Por anos, Marcus Menna foi o vocalista do LS Jack, banda fenômeno do pop rock nacional. Entre os hits emplacados, “Amanhã Não Se Sabe”, “Sem Radar”, “Uma Carta” e o maior de todos, “Carla”, cuja onipresença nas paradas de videoclipes mais pedidos — tanto na MTV em tempos de “Disk MTV” quanto na Band, quando Sabrina Parlatore apresentava o “Clipemania” — a tornou o incontestável maior sucesso do grupo.
Só que o destino tinha outros planos para Menna que não colher todos os frutos possíveis e imaginários desse estouro. No que hoje ele, homem temente a Deus, chama de “interrupção divina”, uma lipoaspiração no abdômen malsucedida — em função de uma alergia a dipirona — quase lhe custou a vida. Ficou dois meses em coma após ter sofrido uma parada cardiorrespiratória.
Passados quase vinte anos, ele ainda enfrenta as sequelas do procedimento. Nada que o impeça, porém, de retomar sua carreira a passos tímidos.
Após participações em trabalhos de terceiros, músicas lançadas em parceria com outros artistas e até mesmo um ou outro número autoral, Menna, hoje com 46 anos, se prepara para cair na estrada num giro apropriadamente denominado “Tudo de Novo”. Foram anunciadas quatro datas, a saber:
- 29/07 – Spasso Buffet (Barra do Garças, MT)
- 11/08 – Evento corporativo (Rio de Janeiro, RJ)
- 18/08 – Evento corporativo (Florianópolis, SC)
- 04/10 – Blue Note (São Paulo, SP)
Diretamente do RS, onde se prepara para o que está por vir, ele conversou com IgorMiranda.com.br, e você confere abaixo tudo o que foi dito.
“Voltar a contar a minha história”
“Amarradão” e “ansioso” são as palavras que Menna escolhe para definir sua expectativa para um ano que promete muito.
“Voltar aos palcos, voltar a contar a minha história… Tive aquela… vou chamar de ‘interrupção divina’, que me deu uma freada, mas eu vou voltar para fazer o meu rock and roll.”
Menna encontra-se numa espécie de pré-temporada no Rio Grande do Sul. Sob cuidados de diversos especialistas, inclusive de um preparador vocal, ele, que está “louco para subir num palco”, visa não apenas a surpreender os fãs, mas também dar um tapa na cara dos descrentes.
“Está sendo maneiríssima essa preparação aqui na clínica Humani. Estou me reabilitando na parte vocal com várias fonos [fonoaudiólogas] e também com aulas de canto [remotas] com meu professor Wilson Gava.”
A vindoura turnê se chama “Tudo de Novo”, nome com dupla interpretação: tanto no sentido de fazer mais uma vez o que já se fez quanto no sentido de tudo renovado, uma lufada de ar fresco, por assim dizer. Estão previstos ainda os lançamentos de músicas novas ao longo do ano. Menna foge de dar maiores detalhes, mas confirma as razões para disponibilizar uma canção por vez:
“Já estou com uma canção praticamente pronta. Quando voltar a São Paulo, vou gravá-la. Serão essa e mais cinco até o fim do ano. A lógica é a mesma de quando eu trabalhava com o LS Jack: embora houvesse o CD com várias canções, a gente sempre dava uma priorizada em algumas delas, para extrair o máximo possível de cada uma delas.”
“Disco de ouro é só um objeto”
Os números comprovam que a estratégia deu muito certo para o LS Jack. Mas apesar das boas vendagens de seus cinco álbuns de estúdio da fase Menna — “LS Jack” (1999), “Olho por Olho, Gente por Gente” (2000), “V.I.B.E.” (2002), “Tudo Outra Vez” (2003) e “Jardim de Cores” (2004) —, o momento mais especial, para o vocalista, não foi um dos muitos discos de ouro que recebeu sob gritos de “lindo, tesão, bonito e gostosão” em programas de auditório, mas sim um show específico, num ambiente não muito rock and roll:
“O show no Festival de Verão de Salvador [em 2004]. Aquele show… acho que a gente conseguiu passar para a galera o rock and roll de verdade, mas com aquelas misturas que a gente sempre curtiu.”
Mencionar um show em uma resposta em que normalmente outros artistas mencionariam um feito mais “mercado” diz muito a respeito de como ele encara a música: um encontro do artista com o público.
