Entusiastas dos lados b de outrora devem se lembrar do Heavens Edge, que foi uma das últimas apostas da Columbia Records no que diz respeito ao hard rock de contornos oitentistas. Seu disco de estreia homônimo, lançado em 1990, teve produção do craque Neil Kernon, e o single e videoclipe “Skin to Skin”, seus quinze minutos de fama na programação da MTV. Um ponto-final na breve trajetória do grupo natural da Filadélfia seria colocado em 1992, em meio a gravações-teste de seu segundo álbum, para a Capitol.
Em 1998, Mark Evans (vocais), Reggie Wu (guitarra), Steve Parry (guitarra), George “G.G.” Guidotti (baixo) e Dave Rath (bateria) se reuniram para concluir o trabalho iniciado seis anos antes, lançando-o sob a alcunha de “Some Other Place, Some Other Time” pelo selo alemão MTM. Os cinco se juntariam outra vez para contribuir com uma versão de “Don’t Go Away Mad (Just Go Away)”, do Mötley Crüe, presente no tributo “Kickstart My Heart” (1999).Só em 2013, ano do show no Firefest X, na Inglaterra, que o Heavens Edge voltou, de fato, a existir.
Mas nem tanto: a “existência” ficou restrita a apresentações esporádicas no circuito saudosista de festivais, como o M3 e o Monsters of Rock Cruise. “Seria difícil me dedicar a isso. Tenho um filho no ensino médio e se preparando para ir para a faculdade, logo, minha prioridade tem que ser minha família. Mas nunca se sabe” foi o que disse Wu a este jornalista, em junho de 2020, quando perguntado se existia alguma perspectiva de um novo álbum da banda em um futuro próximo.
Passados quase três anos dessa entrevista, eis que um novo álbum do Heavens Edge está finalmente vendo a luz do dia.
Não só isso. “Get It Right” chama a atenção por, simultaneamente, representar continuidade e desbravamento de novas possibilidades sonoras por meio do emprego de elementos típicos de um rock mais hodierno. Marca, também, a estreia do baixista Jaron Gulino, dos pouco conhecidos Tantric e Mach 22, substituindo Guidotti, que morreu de câncer em 2019.
Os malabarismos de Wu nas seis cordas seguem como fio condutor das músicas; aqui, o cara se supera entregando solos de deixar boquiaberto. Mas o vocal de Evans é o que mais surpreende. O tempo não passou para ele, que segue cantando como nos áureos tempos. Convenhamos que Mark nunca foi cantor dos mais operísticos, mas é justamente isso que torna sua voz tão acessível e custosa de enjoar.
Saudosistas das produções megapasteurizadas e inundadas de teclados darão pela falta do instrumento na linha de frente, mas não poderão se queixar da ausência de baladas; uma delas, “What Could’ve Been”, inclusive é forte candidata a melhor canção de amor já registrada pela banda. A vibe é totalmente Def Leppard, mas não aquele sofrido dos anos 1980, e sim o mais esperançoso da década seguinte.
A crueza dá o tom em “Nothing Left but Goodbye” (violão + slide guitar é uma combinação vencedora) e “9 Lives (My Immortal Life)”. Já “Raise ‘Em Up” e “Beautiful Disguise” soam como gêmeas univitelinas, concebidas conforme os ditames do hard europeu do novo milênio. E como definir “Dirty Little Secret” e a derradeira “I’m Not the One” de outra maneira que não “o mais perfeito exemplo de que o Heavens Edge não parou no tempo, mas foi incapaz de virar as costas para os seus fãs que, provavelmente, pararam”?
Só o tempo dirá se “Get It Right” será o capítulo inaugural de uma nova fase para a banda. Afinal de contas, a essa altura o filho de Wu já deve estar na metade da graduação. Acompanhemos.
Ouça “Get It Right” a seguir, via Spotify.
Heavens Edge – “Get It Right”
1. Had Enough
2. Gone Gone Gone
3. Nothing Left But Goodbye
4. What Could’ve Been
5. When The Lights Go Down
6. Raise ‘Em Up
7. 9 Lives (My Immortal Life)
8. Dirty Little Secrets
9. Beautiful Disguise
10. I’m Not The One
Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Twitter | Facebook | YouTube.