Entrevista: Tim “Ripper” Owens sem papas na língua em relação a Judas Priest, Iced Earth e mais

Prestes a desembarcar no Brasil para quatro shows, vocalista comenta polêmicas envolvendo suas antigas bandas

De novo, novamente e mais uma vez, o Brasil receberá shows solo de Tim “Ripper” Owens. Embora o vocalista, 55 anos, tenha lançado um bom EP solo em 2022 (“Return to Death Row”), o repertório da vindoura turnê conterá apenas músicas do Judas Priest, grupo do qual fez parte de 1996 a 2003. Estão previstas quatro apresentações — Limeira (22/04), São Paulo (23/04), Curitiba (26/04) e Porto Alegre (27/04) — , todas na companhia de ninguém menos que o ex-Accept, Udo Dirkschneider.

“Cantarei umas oito ou nove músicas, daí o Udo canta umas oito ou nove [do Accept] e, ao final, cantamos uma meia dúzia de clássicos do metal juntos”, explica Owens, prometendo incluir sons de “Jugulator” (1997) e “Demolition” (2001), os dois álbuns de estúdio que gravou com o Priest.

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Tal ênfase ditou os rumos do bate-papo a seguir.

Uma entrevista com Tim “Ripper” Owens

“Mais mistura, mais contraste”

“Jugulator” e “Demolition” são dois álbuns tão diferentes entre si que às vezes nem parecem que foram feitos pelos mesmos cinco caras. Em comum a ambos, apenas o peso, pois a abordagem mais diversificada do segundo é, de acordo com Ripper, o que faz com que o prefira ao primeiro.

“‘Demolition’ é um álbum mais versátil. Há mais mistura, mais contraste”, diz ele, antes de destacar “Hell is Home”, “One on One”, “Machine Man” e “Lost and Found” como suas músicas favoritas do trabalho.

A supracitada diversidade, por sua vez, deve-se a uma diferença no processo de composição, a qual ele revela:

“[Os guitarristas] Glenn [Tipton] e K.K. [Downing] já haviam começado a compor as músicas do ‘Jugulator’ quando eu me juntei à banda. No ‘Demolition’, o Glenn capitaneou a composição e compôs tendo em mente a minha voz, a minha maneira de cantar.”

Ao contrário de Ripper, uma parcela considerável dos fãs prefere “Jugulator” a “Demolition”. Embora não saiba responder ao certo o porquê disso, ele salienta que embates entre álbuns sempre foram uma constante na carreira do Priest:

“Veja, quando eles lançaram o ‘Turbo’ (1986) depois de lançarem o ‘Defenders of the Faith’ (1984), os fãs ficaram se perguntando: ‘que p#rra é essa?’. Foi a mesma coisa quando eles lançaram o ‘Point of Entry’ (1981) na sequência do ‘British Steel’ (1980); dois álbuns completamente diferentes um do outro. ‘Nostradamus’ (2007); tem quem o ame e quem o odeie. Essa é uma das coisas mais legais no Judas Priest: eles dançam conforme a música sem abrir mão da originalidade, as pessoas gostem ou não.”

Antes de se tornar vocalista do Judas Priest, Owens cantava numa banda tributo. Na história que inspirou o filme “Rock Star” (2001), uma gravação dele cantando nessa banda acabou nas mãos do baterista Scott Travis, que soube vender o peixe para Glenn Tipton, K.K. Downing e o baixista Ian Hill. Mas uma vez fã, sempre fã, e Ripper surpreende muito ao apontar seu disco de cabeceira do Judas e muito pouco ao apontar de qual menos gosta:

“É estranho, engraçado, mas meu favorito é o ‘Point of Entry’. No passado eu talvez dissesse que era o ‘Screaming for Vengeance’ (1982) ou o ‘Defenders’, mas hoje, sem dúvida, é o ‘Point of Entry’. Agora, o de que menos gosto? Acho que o ‘Nostradamus’; não curti, não me empolgou muito. E lembro que odiei o ‘Ram It Down’ (1988) quando ele foi lançado, mas outro dia fui malhar ouvindo e achei bom pra caramba! Mal pude acreditar que já não gostei desse disco!”

