Você pode não reconhecer o nome, mas Blake Mills é um dos guitarristas americanos mais influentes da última década. Além de sua carreira como cantor e compositor, ele tocou com artistas do calibre de Jenny Lewis, Julian Casablancas, Sara Bareilles, Kid Rock, Diana Krall, Norah Jones, Robbie Williams, Sky Ferreira, Ed Sheeran e Neil Diamond, se estabelecendo como um dos músicos de estúdio de maior demanda de Los Angeles.
Antes sequer que o grande público soubesse quem ele era, Mills aparecia em vídeos destacando os principais guitarristas americanos, como era o caso do finado programa Guitar Moves, da Vice, apresentado por Matt Sweeney (ex-Chavez e Zwan).
Não satisfeito com suas conquistas, Blake se voltou à produção, sendo responsável por discos de John Legend, Alabama Shakes, Fiona Apple, Perfume Genius, Feist, Jack Johnson e Marcus Mumford.
A essa altura, o músico ficou conhecido por sua estética lo-fi sofisticada, com amplificadores convertidos de outros usos, além de violões e guitarras com rastilhos de borracha tomando preferência sobre equipamento mais hi-fi. Seu trabalho também apresentava acordes mais jazzísticos e uso de texturas nos arranjos. Barulho era algo a ser usado com precisão.
A culminação desse estilo é talvez o excelente “Notes With Attachments” (2022), gravado com o lendário baixista Pino Palladino. Os dois criaram um trabalho cheio de grooves inspirados por música da África Ocidental, usando até instrumentos característicos da região.
Parceria
Entretanto, ao longo de seus discos solo – “Blake Mills” (2010), “Heigh Ho” (2014), “Look” (2018) e “Mutable Set” (2020) –, Blake Mills parecia estar deixando noções mais tradicionais de guitarra para trás, buscando algo mais próximo do minimalismo. Enquanto isso, um monte de gente corria para copiar seu estilo. Entrar em cena Chris Weisman, um músico jazz de Vermont com quem Mills desenvolveu amizade e colaborações ao longo da pandemia.
Apesar de ter uma carreira prolífica baseada em improvisação e experimentação, Weisman se mostrou interessado em ver como Mills aplicaria as lições aprendidas nessa jornada para longe da guitarra num retorno ao instrumento. O primeiro lugar onde os dois colocaram essa ideia em teste foi num dos projetos mais mainstream do qual Blake esteve envolvido: a trilha sonora de “Daisy Jones & The Six”, série da Amazon.
O músico foi o principal produtor e coautor de todas as canções originais do álbum fictício “Aurora”, feito pela banda cuja série leva o nome. Esse trabalho o traz brevemente de volta ao seu estilo anterior, mas dava pistas para onde poderia ir.
O futuro chegou
Nesse caso, o futuro começa por “Jelly Road”, novo álbum solo de Blake Mills, construído em conjunto com Chris Weisman. Enquanto “Aurora” oferece um olhar revisionista sobre o soft rock dos anos 70, esse disco parece mais interessado em explorar como expandir ideias encontradas nos trabalhos de artistas como Joni Mitchell nesse período, como “Court and Spark” (1974) e “Hejira” (1976).
Não que seja particularmente influenciado pelo trabalho de Mitchell, diga-se de passagem. As 12 faixas de “Jelly Road” parecem existir num mundo paralelo, uma representação surrealista do oeste, das fantasias de quem foi rumo ao pôr do sol nos Estados Unidos em busca de uma vida melhor.
O clima é brincalhão, com guitarras e baixos fretless convivendo junto a percussão de brinquedo, sintetizadores e instrumentos de sopro. Contudo, quando Mills se permite fazer solos de guitarra — como é o caso em “Skeleton is Walking” e “Breakthrough Moon” —, os cabelos do braço do ouvinte levantam em ação.
Esses momentos pontuais de espalhafato servem para trazer a beleza sutil de “Jelly Road” em foco. As canções são todas construídas num ritmo gentil, nunca além da velocidade de uma lenta cavalgada, mas ainda assim carregam muitas dimensões. Outra comparação fácil de fazer é o senso de americana do Grateful Dead, mas ainda assim o álbum não soa remotamente como a banda liderada por Jerry Garcia.
“Jelly Road”, no fim das contas, se mostra uma nova evolução na carreira de Blake Mills. Além de ser um produtor conhecido por sua sonoridade característica, ele vai se tornando também um cantor e compositor único, com suas idiossincrasias capazes de fazer o ouvinte voltar para descobrir novas coisas a cada audição.
Ouça “Jelly Road” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.
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