Branco Mello revela como voltou a cantar após câncer na garganta

Vocalista e baixista do Titãs passou por intenso tratamento vocal para cantar na turnê de reunião da banda

Branco Mello descobriu um câncer na laringe em 2018. Com radioterapia e quimioterapia, o vocalista e baixista do Titãs conseguiu se recuperar. No entanto, anos mais tarde, em 2021, o tumor voltou. Desta vez, a única saída era a cirurgia. 

Como um profissional que precisa da voz, a possibilidade de nunca mais cantar ou falar após o procedimento – que envolvia a retirada do órgão afetado – afligiu o músico. Em depoimento ao jornalista Felipe Branco Cruz à revista Veja, ele descreveu os temores iniciais diante da situação.

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“Cantar sempre fez parte da minha vida e eu não tinha ideia de como ficaria minha voz e nem mesmo se voltaria a falar. Quando acordei da operação e ouvi da Angela, minha esposa há mais de trinta anos, que tudo correra bem e a equipe médica havia removido apenas metade da laringe — ou seja, a corda vocal direita pôde ser preservada —, fiquei tão feliz e aliviado que é difícil descrever em palavras. Eu teria uma voz e uma vida diferentes, mas estava vivo.”

A batalha não acabou por aí: em fevereiro do ano passado, Branco foi diagnosticado com um tumor na língua. Precisou passar por uma nova operação e, durante o processo, sofreu uma hemorragia, como relembrou. 

“Me internei para a retirada de outro tumor, desta vez na base da língua. Eu estava na UTI após a cirurgia quando sofri uma hemorragia e, antes de apagar, tive a sensação plena de que estava partindo. Cheguei a me despedir da Angela. Naquele momento me senti, surpreendentemente, sereno e em paz. Era uma sensação interessante e flashes da minha vida passaram pela minha cabeça. Felizmente, a hemorragia foi controlada e me recuperei. O amor e cumplicidade da Angela, dos meus filhos Bento, Joaquim e Diana e do nosso neto Pedro também foram fundamentais na minha recuperação.”

Branco Mello e a reunião

Quando quase recuperado, a ideia de reunir a formação clássica do Titãs para uma turnê em 2023 o empolgou. Na época, o artista ainda não era capaz de cantar novamente, mas estava disposto a contribuir com vocais no palco. Por isso, buscou alternativas e tratamentos, encontrando o cantor e fonoaudiólogo Gilberto Chaves, responsável por ajudá-lo.  

“Eu estaria feliz nem que fosse apenas tocando baixo e celebrando minha volta aos palcos. Ao longo do processo de recuperação, a Angela me apresentou Gilberto Chaves. Ele é cantor lírico, fonoaudiólogo e achou que eu poderia voltar a cantar. Partimos para fazer essa recuperação vocal para os shows. Eu já havia feito um tratamento intensivo com as fonoaudiólogas Irene Vartanian e Glaucya Madazio, de reeducação da deglutição e da voz. Quando os ensaios começaram, eu senti que já estava preparado para cantar minhas músicas e encarar todos os backing vocals.”

“Cabeça Dinossauro”, faixa-título do álbum lançado em 1986, desempenhou uma função importante. Foi a primeira música que Branco “encarou”. Pelas mudanças na própria voz, mais rouca, surpreendeu-se com o resultado. 

“Costumo dizer que, quando a gravei, lá nos anos 1980, minha ideia era cantá-la com uma voz parecida com a que tenho hoje. Outras canções, como ‘Eu Não Sei Fazer Música’, ’32 Dentes’, ‘Tô Cansado’ e ‘Flores’, por exemplo, ganharam nova dimensão e peso porque trazem a história da minha vida na nova voz.”

Ao se apresentar três vezes para um estádio lotado na capital paulista, o Allianz Parque, em junho último, o músico finalmente sentiu “uma sensação completa de felicidade”. Isso porque, além de todo contexto, o local tem um significado especial em sua história como palmeirense e também como filho. 

“Frequento o estádio desde criança com meu pai, que morreu justamente de um câncer na laringe, em 1985, e de repente, eu estava ali, acompanhado de toda a família, amigos e cantando novamente. Inesquecível.”

