Quando Tom Morello respondeu político conservador que disse gostar de Rage Against the Machine

Paul Ryan foi a escolha do Partido Republicano para a vice-presidência de Mitt Romney na eleição de 2012, vencida por Barack Obama

Em 2012 o político Paul Ryan foi escolhido para ser o candidato a vice-presidente na chapa do Partido Republicano, que tinha Mitt Romney como seu nome principal na disputa pela Casa Branca. O curioso da história é que, apesar de conhecido por visões conservadoras e até mesmo intolerantes em alguns aspectos, uma de suas bandas preferidas, de acordo com o próprio, é (ou ao menos era à época) o Rage Against the Machine.

A situação não é exatamente incomum, sejamos honestos. Muita gente prega gostar da obra de um artista independente de suas posições. A questão é que, no caso da banda americana, fica muito difícil desassociar a música das posturas, já que elas são parte integral do trabalho, não podendo meramente serem desconsideradas.

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À época, o guitarrista Tom Morello não perdeu a oportunidade de dar uma espinafrada no cidadão. Em artigo escrito para a Rolling Stone, declarou:

“O amor de Paul Ryan pelo Rage Against the Machine é curioso, porque ele é a personificação da máquina contra a qual nossa música tem lutado por duas décadas. Charles Manson amava os Beatles, mas não os entendia. O governador Chris Christie ama Bruce Springsteen, mas não o entende. E Paul Ryan não sabe nada sobre sua banda favorita, Rage Against the Machine.

Ryan afirma que gosta do som do Rage, mas não das letras. Bem, eu não ligo para o som de Paul Ryan ou suas letras. Ele pode gostar de qualquer banda que quiser, mas sua visão orientadora de mudar a receita de forma mais radical para o 1% é antitética à mensagem do Rage.

Eu me pergunto qual música do Rage é a favorita de Ryan? É aquela em que condenamos o genocídio dos nativos americanos? Aquele que critica o imperialismo americano? Nosso cover de ‘Fuck the Police’? Ou é aquela em que convocamos o povo a se apoderar dos meios de produção? Tantas escolhas excelentes para tocar nas reuniões dos Jovens Republicanos!

Não me interpretem mal, vejo claramente que Ryan tem muita ‘raiva (rage)’ dentro de si: raiva contra as mulheres, raiva contra os imigrantes, raiva contra os trabalhadores, raiva contra os gays, raiva contra os pobres, raiva contra o ambiente. Basicamente, a única coisa contra a qual ele não está furioso é a elite privilegiada à qual ele está rastejando em busca de contribuições de campanha.

Veja bem, os super ricos devem racionalizar ter mais do que jamais poderiam gastar, enquanto milhões de crianças nos EUA vão para a cama com fome todas as noites. Então, quando se olham no espelho, se convencem de que ‘essas pessoas não merecem, elas são… menores’. Alguns desses caras da extrema direita são mais cínicos do que Paul Ryan, mas ele parece realmente acreditar nessas coisas. Essa raiva desenfreada contra aqueles que têm menos é a pedra angular da chapa Romney-Ryan.

Mas a música do Rage afeta as pessoas de maneiras diferentes. Alguns ignoram o que a banda representa e se concentram no mosh e nas cotoveladas no poço. Para outros, o Rage mudou suas mentes e vidas. Muitos ativistas ao redor do mundo, incluindo organizadores do movimento de ocupação global, foram radicalizados pelo Rage Against the Machine e trabalham incansavelmente por um planeta mais humano e justo. Talvez Paul Ryan estivesse fazendo mosh quando deveria estar ouvindo.

Minha esperança é que talvez Paul Ryan seja uma toupeira. Talvez o Rage tenha plantado algumas ideias sensatas neste trabalho maluco de extrema direita. Talvez, se eleito, perdoe Leonard Peltier. Talvez ele dê apoio militar dos EUA aos zapatistas. Talvez ele encha a Baía de Guantánamo com os criminosos corporativos que estão financiando sua campanha – e depois os torture com a música do Rage 24 horas por dia, 7 dias por semana. Essa é uma possibilidade. Mas não aposto nisso.”

Ryan e seu partido foram derrotados na eleição pelo Partido Democrata, que reelegeu Barack Obama e seu vice, Joe Biden – atual presidente dos Estados Unidos.

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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