Steve Vai nunca foi conhecido fazer aquilo que parecia lógico e previsível. Após sua consagração com o genial “Passion and Warfare” (1990), que vendeu mais de um milhão de cópias apenas no ano de lançamento – algo quase surreal para um disco instrumental – imaginava-se que o guitarrista estabilizaria sua carreira por esse caminho, ainda mais após David Coverdale ter dado uma parada geral no Whitesnake.
Mas eis que ele anuncia a criação de uma banda, que levaria o seu sobrenome. Acompanhando-o estariam feras como o baixista T.M. Stevens (The Pretenders, James Brown, Joe Cocker, Cyndi Lauper, Tina Turner, Billy Joel) e o baterista Terry Bozzio (Frank Zappa, UK, Missing Persons), além do até então desconhecido Devin Townsend, que cuidaria dos vocais.
O mais curioso é que, nas demos que Steve ouviu antes de contratá-lo, Devin tinha como função principal justamente a de guitarrista. Mas acabou chamando a atenção por outra habilidade, que nem julgava ser assim tão entusiasmante aos ouvidos alheios. Além do mais, seu estilo era bem diferente em relação à proposta de Vai – basta dar uma conferida no Strapping Young Lad, Devin Townsend Band ou qualquer outro trabalho que ele tenha realizado e constatar.
“Sex & Religion” é uma obra um tanto quanto… excêntrica, para dizer o mínimo. Não é de fácil assimilação a ouvidos acostumados com músicas simples e diretas. Mas a cada escutada vai crescendo e se tornando mais apreciável, como se precisasse ser descoberto aos poucos pelo ouvinte.
E foi aí que muitos acabaram ficando pelo caminho. Mas era exatamente esse o objetivo inicial, o que fica claro desde a concepção do lineup, com cada músico tendo um background bem peculiar. Também é importante lembrar que estamos falando de um discípulo de Frank Zappa, o que não deixa de explicar muita coisa sobre diversidade e experimentações.
Dois singles foram lançados: “In My Dreams With You”, música que Steve compôs em parceria com o grande hitmaker Desmond Child (com um videoclipe espetacular, filmado todo de trás para a frente) e “Down Deep Into the Pain”, com sua letra “navalha na carne”, uma verdadeira viagem ao lado mais cruel da mente. Também se destacam “Still My Bleeding Heart”, com um violão marcando o ritmo e a faixa-título, trazendo vocais sobrepostos e um riff de primeira.
Infelizmente, a gravação do disco acabou tendo vários conflitos, especialmente quando Vai se deu conta que não conseguiria fazer aquilo a que se propôs, ou seja, trabalhar em grupo. O guitarrista acabou monopolizando demais o processo de criação, assinando dez das treze faixas sozinho. Hoje, sempre que fala sobre essa época, faz questão de assumir a culpa pelo projeto não ter dado certo.
Ainda assim, houve uma turnê do VAI, com Steve e Devin se juntando a músicos contratados que variaram durante a excursão. Entre eles, o baterista Abe Laboriel Jr, conhecido há anos como integrante da banda de Paul McCartney.
Apesar dos pesares, “Sex & Religion” teve fôlego suficiente para chegar ao top 50 nos Estados Unidos e em quatro charts europeus. E mesmo com todos os aspectos controversos ressaltados, merece ser escutado. Como o próprio protagonista define, o álbum é “uma verdadeira metamorfose psicológica”.
VAI – “Sex & Religion”
- Lançado em 27 de julho de 1993 pela Relativity Records
- Produzido por Steve Vai
Faixas:
- An Earth Dweller’s Return
- Here & Now
- In My Dreams With You
- Still My Bleeding Heart
- Sex & Religion
- Dirty Black Hole
- Touching Tongues
- State of Grace
- Survive
- Pig
- The Road to Mt. Calvary
- Down Deep into the Pain
- Rescue Me or Bury Me
- Just Cartilage (faixa bônus japonesa)
Músicos:
Steve Vai (guitarra, voz)
Devin Townsend (voz)
Terry Bozzio (bateria)
T.M. Stevens (baixo)
Kane Roberts (backing vocals)
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