Os 10 discos que mudaram a vida de Marty Friedman

Hard rock setentista, punk e música pop japonesa compõem o caldeirão de influências de um dos maiores guitarristas do heavy metal

Mais conhecido no mundo ocidental por seu trabalho com o Megadeth, o guitarrista Marty Friedman possui uma carreira consolidada no Japão, onde é uma estrela televisiva, além de colaborar com artistas locais.

Porém, sua carreira vai muito além, tendo iniciado nos anos 1980, quando colaborou com Jason Becker no projeto Cacophony. Sendo assim, várias de suas influências datam de décadas posteriores.

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Em 2016, o músico escolheu 10 álbuns que mudaram sua vida durante entrevista à Classic Rock. São eles:

Kiss – Alive! (1975): “Mudou praticamente tudo para mim. Até o momento em que ouvi esse disco, eu queria praticar esportes, o que era um pouco irreal. Ao escutar ‘Kiss Alive!’ soube que precisaria aprender guitarra. A coisa toda era divertida e emocionante. Eu irritava toda a minha vizinhança com o álbum e depois os irritava tocando as músicas dele na guitarra. Na época, era muito importante conseguir acertar cada lick. Meus amigos sentiram o mesmo. Foi realmente inspirador.”

Raven – Wiped Out (1982): “Eles tocavam uma versão mais pesada de Kiss e Ramones, parecia uma coisa totalmente nova em um período que o heavy metal já estava virando uma caricatura de si mesmo. Mesmo algumas das bandas da New Wave of British Heavy Metal que eu curtia se desgastaram depois de um tempo. As pessoas estavam escrevendo letras sobre duendes, demônios e coisas assim – era um pouco cafona. O Raven era mais realista em suas imagens de uma maneira que eu poderia me relacionar.

Além disso, a música era selvagem, louca e rápida, com muitas mudanças de fórmula de compasso e execução. Era muito legal ouvir uma banda que não tocava os mesmos velhos licks, além de escrever letras que não eram sobre fantasmas, Satanás e essas m*rdas.”

Black Sabbath – Sabotage (1975): “Bem quando eu ouvia muito Kiss, conheci Black Sabbath e pensei: ‘Nossa, isso é pesado!’ Quem diria que uma guitarra poderia soar tão grossa e ameaçadora assim? Nada até aquele ponto parecia tão perigoso. Foi muito revelador para mim. Assim como o ‘Kiss Alive!’, toquei esse disco constantemente e tentei copiar todos os licks de Tony Iommi. Foi uma verdadeira revelação descobrir essas coisas. Muitas das partes eram relativamente simples e isso me fez entender que uma boa música não precisa ser traiçoeira ou complicada.”

Aya Matsuura – T.W.O. (2003): “Quando você é um músico estabelecido, é provável que suas influências estejam gravadas em pedra. Os artistas que o inspiraram já entraram na sua música e você simplesmente se ramifica a partir daí. Mas tive a mesma sensação ao ouvir Aya Matsurra quanto ao ouvir Kiss quando criança. Foi como um novo começo para mim.

Ela tem muitos discos que me impressionaram, mas esse é como o ‘Kiss Alive!’ de J-pop, por assim dizer. Não é rock’n’roll ou metal, é pop puro. Mas, à sua maneira, é completamente exagerado. O produtor, Tsunku, é provavelmente meu profissional japonês favorito da função. Este álbum é uma montanha-russa musical. Todos os tipos de coisas estão surgindo o tempo todo; faz curvas selvagens para a direita e para a esquerda, totalmente inesperadas. Seus ouvidos nunca se cansam. Esse disco fez eu me interessar muito pela música japonesa e, consequentemente, me mudei para o Japão. Recomendo a qualquer um que queira ter sua mente explodida.”

Ramones – Leave Home (1977): “O Ramones é, provavelmente, minha maior influência musical. Amo muitos de seus discos, mas ‘Leave Home’ foi o primeiro que comprei. Ele me nocauteou. Sou um grande fã de qualquer coisa dos anos 50. O Ramones pegou essa sensibilidade e a colocou em grandes e altas guitarras distorcidas. Que movimento brilhante.

Aprendi todas as músicas deles, o que acabou sendo ótimo para mim. Tocar um álbum inteiro do Ramones foi mais um treino do que a maioria dos outros álbuns de rock. Como resultado, meu nível de resistência ficou bem alto. É algo simples, mas poderoso. Não consigo pensar em nada que soe tão bem.”

