Não são poucos os casos conhecidos de pessoas famosas que abandonaram temporariamente ou em definitivo suas carreiras após conversões ou encontros íntimos com a fé. No mundo do rock, um dos primeiros a tomar tal atitude foi Jeremy Spencer. O músico inglês participou das primeiras formações do Fleetwood Mac, tocando guitarra slide e piano.
Sua entrada no grupo se deu após ser notado pelo guitarrista Peter Green, ex-Bluesbreakers, que buscava integrantes para sua nova banda. A ideia era contar com um segundo nome no instrumento, preenchendo os espaços nas apresentações. À época, o baterista Mick Fleetwood já estava envolvido, com o baixo sendo tocado por Bob Brunning – que logo cederia seu espaço a John McVie.
Mas apesar de ser um membro talentoso – com direito a assumir vocais em algumas faixas –, Spencer não contribuía muito com as composições. Assim, Peter resolveu adicionar um terceiro guitarrista, entrando Danny Kirwan, então com apenas 18 anos. O entrosamento foi perfeito, fazendo com que Jeremy ficasse meio isolado na nova formação. Ao vivo, no entanto, sua participação ainda era fundamental, sendo um showman no palco.
Para compensar a pouca participação no grupo, Jeremy Spencer se tornou o primeiro integrante a lançar um disco solo. O trabalho homônimo saiu em 1970. Na metade do mesmo ano, Peter Green se afastou, já sofrendo com os problemas que o acompanhariam pelo resto da vida. Kirwan e Spencer intensificaram a parceria, o que resultou em uma série de colaborações para o quarto álbum, “Kiln House”.
Parecia o início de uma nova era. Porém, tudo estava prestes a mudar radicalmente.
Jeremy Spencer abandona o Fleetwood Mac
O Fleetwood Mac embarcou para uma turnê pelos Estados Unidos no início de 1971. À época, a tecladista Christine McVie já fazia parte do lineup – inicialmente como colaboradora, oficializada em seguida.
Sentindo-se deslocado, Jeremy passou a nutrir uma série de pensamentos relacionados a tomar novos rumos. Pessoas próximas contam que o músico costumava se isolar do restante. A coisa piorou no dia 9 de fevereiro, quando um terremoto na região da Califórnia pegou a todos desprevenidos. Spencer viu aquilo como um aviso. Chegou a implorar para que o restante dos shows fossem cancelados, o que não conseguiu.
Em um estado mental fragilizado e cheio de pensamentos intrusivos, chegou a Los Angeles no dia 15 do mesmo mês para uma apresentação no icônico Whisky A Go Go. Deixou o hotel sob o pretexto de ir visitar uma livraria na Hollywood Boulevard e não mais retornou. O concerto foi cancelado, com todos à sua procura.
Alguns dias mais tarde, foi encontrado junto com membros do grupo religioso Children of God (Meninos de Deus, hoje conhecido como Família Internacional). Declarou não ter mais qualquer interesse em seguir com o Fleetwood Mac. O manager, Cliffor Davis, pediu que ao menos Jeremy finalizasse os compromissos previamente assumidos. Sem sucesso, a decisão estava tomada. A solução foi chamar Peter Green de volta temporariamente. Posteriormente, Bob Welch assumiu a vaga.
Apesar de muitos rumores sobre ter sofrido lavagem cerebral, Spencer sempre afirmou que ingressou na organização por sua própria vontade. Ele foi abordado por um jovem chamado Apolo, com quem conversou sobre Deus. Então, recebeu o convite para ir a uma missão próxima, onde outros membros estavam hospedados. Após refletir, se convenceu de que essa mudança de direção era o melhor caminho a seguir.
Apesar de continuar confiante de que fez a escolha certa, Jeremy reconheceu que a maneira como saiu da banda foi lamentável. Disse ele à revista Classic Rock, em março de 2006:
“A forma como saí foi um erro. Eu deveria ter contado a eles imediatamente. Mas estava desesperado.”
Sequência da carreira
Jeremy Spencer seguiu a carreira com lançamentos esporádicos. Morou em vários países colaborando com a Children of God – incluindo o Brasil, onde permaneceu entre 1975 e 1977. Até hoje é um colaborador da organização como escritor e ilustrador de livros.
Em 1998 foi um dos induzidos ao Rock and Roll Hall of Fame com o Fleetwood Mac. Reencontrou os antigos colegas quando participou do documentário “Peter Green: Man of the World”. Apesar de alguns rumores pipocarem de tempos em tempos, uma reunião nos palcos jamais se concretizou.
Sobre a Família Internacional
Fundada em 1968 na Califórnia, a Família Internacional teve seus primeiros convertidos saídos do movimento hippie. O movimento prega a salvação, apocalipticismo e a revolução espiritual contra o mundo exterior, que chamam de “O Sistema”.
Em 1974, implantou um método de evangelismo chamado Flirty Fishing, que usava o sexo para demonstrar o amor de Deus e ganhar conversões. A prática foi interrompida em 1987, após várias denúncias de condutas abusivas, inclusive contra menores.
Seu fundador e líder profético, David Berg, se comunicava com seus seguidores via cartas de instrução e conselho sobre tópicos espirituais e práticos. Faleceu em 1994. Depois de sua morte, sua viúva Karen Zerby se tornou a líder.
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