. De um lado, os fanáticos por Nintendo. Do outro, os doidos pela Sega. E quem representava esta luta eram seus principais personagens: o Mario pela Nintendo, o Sonic pela Sega. No fim, eu acabei virando um sujeito muito mais do fã-clube do porco-espinho… mas o desenho animado, mais até do que os games, me fez apaixonar pelos Super Mario Bros pouco depois (na verdade, mais até pelo Luigi, mas enfim).
Com o passar dos anos, tanto um quanto o outro meio que perderam o apelo não apenas pra gente da geração 30-40 anos, que envelhecia e via neles apenas nostalgia barata, mas também para o público mais jovem, interessado em outros tipos de franquias nos games, mais modernas e radicais. Só que, nos últimos anos, tanto Sega quanto Nintendo pareceram genuinamente interessadas em tornar estes ativos novamente atraentes. O cinema — aquele que deu um brilho diferente para os heróis da Marvel, levando-os para muito além dos gibis — poderia ser o caminho para conquistar uma nova parcela de fãs e ainda resgatar a magia dos antigos. Começou com Sonic. E agora chega ao mundo cheio de cogumelos de Super Mario Bros e sua trupe.
O preâmbulo serve apenas para deixar claro que, apesar do gap geracional, da mesma forma que aconteceu com o filme do Sonic, a animação longa-metragem “Super Mario Bros – O Filme” funciona tranquilamente para os mais diferentes públicos. Na sala de cinema estávamos eu, do alto de meus 43 anos, e meu filho de 12. Tinham pais mais jovens e crianças ainda menores, com seus cinco, seis anos. Tinham adultos sozinhos, entre eles, sem crianças a tiracolo. E tinha um bando de adolescentes entre 15 e 16 anos surtando bem lá no fundão. E todos, igualmente, deram risada a maior parte do tempo e saíram leves, tranquilos, na paz.
Agora… vamos lá, tem uma discussão interessante aqui e que se tornou um ponto sensível pros coleguinhas críticos de cinema. Afinal, para quem é o filme? Pois então, falemos mais sobre isso.
Filme infantil — qual o problema?
Vamos admitir que este é, sim, um filme pra criança. Tá na cara, desde o começo, que “Super Mario Bros” é uma produção cujo objetivo é apresentar Mario, Luigi, Toad, Peaches, Bowser e demais personagens para meninos e meninas que ou simplesmente não os conhecem ou pelo menos não se importam com esta turma até o momento. A Universal e a Nintendo terem chamado os especialistas da Illumination, os pais dos Minions e do Malvado Favorito, para a tarefa de fazer esta coisa toda acontecer é prova cabal de quem está cravado como público-alvo.
E não é como se isso de “filme infantil” fosse algum tipo de “demérito”, como uma galera nas redes sociais estava supondo. Porque “filme pra criança” não faz a obra se tornar automaticamente rasa, boba, genérica. Bem longe disso.
Um outro ponto: este é um filme infantil bem diferente dos filmes da Pixar, por exemplo. Sim, é claro que temos diferentes camadas de compreensão aqui, dos easter eggs de diferentes games que só quem jogou vai sacar até a trama de Mario e Donkey Kong lutando por seus próprios sonhos e em busca da aceitação de seus respectivos pais. Mas não é, obviamente, uma discussão tão aprofundada sobre problemas mentais, por exemplo, como um “Divertidamente” faz e pega os pais e crianças-adolescentes mais velhos de maneira certeira, na base da lágrima.
E, mais uma vez, isso está longe de ser um problema. Porque existem também bons filmes “para adultos” que são apenas e tão somente divertidos. Uma Sessão da Tarde descompromissada que não necessariamente traz maiores discussões filosóficas. É só risada, fofura, doçura, farofada.
“Super Mario Bros” é definitivamente isso. Pipoca simples, pura, raiz, bem temperadinha e sem grandes aspirações ou ambições. Já não tá bom?
Podemos agora falar sobre o filme?
Na história, a gente descobre como começou o negócio familiar de Mario (Chris Pratt) e Luigi (Charlie Day), dois aspirantes a encanadores no Brooklyn, vindos de uma família italiana tradicional e dispostos a fazer a diferença. Em meio a uma tragédia no bairro, que faz com que Mario resolva bancar o herói, eles acabam tragados pelos encanamentos mágicos com passagens abertas para outras dimensões – incluindo o tal do Reino Cogumelo.
Lá chegando, depois que os dois irmãos se perdem, eles acabam sendo, cada um a seu modo, atraídos pelos planos maléficos do Bowser (Jack Black), imperador do reino dos koopas, que quer dominar todos os outros reinos ao seu alcance, além de ganhar a atenção de sua amada Princesa Peaches (Anya Taylor-Joy). Líder de uma população de pacíficos Toads, ela se apoia não apenas no Mario mas também no poderoso exército dos Kongs, do monarca que é pai do guerreiro Donkey Kong (Seth Rogen), para tentar resistir ao avanço do grandalhão.
E… é isso. Uma história fácil de entender, sem maiores desdobramentos, calcada essencialmente no humor, com uma coleção de piadas infames, mas que sabe usar na medida certa a questão da agilidade e velocidade dos saltos em plataforma dos jogos originais. Tudo com uma bela trilha regada a Beastie Boys, AC/DC, a-ha, Bonnie Tyler e por aí vai.
Fique de olho não apenas nas divertidas cantorias do vilão Bowser – um dos destaques da trama –, mas também nas aparições especiais de Lumalee, a estrelinha azul de Super Mario Galaxy, cheia de surpreendentes comentários mórbidos e comentários bizarros sobre vida e morte.
E, se possível, deixe os preconceitos bobos de lado e veja o filme dublado. A versão em português é certeira não apenas na seleção de vozes, mas também na tradução, repleta de gírias que conversam com a já lendária e cultuada dublagem do antigo desenho animado (uma breve busca pelo YouTube indica o caminho).
O que o futuro reserva?
Além de uma interessante discussão sobre a origem da Peaches – única humana dentre os cogumelos, que veio ainda criança para o reino mas cuja história pregressa é desconhecida –, também fica em aberto, claro, a questão da última cena pós-créditos, que faz referência a um personagem adorado da trama dos jogos e que não deu as caras pelo menos neste filme (os fãs e jogadores mais atentos vão sacar de imediato de quem se trata). Junte a isso e a possibilidade, tão comentada pelos próprios atores, de termos quem sabe um Wario (versão maléfica do próprio Mario) em tela e está desenhada uma possível sequência.
Aliás, cada vez mais possível mesmo: afinal, no momento em que estou escrevendo este texto, “Super Mario Bros – O Filme” já superou “Frozen II” e conquistou o posto de maior estreia global de um filme de animação, faturando US$ 377 milhões em seu primeiro fim de semana. Além disso, já tem a segunda maior bilheteria de 2023, perdendo apenas para “Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania”. Para superar, com certeza não deve demorar muito.
O futuro, portanto, deve reservar não apenas muito mais filmes (e séries derivadas, novos jogos, bonequinhos, pelúcias, camisetas e por aí vai), mas também uma considerável quantidade de cifrões. Os irmãos são mesmo Super e a gente ainda deve ouvir falar muito deles daqui pra frente, sejamos nós crianças ou adultos.
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