Garbage – Garbage (1995): “Aqui está outro que me inspirou mais tarde na minha carreira. Todos os álbuns do Garbage são fantásticos, mas a estreia teve o primeiro e talvez o maior impacto em mim. Como guitarrista, meu próprio estilo foi muito bem elaborado por um tempo, então foi muito legal ouvir esse disco e começar a repensar o que eu estava fazendo no instrumento.

Toda a existência da guitarra neste disco – e todos os outros – é criativa e bonita. Parecia responder a um conjunto de perguntas que eu nem sabia que estava fazendo. Direta e indiretamente, aprendi muito sobre o que precisava fazer com minha própria forma de tocar.”

Elvis Presley – Elvis ’56 (1996): “O rei. Elvis é meu artista favorito de todos os tempos, embora não seja realmente um artista – ele é mais como uma figura divina. Você não pode nem comparar outras pessoas com Elvis. Ele é quase a única coisa que importa na música. Isso não é uma afirmação muito ousada, é?

Sou fã de todo o trabalho, mas adoro especialmente as primeiras coisas, quando ele assinou com Victor. ‘Elvis ’56’ é uma compilação repleta de grandes sucessos e está disponível em um pacote lindamente remasterizado. É lindo de se ouvir – você se sente como se estivesse no estúdio.

Isso mostra quanta música histórica foi feita por um cara em apenas um ano. E do ponto de vista da guitarra, Scotty Moore toca nessas coisas, e ele é um gênio. Gravou partes muito saborosas, inteligentes e memoráveis, que eram bem diferentes da maioria dos licks country comuns que todo mundo estava fazendo.”

Misora Hibari – Kanashii Sake (1966): “Outra artista extremamente influente. Misora Hibari é provavelmente a cantora mais famosa da história do Japão. A voz dela é uma das coisas que tento imitar quando toco guitarra. Se existe um Deus, a voz de Misora passa por Ele e pelos céus e nos alcança através dela.

No segundo em que você a ouve, isso te atinge de uma forma tão profunda. Você apenas senta lá e diz: ‘Eu não sabia que nada poderia ser tão lindo’. Sempre pensei que adoraria que alguém dissesse algo assim sobre minha forma de tocar guitarra. Portanto, o óbvio era tentar imitar sua abordagem vocal da melhor maneira possível. Eu tenho feito isso por muitos, muitos anos.”

https://www.youtube.com/watch?v=jI28YPfmZVA&pp=ygUfTWlzb3JhIEhpYmFyaSDigJMgS2FuYXNoaWkgU2FrZQ%3D%3D

Mahogany Rush – Live (1978): “Vamos voltar ao modo guitarra. Quando eu era criança, gostava de rock’n’roll como o Kiss. Muitos dos outros guitarristas gostavam de blues, mas eu simplesmente não podia ir para lá. A coisa do blues não encontrou lugar na minha experiência. Talvez eu fosse muito jovem.

Mas então ouvi Frank Marino e Mahogany Rush e entendi. Percebi que tocar blues poderia ser tão excitante quanto qualquer uma das bandas de rock agressivas de que eu gostava. A música da guitarra fluiu dele naturalmente, não estava colocando nenhum tipo de fachada. À sua maneira, deu muita vida a um gênero cansado.

Muitas das outras coisas do blues passaram pela minha cabeça. Talvez eu fosse apenas um garoto típico dos subúrbios – eu não tinha tristeza. Frank apresentou o estilo para mim de uma maneira muito nova e enérgica com a qual eu poderia me relacionar.”

Beach Boys – Endless Summer (1974): “Se você aprender todas as músicas dos Beach Boys, terá tudo o que precisa saber sobre estrutura de acordes e harmonia. A coisa mais genial é escrever algo muito complexo que soe totalmente simples e fácil de ouvir. Brian Wilson é o rei disso. A música parece fácil, mas você sabe que criá-la foi tudo menos indolor.

Se pensar em algumas das músicas da época, algo como ‘Don’t Worry Baby’ se destaca – que melodia interessante! Há tantas reviravoltas nas mudanças de acordes simples, e você pensa: ‘Como é que ninguém mais pensou nisso?’ Os Beach Boys até fizeram refrões que não estavam no mesmo tom dos versos, mas não soaram fora lugar. Realmente, esta é uma das melhores composições de todos os tempos.”

Marty Friedman atualmente

Recentemente, Marty Friedman se reuniu com o Megadeth durante o show da banda no Budokan Hall, em Tóquio. Na sequência, viajou para a América do Norte, abrindo a atual turnê do Queensrÿche.

Seu álbum solo mais recente é “Tokyo Jukebox 3”, lançado em 2021.

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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