A história de J. Robert Oppenheimer, cientista que inspira novo filme

Físico ajudou a desenvolver as primeiras armas nucleares da história - e logo se arrependeu do que fez

Oppenheimer” é o mais novo trabalho do diretor Christopher Nolan, um dos cineastas mais aclamados e elogiados dos últimos tempos. A cinebiografia narra a vida do físico J. Robert Oppenheimer, que ajudou a desenvolver as primeiras armas nucleares da história – ao ponto de ganhar a alcunha de “pai da bomba atômica”.

O físico foi um dos nomes mais importantes do meio acadêmico na primeira metade do século passado e tinha conhecimentos bem avançados em diversas áreas, se tornando pioneiro em algumas delas. Contudo, por mais que tivesse ajudado a criar as primeiras armas nucleares, se arrependeu da criação logo em seguida.

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A seguir, vamos contar a história de J. Robert Oppenheimer para que você conheça melhor a vida do físico antes de conferir o filme.

Primeiros anos de J. Robert Oppenheimer

Julius Robert Oppenheimer nasceu em 22 de abril de 1904, na cidade de Nova York. Sua mãe, Ella, era pintora; seu pai, Julius Seligmann, executivo da indústria têxtil e imigrante judeu que nasceu no Reino da Prússia. 

Oppenheimer se formou em química na prestigiada Universidade Harvard em 1925. Depois, se mudou para a Europa e passou a estudar física nas universidades de Cambridge, no Reino Unido, e Gottingen, na Alemanha. Foi durante sua estadia na segunda instituição que o físico se tornou aluno de Max Born, com quem desenvolveu diversos estudos na área de física teórica.

Oppenheimer retornou aos Estados Unidos em 1927 e se tornou professor na Universidade da Califórnia em Berkeley e no Instituto de Tecnologia da Califórnia. Ao mesmo tempo, passou a realizar importantes estudos nas áreas de astronomia teórica, física nuclear, espectroscopia, teoria quântica de campos, entre outras. Muitos dos seus trabalhos ajudaram a prever várias descobertas feitas anos depois, como a existência de nêutrons e pósitrons

O físico ficou conhecido por ser um fumante compulsivo, seu hábito de se negar a comer em períodos de concentração e pensamentos intensos, algumas tendências autodestrutivas e períodos de depressão. Chegou ao ponto de dizer para seu irmão, em uma ocasião, que “precisava mais da física do que de amigos”.

Foto: Ed Westcott

Do ponto de vista pessoal, o físico se casou com Katherine “Kitty” Puening, estudante da Universidade da Califórnia, em 1940 e tiveram dois filhos juntos. Oppenheimer era simpatizante de políticas de esquerda – a própria esposa chegou a se filiar ao Partido Comunista americano -, o que lhe causou alguns problemas anos depois.

“Pai da bomba atômica”

A vida de J. Robert Oppenheimer mudou em 1941. Foi no ano em questão que o então presidente americano, Franklin Roosevelt, aprovou a criação de um projeto para desenvolver uma bomba atômica. O programa ganhou vida em junho de 1942, com o surgimento do famoso Projeto Manhattan, que produziu as primeiras armas nucleares da história. 

Por conta dos seus trabalhos, o físico foi convidado pelo programa para estudar as reações em cadeia de nêutrons, que eram necessárias para o desenvolvimento de um bomba atômica. O físico foi um dos responsáveis pela ideia de desenvolver o projeto a um local remoto, tanto por questões de segurança quanto para garantir que o trabalho estivesse centralizado em um único local. Desta forma, surgiu o famoso laboratório de Los Alamos, que ficava em um deserto de difícil acesso no estado americano do Novo México.

Não demorou muito para Oppenheimer se tornar o diretor do laboratório, que cresceu ao ponto de contar com 6 mil pessoas em 1945. Foi ele o responsável por escolher a equipe que conduziria a parte científica do projeto e decidir como que uma bomba atômica seria construída.

Oppenheimer se envolveu tanto com o Projeto Manhattan que passou a morar perto do laboratório de Los Alamos. Ele também ficou conhecido por seus conhecimentos avançados em todas as áreas científicas do programa – por consequência, passou a ser bastante admirado por seus colegas – e sua habilidade de controlar as conflitantes diferenças culturais entre militares e cientistas no local.

Foto: Los Alamos National Laboratory

Todo o trabalho do projeto resultou na primeira explosão nuclear da história, que aconteceu em um deserto do Novo México em 16 de julho de 1945. Ela recebeu o nome de “Experiência Trinity”, codinome que foi dado pelo próprio J. Robert Oppenheimer, e foi bem-sucedida. 

Enquanto testemunhava a explosão, o físico disse aquela que pode ser considerada a frase mais famosa de sua carreira. Se tratava de um verso do “Bhagavad Gita”, uma escritura do hinduísmo, que pode ser traduzido da seguinte forma:

“Agora me tornei a morte, o destruidor de mundos.”

Primeiros estágios da experiência (foto: Berlyn Brixner / Los Alamos National Laboratory)

Em 1965, ao ser questionado sobre a frase (que passou a usar no restante de sua vida), o físico explicou por que a mencionou durante o teste.

