Nascido como um projeto solo de David Coverdale após o fim do Deep Purple em 1976, o Whitesnake precisou se adaptar ao mercado americano para estourar. O grupo só conseguiu fama nos Estados Unidos a partir do álbum “Slide It In”, de 1984.
Em entrevista para o livro “Whitesnake: A Fantástica Jornada de David Coverdale”, lançado no Brasil pela editora Estética Torta, o então empresário da banda, John Kalodner, trouxe detalhes do momento da “virada”. Para ele, a troca de integrantes foi essencial para o sucesso do grupo.
“Para mim, David Coverdale era um dos melhores vocalistas do mundo, e quando fui para a Geffen fiz de tudo para tentar contratá-lo. Eu achava que eles tinham um enorme potencial. O problema é que apesar de eu realmente amar os outros caras da banda, eles não eram tão carismáticos quanto o David, que era um superstar. Nós estávamos entrando na ‘era Bon Jovi’ de todos aqueles grandes superstars, e eu achava a voz e as músicas do Coverdale melhores que qualquer coisa.”
O artigo “Por que o Whitesnake lançou duas versões de ‘Slide It In’ – e quais as diferenças entre elas” traz mais detalhes da chegada do grupo ao mercado americano pelo ponto de vista de Kalodner.
A visão dos músicos do Whitesnake
Os alvos da crítica de John Kalodner eram Cozy Powell (bateria), Colin “Bomber” Hodgkinson (baixo), Jon Lord (teclado), Mel Galley e Micky Moody (guitarras). Este último, anos mais tarde, trouxe à tona o lado negativo da influência do caça-talentos.
Em 2009, em entrevista à Rockpages (via Bravewords), Moody revelou como a presença do empresário se tornou uma sombra na banda – e como mudou a abordagem de David Coverdale como líder.
“Acho que logo após o disco do ‘“’Saints & Sinners’ (1982), David começou a ouvir muitas pessoas da indústria americana, especialmente John Kalodner, da Geffen. Esse cara foi implacável e vou te dizer o porquê. Toquei com o Whitesnake em outubro de 1983. Enquanto tocava, acho que foi em Hamburgo, ele estava parado ao lado do palco fazendo anotações. Pensei: ‘isso é sinistro… isso é obscuro’. No final do show, ele foi direto para David e mostrou-lhe as anotações. Era óbvio que John Kalodner não pensava muito em mim.”
O guitarrista ainda se aprofundou nos desdobramentos do episódio e revelou como anunciou aos outros músicos sua saída do Whitesnake.
“Estávamos em um hotel na Alemanha, na mesma turnê, e David estava sentado com John Sykes (guitarrista que o sucederia). Sem nenhuma razão específica, ele se virou para mim e disse: ‘nunca vire as costas para o público durante o show’. Ele disse isso na frente de John Sykes e era evidente que Sykes estava desconfortável. Eu não disse nada, mas me lembro de pensar: ‘f#da-se’. Ele havia me envergonhado na frente de outro músico. David já havia decidido trazer John Sykes para a banda. Após o último show na Bélgica, pedi ao gerente da turnê para chamar todos os membros do Whitesnake no meu quarto para anunciar minha decisão de deixar a banda. Todos entraram no meu quarto menos Coverdale. Cozy, sendo um cara verdadeiramente honesto, me disse: ‘boa decisão’. Jon Lord começou a chorar porque ele era muito emotivo. Uma semana depois, David me ligou e disse: ‘ah, você está saindo da banda…’ E foi isso que aconteceu.”
Sobre John Kalodner
Fotógrafo e jornalista freelancer, John Kalodner iniciou sua trajetória na indústria musical fazendo críticas de shows para o jornal The Philadelphia Inquirer. Após passagem pela Atlantic Records, na década de 1980 foi contratado como caça-talentos pela recém fundada Geffen Records. A parceria rendeu trabalhos com bandas como Aerosmith, Whitesnake e Asia.
Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Twitter | Facebook | YouTube.