Todo disco do Swans desde 2010 é uma maratona. Desde o retorno, o grupo comandado por Michael Gira desde os anos 1980 tem se concentrado em uma sonoridade insistente, construída ao longo de dezenas de minutos e repetição constante. Um álbum de 90 minutos é curto para os padrões modernos da banda.
“The Beggar”, o 16º lançamento de estúdio do Swans, continua essa tendência ao atingir 121 minutos e 37 segundos. Entretanto, o ouvinte é recebido inicialmente por um dos trabalhos mais serenos da carreira recente da banda, evocativo do disco solo de Gira “Drainland” (1995) e do Angels of Light, projeto acústico formado pelo cantor e compositor durante o hiato do grupo.
Michael Gira sempre foi um hábil usuário de dinâmicas, mas “The Beggar” ao longo de seus primeiros 80 minutos é marcado por uma subida constante e árdua, buscando por transcendência.
As canções, à medida que crescem, ganham contornos mais gospel, reminiscentes da psicodelia maximalista do Spiritualized. Em “Michael is Done”, o arranjo explode numa “wall of sound” digna de Phil Spector em sua segunda metade. O impacto é tão forte a ponto do sol parecer ficar mais forte na janela durante a audição.
E a letra ecoa a busca por transcendência na forma de uma metáfora de metamorfose:
“While cracking his lens
He is breaking his hands
Growing wings from his back
Michael sinks in his sackWhen Michael is gone
Some other will come”[“Enquanto quebra sua lente
Ele quebra suas mãos
Crescendo asas de duas costas
Michael afunda em seu sacoQuando Michael se for
Algum outro virá”]
Toda essa escalada chega ao seu ápice em “The Beggar Lover (Three)”, uma odisseia aterrorizante com mais de 43 minutos, construída com trechos instrumentais drone opressores intercalados com passagens onde o passado industrial do Swans ressurge em toda sua glória. Lembra a música feita pela banda no final dos anos 1980 e os melhores momentos da obra pós-retorno do grupo em 2010.
A isso se somam monólogos da esposa do líder do Swans, Jennifer Gira; cantigas de ninar entoadas tanto por Michael e a filha pequena dos dois, Saoirse; além de um mantra entoado pelo cantor nos últimos sete minutos da faixa. Para o grupo, isso é um epílogo curto.
No final, por mais que “The Beggar Lover (Three)” seja um baixa clímax, só tem uma faixa após isso – e fica o gosto de “quero mais” após tanta subida. É como uma montanha russa que sobe até cem metros de altura e só tem um loop depois.
Ouça “The Beggar” a seguir, via Spotify.
Swans – “The Beggar”
- The Parasite
- Paradise Is Mine
- Los Angeles: City of Death
- Michael is Done
- Unforming
- The Beggar
- No More Of This
- Ebbing
- Why Can’t I Have What I Want Any Time That I Want?
- The Beggar Lover (Three)
- The Memorious
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