“Fizeram esses discos desaparecer, como Houdini”

Nunca conheça seus heróis. O título do episódio 1 da série “Gavião Arqueiro” é também uma máxima no que se refere às possíveis desilusões que um encontro com aquela figura que tanto se admira pode ocasionar.

Não foi o caso para Ripper, que confessa ter perdido heróis, mas ganhado amigos, pois uma vez integrante do Judas Priest, ele nunca mais conseguiu vê-los da mesma forma. “Aqueles caras estavam num pôster na parede do meu quarto quando eu era jovem”, conta. “Agora, estava eu ao lado deles na parede do quarto de alguém”.

Mas a recíproca de amizade, gratidão etc. não parece ser verdadeira. Afinal, tanto “Jugulator” quanto “Demolition” permanecem fora de catálogo e indisponíveis em todas as plataformas digitais de áudio. Para Owens, trata-se da mais pura estupidez:

“Fizeram esses discos desaparecer, como Houdini. Loucura. Poderiam estar ganhando dinheiro em cima desses discos, e os fãs adorariam ter a oportunidade de comprá-los em vinil.”

Depois de desmentir recente declaração de Hill, de que a indisponibilidade de ambos os títulos é culpa da gravadora — “Mentira, do contrário não estariam presentes naquele box-set de 500 dólares [‘50 Heavy Metal Years Of Music’ (2021)] —, ele ainda dá uma alfinetada no management da banda:

“Se bem que são as mesmas pessoas que anunciaram que eles continuariam com um guitarrista só, né? Então, não é como se eles fossem experts em tomar as melhores decisões.”

“Adoraria gravar um 2º álbum do Beyond Fear”

Para tristeza dos colecionadores e aficionados, Tim “Ripper” Owens afirma que, desmentindo especulações, não existem músicas inéditas de seu período no Judas Priest, tampouco gravações que pudessem ser utilizadas como bonus tracks em eventuais relançamentos de “Jugulator” ou “Demolition”.

O mais próximo disso, segundo ele, são duas composições que acabaram sendo aproveitadas pelo projeto Beyond Fear, no álbum homônimo de 2006: “Scream Machine” — que Owens diz, teria sido forte candidata a melhor música de seu período no Judas, caso a banda a tivesse gravado — e “Save Me”.

Outra lenda que Ripper fez cair por terra diz respeito justamente ao Beyond Fear: ao contrário do ventilado por aí, não existe um segundo álbum inédito:

“O que existem são seis ou sete músicas que não passaram muito dos primeiros estágios de desenvolvimento. Algumas até começamos a gravar, mas ficamos sem grana para dar continuidade. Dito isso, eu adoraria gravar um segundo álbum do Beyond Fear. Adoro os caras e acho que John Comprix [guitarrista] e eu formamos uma boa dupla de compositores e escrevemos ótimas músicas juntos.”

Um segundo álbum que existe, porém, é o sucessor de “Sermons of the Sinner” (2021), do K.K.’s Priest; dissidência do Judas Priest comandada pelo ex-guitarrista K.K. Downing. Owens se recusa a revelar o nome do disco, mas antecipa:

“Estamos terminando de mixar, e está incrível. Um pouco mais pesado, talvez até mais estridente, mas tem um lance mais de luz e sombra, uns momentos mais emotivos e tal. Acho que, estruturalmente, é um disco ainda melhor que o primeiro, e que as pessoas vão adorar. Logo logo irei [para a Inglaterra] filmar os videoclipes e tirar as fotos promocionais.”

