O Helloween só teve uma fase da carreira com sonoridade definida. E não, não estamos falando da era Keepers, mas dos três primeiros discos com Andi Deris nos vocais.
Mesmo no período inicial, o grupo variava muito de um lançamento para o outro. Basta ouvir o gigante salto dado entre “Walls of Jericho” (1985), primeiro trabalho completo e seus sucessores, as partes um e dois de “Keeper of the Seven Keys” (1987/1988) – que deveriam ter saído juntos, mas acabaram sendo divididos em dois por determinação da gravadora.
Após a consagração, Kai Hansen saiu. Roland Grapow assumiu a guitarra junto de Michael Weikath e também se tornou uma das forças no campo da composição. Porém, seu estilo era bem mais diversificado. Enquanto o anterior possuía influências metálicas latentes, o então novo integrante buscava referências de AOR e bandas americanas em geral. Era algo que o diferenciava. Ao mesmo tempo, levaria o som a outro plano.
A coisa já havia ficado bastante clara em “Pink Bubbles Go Ape” (1991). Apesar de conseguir manter algumas características, boa parte do tracklist fugia do que fez o quinteto famoso.
Quando chegou a hora do trabalho posterior, o cenário mostrava uma banda dividida não apenas em termos profissionais, mas também no aspecto pessoal. Como é normal, tudo se refletiu na obra.
O camaleão do Helloween
“Chameleon” (1993) foi gravado em Hamburgo, Alemanha, sendo mixado em Los Angeles, Estados Unidos. É o disco mais diversificado da carreira do grupo, com influências pop, progressivas e adição de elementos como instrumentos clássicos, corais infantis e maior uso de violões. A produção ficou a cargo dos próprios músicos, em parceria com Tommy Hansen e Michael Tibes.
Uma impressão que fica clara quando se escuta o trabalho tendo conhecimento do background é que estamos diante de três álbuns solo dentro de um. As 12 faixas do tracklist convencional são assinadas de forma solitária pelos guitarristas e o vocalista Michael Kiske. Cada um foi responsável por 4. O baixista Markus Grosskopf ainda conseguiria encaixar “Cut in the Middle” entre os b-sides.
Em entrevista de 2021 ao site Eonmusic, o frontman confirmou a ideia.
“Eram três caras fazendo seus discos solo sob o nome Helloween. ‘I Believe’ e ‘Longing’ são as minhas favoritas. Não é um álbum ruim, foi muito legal gravar. Tínhamos a NDR [Elbphilharmonie Orchestra], 25 pessoas registrando cordas e trompas em ‘Longing’. Não eram teclados, eram realmente músicos tocando.”
Roland protagonizou o momento mais emotivo com o single “I Don’t Wanna Cry No More”. Ela foi dedicada a Rainer, seu irmão que havia falecido pouco tempo antes. Já “Step Out of Hell” é um remake da música “Victims of Rock”, de sua antiga banda Rampage. A versão original é faixa-título do álbum de 1981.
Do fracasso ao status de “cult”
“Chameleon” acabou sendo um grande fracasso comercial, o que fez com que a gravadora EMI demitisse o Helloween. Envolto em seus problemas de saúde mental – amplificado pela dependência química –, o baterista Ingo Schwichtenberg sequer fez a turnê, sendo substituído por Ritchie Abdel-Nabi.
Michael Kiske ainda faria os shows antes de sair. E quem já escutou algum bootleg do período pôde conferir performances deploráveis de sua parte. Anos depois, ele atribuiria o desastre ao clima interno da banda e sua total indisposição de seguir participando dos rumos aos quais a situação se encaminhava.
Apesar das críticas, “Chameleon” alcançou posições relativamente satisfatórias em paradas como a alemã (35º), japonesa (8º), finlandesa (15º), suíça (30º) e sueca (35º). Com o passar do tempo, adquiriu status de “cult”, com vários fãs passando a compreender a proposta sonora.
De fato, era um play sem limites. Para o bem e para o mal. O que sempre traz consequências impactantes.
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Chameleon deve ter se tornado “cult” apenas pra meia dúzia de gatos pingados (talvez os gatos do Roland Grapow…), o disco é um disparate de más ideias unidas em 70 minutos de canções que induzem ao sono ou ao tédio absoluto. Tirando Giants que até é uma canção decente, as demais são geralmente insossas ou sem direção. Mesmo que fosse um disco do Scorpions dos anos 90 já seria fraco, mas sendo do Helloween só piorou as coisas. Vale ressaltar que Music também é uma canção requentada do Rampage, o que só dá mostras que nem criatividade pra compor coisas novas os caras estavam.
Uma resenha bem mais curta sobre este álbum: “uma grande porcaria”. É simplesmente horroroso.