Mudanças na voz

Como mencionado, no pós-cirurgias, Branco Mello necessitou de muita preparação vocal para voltar a cantar. Ao longo do tratamento, notou uma mudança em seu timbre, mencionada pelo baterista Charles Gavin, em entrevista ao Uol.

“Foi um processo muito longo e muito doloroso, no qual ele poderia ter morrido. Ele poderia ter perdido a voz e poderia não falar mais. Ele fala isso agora: ‘eu tô com uma voz diferente, meio sexy’. Porque é uma voz rouca. E até tem brincadeiras, porque a gente leva o nosso humor ácido a sério: ‘agora você tá cantando que nem se você fosse um membro do Sepultura ou do Ratos de Porão’.”

No mesmo bate-papo, o integrante detalhou a parceria do colega com Gilberto Chaves, que estendeu-se para parte da banda.

“Branco disse: ‘vou voltar a cantar e estou com um excelente preparador vocal, chama-se Gilberto’. E ele que acompanhou a gente na turnê. Ele é um cantor do Teatro Municipal de São Paulo e, além de preparador vocal, é um fisioterapeuta da voz, da garganta, um cara extraordinário. Ele apresentou um trabalho tão sério e tão competente que os outros vocalistas aderiram também, então a preparação vocal antes do show era com todos os Titãs, alguns separados, mas outros juntos.”

Extensão da turnê Titãs Encontro

A sequência final de shows da turnê “Titãs Encontro” – que reúne Arnaldo Antunes, Branco Mello, Charles Gavin, Nando Reis, Paulo Miklos, Sérgio Britto e Tony Bellotto – foi anunciada recentemente. O planejamento é concluir no dia 23 de dezembro. As apresentações se distribuem entre cidades pelas quais a banda já passou e novos destinos, não contemplados no giro inicial.

Em nota, o grupo afirma que pretendia realizar apenas 10 shows na tour como um todo, mas os compromissos se multiplicaram de modo a compor um itinerário inicial de 22 datas pelo Brasil, reunindo um público aproximado de 600 mil pessoas. Agora, serão 30 performances em território nacional, além de outras três agendadas para o exterior.

Em outubro, os músicos partem para os Estados Unidos, onde sobem ao palco de casas de shows emblemáticas: o Hard Rock Live, em Hollywood na Flórida, no dia 3; e o Radio City Music Hall, em Nova York, no dia 6. Eles também têm uma data confirmada em Lisboa, na Altice Arena, em 3 de novembro.

Os ingressos para as apresentações no Brasil estão disponíveis pelo site da Eventim. Confira abaixo as datas finais da turnê:

  • 18, 19 e 20 de novembro, no Rio de Janeiro (na Arena Jockey);
  • 24 de novembro, em Recife (na Área Externa Centro de Convenções);
  • 25 de novembro, em Natal (na Arena das Dunas);
  • 28 de novembro, em Salvador (na Concha Acústica);
  • 30 de novembro, em Campo Grande (no Estacionamento Shopping Bosque dos Ipês);
  • 3 de dezembro, em Juiz de Fora (no Expominas);
  • 5 de dezembro, em Belo Horizonte (na Arena Hall);
  • 7 de dezembro, em São José do Rio Preto (no Estádio Benedito Teixeira);
  • 8 de dezembro, em Londrina (no Estádio do Café);
  • 10 de dezembro, em Uberlândia (no Camaru);
  • 12 e 13 de dezembro, em Porto Alegre (no Auditório Araújo Vianna);
  • 16 de dezembro, em Teresina (no Teresina Hall);
  • 17 de dezembro, em São Luís (no Pavilhão do Multicenter Sebrae);
  • 23 de dezembro, em São Paulo (no Allianz Parque).

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Maria Eloisa Barbosa
Maria Eloisa Barbosahttps://igormiranda.com.br/
Maria Eloisa Barbosa é jornalista, 22 anos, formada pela Faculdade Cásper Líbero. Colabora com o site Keeping Track e trabalha como assistente de conteúdo na Rádio Alpha Fm, em São Paulo.

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