“As pessoas fazem m#rda às vezes”

Entre as muitas empreitadas musicais das quais Ripper fez parte após ser tirado do Judas Priest em 2003, destaca-se sua participação no Iced Earth, que rendeu dois álbuns de estúdio; sendo que o primeiro, “The Glorious Burden” (2004), muitos consideram um dos melhores trabalhos do grupo. Ele comenta:

“Foi muito divertido fazê-lo. A bem da verdade, eu ainda estava no Judas Priest quando o gravei, mas topei gravar por saber que estava com os dias contados. Posso dizer que aprendi mais sobre História do Mundo e História dos Estados Unidos cantando músicas como ‘Attila’, ‘Waterloo’ e [a trilogia] ‘Gettysburg (1863)’ do que na escola!”

Em 2021, o líder do Iced Earth, Jon Schaffer, foi parar nos noticiários. Pró-Trump, o guitarrista e principal compositor do grupo estava entre os invasores do Capitólio em 6 de janeiro daquele ano durante sessão do Congresso dos Estados Unidos sobre o resultado das eleições presidenciais de 2020. Schaffer entrou para a lista de procurados do FBI, o que provocou uma debandada no Iced Earth e a rescisão do contrato com a gravadora Century Media, que prontamente removeu a banda de seu catálogo.

“As pessoas fazem m#rda às vezes”, relativiza Owens ao ser questionado se, em razão dos atos de Schaffer, o legado do Iced Earth ficaria permanentemente manchado.

“É a coisa mais comum na América, pessoas invadindo lugares e quebrando tudo. Todo mundo erra, mas apenas alguns são pegos para Cristo. Tem gente que faz o que faz e sai ileso. É lamentável. Ele [John] cometeu um erro. Fez a maior burrada. Mas duvido que as pessoas parem de comprar os discos da banda. Tem desportistas no meio disso também, gente que fez e faz coisas ainda piores e continua vivendo como se nada tivesse acontecido.”

Outro ex-patrão de Ripper que virou notícia foi Yngwie Malmsteen. Recentemente, o guitarrista sueco ameaçou cancelar um show nos EUA caso o vocalista e desafeto Jeff Scott Soto não deixasse o local. “É bem provável que isso tenha acontecido mesmo”, comenta ele antes de lembrar de uma ocasião na qual o próprio Malmsteen foi removido do lineup de um festival a pedido de um dos headliners, o Judas Priest.

Owens gravou dois álbuns de estúdio com Malmsteen: “Perpetual Flame” (2008) e “Relentless” (2010) e surpreendeu ao dizer que ambos estão entre os discos mais fáceis que já gravou.

“Foi divertido. Ele [Yngwie] foi um dos caras mais tranquilos de se trabalhar. Eu gravava um take, ia ouvir como tinha ficado e ele dizia que tinha ficado ótimo. Eu insistia que poderia fazer melhor e ele dizia: ‘não, não, está ótimo assim’. Outras vezes, ele simplesmente desaparecia do estúdio e, quando eu ia ver, tinha ido pegar um Coca Zero na máquina de bebidas. Diversão total.”

“Máquina de gritar: uma autobiografia”

Conforme mencionado mais acima, a trajetória de Tim “Ripper” Owens inspirou um longa-metragem. Será que essa história um dia será contada em livro? Ele responde que até que gostaria, desde que encontrasse um ghost writer competente e…

“Se o adiantamento fosse compatível. Hoje em dia, não faço nada ‘no amor’. As contas chegam todo mês. Mas confesso que teria certo receio de jogar a m#rda no ventilador. Não me sentiria bem queimando o filme dos outros ou mesmo abrindo o jogo em relação a algumas cag#das que fiz ao longo da minha trajetória, como atrizes pornô ou coisas do tipo. [Risos.]”

Mas caso encontre um ghost writer competente e receba um adiantamento compatível, Owens já tem até título em mente:

“‘Scream Machine’ [‘Máquina de Gritar’], é lógico. Afinal, é isso o que eu sou, não é mesmo?”

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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