“Sabíamos que o mundo não seria mais o mesmo. Algumas pessoas riram, algumas pessoas choraram. A maior parte das pessoas ficou em silêncio. Me lembrei dessa frase da escritura hindu ‘Bhagavad Gita’, em que Vishnu (um das principais divindades da religião) tenta persuadir o Príncipe (Arjuna, protagonista de um famoso épico hindu) de que deve cumprir seu dever e que para impressioná-lo, assume sua forma armada e diz ‘agora, me tornei a morte, o destruidor de mundos’. Acredito que todos pensamos aquilo, de uma forma ou de outra.”

Apenas alguns dias mais tarde, em 6 de agosto de 1945, a cidade japonesa de Hiroshima foi a primeira a ser bombardeada por uma bomba atômica na história. Três dias mais tarde, o mesmo aconteceu com Nagasaki. Os dois acontecimentos colocaram um ponto final na Segunda Guerra Mundial.

Por conta do seu grande envolvimento no projeto, Oppenheimer acabou ganhando o apelido de “pai da bomba atômica”. No entanto, não demorou muito para o próprio físico se arrepender do que fez e ser mal visto pelo próprio governo americano.

Arrependimento, investigação e morte

J. Robert Oppenheimer e muitos dos seus colegas já não haviam concordado com a decisão dos militares de também bombardear Nagasaki. Tanto que apenas oito dias depois, J. Robert Oppenheimer foi até Washington entregar uma carta para o então Secretário de Guerra, Henry L. Stimson, em que expressou seu desejo de ver as armas nucleares banidas.

Em outubro de 1945, Oppenheimer conseguiu se encontrar com o então presidente americano, Harry Truman. A reunião não foi nada amigável: em um momento, o físico disse que se sentia “ter sangue nas mãos”, o que irritou Truman. O político encerrou o encontro e ainda disse o seguinte para seu Secretário de Estado:

“Eu não quero ver esse filho da p*ta nesse escritório nunca mais.”

Apesar do acontecido, Truman presenteou Oppenheimer com a Medalha do Mérito – uma das principais condecorações civis dos Estados Unidos – em 1946.

Em 1949, após a União Soviética conduzir seu primeiro teste com uma bomba atômica, os Estados Unidos começaram a discutir a possibilidade de desenvolver uma bomba de hidrogênio, considerada ainda mais poderosa. Oppenheimer já havia deixado bem claro, após o final da Segunda Guerra Mundial, que não aceitaria desenvolver este tipo de armamento por acreditar não haver necessidade e ciente de que poderia tirar inúmeras vidas por conta do seu poder.

Em 1952, Oppenheimer deixou de ser conselheiro de um comitê relacionado a questões nucleares do governo americano. Harry Truman se recusou a manter o físico no posto, pois queria pessoas que apoiassem o desenvolvimento da bomba de hidrogênio, algo que ele desejava.

Dois anos mais tarde, em 1954, J. Robert Oppenheimer passou por um processo em que teve toda sua vida investigada – uma consequência do Macarthismo, o famoso movimento criado pelo senador Joseph McCarthy para reprimir o comunismo e seus simpatizantes nos Estados Unidos.

Como dissemos anteriormente, o físico ficou conhecido por simpatizar com políticas de esquerda ao longo de sua vida e sua esposa chegou a se filiar ao Partido Comunista dos Estados Unidos – do qual seu irmão também fazia parte. Por conta disso, já era constantemente vigiado pelo FBI desde os anos 1940, assim como muitos de seus colegas e familiares.

No final das contas, o físico teve sua autorização de segurança revogada. Isso significava que Oppenheimer não poderia mais ter acesso a documentos e planos ultrassecretos do país, o que encerrou de vez qualquer associação sua com o governo americano.

Após o processo, J. Robert Oppenheimer voltou para a vida acadêmica. Passou os anos finais de sua vida dando aulas, participando de palestras ao redor do mundo e continuando com seus estudos na área da física.

Em 1965, Oppenheimer foi diagnosticado com câncer na garganta, fruto de anos como fumante compulsivo. Os tratamentos para a doença não funcionaram e o físico faleceu em 18 de fevereiro de 1967, aos 62 anos de idade.

J. Robert Oppenheimer era amigo de Albert Einstein?

Para terminarmos, o trailer de “Oppenheimer” chamou a atenção de muita gente por conta da presença de Albert Einstein (Tom Conti), considerado o cientista mais brilhante de todos os tempos. Mas afinal de contas, eles eram próximos ou não?

Oppenheimer e Einstein eram contemporâneos e pertenciam a diferentes gerações de físicos. Os dois estudavam áreas distintas, mas costumavam interagir um com o outro.

Foto: US Govt. Defense Threat Reduction Agency

A relação entre os dois se tornou mais próxima em 1947, quando se tornaram colegas no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de Princeton e mantiveram contato até a morte de Einstein, em 1955.

Segundo o próprio J. Robert Oppenheimer, ele e Albert Einstein eram “colegas próximos e meio que amigos”, uma prova de que a relação entre os dois chegou a ir além do trabalho. 

*Informações extraídas de Wikipédia, Screen Rant, CBR e Inverse.

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Formado em jornalismo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Atua no mercado desde 2013 e já realizou trabalhos como assessor de imprensa, redator, repórter web e analista de marketing. É fã de esportes, tecnologia, música e cultura pop, mas sempre aberto a adquirir qualquer tipo de conhecimento.

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