“O momento final para mim é esse, o show. Disco de ouro é legal, é uma realização, mas é só um objeto que fica pendurado na parede de casa, que eu olho e penso: ‘pô, que legal, conquistei isso aqui, maneiro’. Mas a troca de energia [com o público num show], estar sobre o palco cantando para a maior galera cantando junto com você? Não tem nada igual.”
Apesar de ter boas músicas, um dos principais argumentos de venda do LS Jack era justamente a aparência de seu vocalista. Menna reluta um pouco em aceitar o título de “galã”, embora reconheça que “É… isso fez parte…”. Também afirma que, ao contrário do que se pode pressupor:
“Nunca tive nenhum problema [para lidar com o assédio das fãs]. Comigo sempre foi tranquilo!”
Depois de anos parado, o LS Jack retomou as atividades trazendo o cantor Vinny, do sucesso “Heloísa, Mexe a Cadeira”, no lugar de Menna. Um primeiro álbum chegou até a ser lançado e shows vêm sendo feitos no Brasil e fora. Peço para que Marcus comente brevemente sobre, mas após revirar os olhos, coçar a cabeça e ponderar a respeito, o ‘não’:
“Não queria falar sobre isso, cara. Numa boa, mas não queria.”
“Sem minha família, nada seria possível”
Quase vinte anos se passaram desde a “interrupção divina” que tirou Marcus Menna de circulação e o sujeitou a sequelas permanentes. Não obstante os percalços, ele minimiza: “Foi uma doideira, né?”. Da mesma forma, ele não se enxerga como “sobrevivente”, mas sim como um exemplo de “superação”.
Mas por quê “interrupção divina”? Teria Deus, à Sua maneira, o livrado de um caminho tortuoso? Era necessária uma interrupção?
“Deus sabe o que faz, né? Quem somos nós para duvidar dos planos d’Ele. Acho que Ele viu que a longo prazo ‘daria ruim’ e de, alguma maneira, decidiu me segurar e me propôs um caminho de superação. Eu encaro dessa maneira.”
A vida de Menna após a parada cardiorrespiratória, inevitavelmente, se tornou exemplo e fonte de inspiração para quem, como ele, sobreviveu a algo semelhante e busca voltar do ponto onde parou. O músico aponta que tal retomada, após tanto sucesso feito no passado, nem ajuda nem atrapalha. Mas ele sente que há, sim, resistência do público a ouvir músicas novas. Por outro lado, isso não o incomoda:
“São canções, minhas canções, fazem parte do meu trabalho. Então [sempre que as pessoas quiserem ouvi-las], eu vou tocar. Mas não vou deixar de tocar outras mais novas, não!”
“As distâncias foram encurtadas”
Renovação de repertório, mas também de fãs. Graças às novas mídias, inexistentes na década de 1990 e incipientes nos anos 2000, as possibilidades de divulgação se ampliaram para os artistas. Marcus Menna concorda e sente que isso está fazendo mais pessoas se interessarem por sua história e sua carreira:
“Potencializou tudo, né? Hoje em dia, está tudo na palma da mão, no celular. Você está no Rio [de Janeiro] e eu estou aqui [no Rio Grande do Sul]. Não sei quantas milhares de pessoas vão conferir esse bate-papo. Esse alcance [da internet] é surreal; uniu não só artista e fã, mas os seres humanos como um todo estão muito mais conectados. As distâncias foram encurtadas.”
O artista cita a internet como facilitador ao refletir sobre as lições mais valiosas que aprendeu em três décadas de indústria fonográfica e do entretenimento — tanto sobre como conduzir a carreira quanto sobre o funcionamento da indústria em si.
“A maior lição foi como, sem internet, encontrar uma galera que gostasse do seu trabalho. Isso foi realmente complicado, mas o mundo caminhou, as coisas mudaram e vão continuar mudando.”
E quanto a sonhos? O que Menna ainda almeja conquistar enquanto artista?
“Meu objetivo máximo é o mesmo de todos nós: conquistar o mundo, a galera toda, abraçar esse nosso mundão.”
“Queira mudar o mundo, mas se mudar o de alguém, já valeu a pena”?
“Exatamente! Vou roubar essa frase, inclusive!”
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