Em 1983, grupo terrorista e militares impediram o Kiss de tocar na Argentina

Shows chegaram a ser anunciados, mas foram desmarcados após ameaças de figuras ligadas à ditadura local

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A passagem do Kiss pelo Brasil em 1983 foi uma espécie de batismo de fogo do mercado de shows local. A banda tocou no Rio de Janeiro – para o maior público da carreira, 137 mil pessoas no Maracanã –, Belo Horizonte e São Paulo durante o mês de junho.

Ao contrário do que acontece hoje, a turnê sul-americana se resumiu ao maior país do continente. Porém, deveria ter sido diferente.

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A turnê do álbum “Creatures of the Night” (1982) também deveria ter passado pela Argentina um mês mais tarde – o que nos leva a crer que o quarteto voltaria para casa no meio tempo. Seriam três apresentações na Bombonera, icônico estádio do Club Atletico Boca Juniors, nos dias 19, 20 e 21 de agosto. Porém, forças de extrema-direita, ligadas à ditadura militar local, impediram a festa.

É possível encontrar imagens de pôsteres e ingressos alusivos ao evento online. De fato, as entradas chegaram a ter comercialização iniciada. Porém, as ameaças não demoraram a chegar, vindas de um grupo intitulado 2 de abril – alusão à data em que teve início a Guerra das Malvinas e é feriado nacional para homenagear os mortos no confronto contra a Inglaterra.

Foto de Martin Pitta / KissOnline.com

O jornal La Razón publicou em sua edição de 27 de julho de 1983 (conforme resgate do Pogopedia):

“O suposto comando da organização clandestina ameaçou explodir o estádio do Boca Juniors caso fosse confirmada a presença do conjunto musical. Os integrantes do grupo de rock foram descritos como ‘um bando de viciados em drogas, degenerados e homossexuais’. Foi apontado que também explodiriam os locais de venda de ingressos.”

Dias depois, vários ex-combatentes também se opuseram à chegada do Kiss em um artigo que dizia:

“É proibida a entrada de qualquer número artístico que não contribua para a cultura do país”.

Promessa da produtora e desistência do Kiss

A Demorcs Producciones, promotora do evento, enviou um fax ao Kiss no qual garantia a montagem de uma excelente operação de segurança. Também foi realizada uma coletiva de imprensa na Bombonera com ex-combatentes, representantes da empresa, músicos do grupo Riff (que abririam para a banda) e o secretário adjunto do Boca Juniors, onde esclareceram os pontos colocados em dúvida. Ainda assim, não houve um resultado positivo.

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Sempre fazendo questão de se distanciar de questões políticas, o Kiss optou por não levar a ideia adiante. Os músicos não estavam dispostos a arriscar a vida. Para piorar, o equipamento usado nos shows do Brasil ficou retido na alfândega. Assim, em 9 de agosto, a banda enviou um comunicado à Polygram Argentina – responsável pela promoção de seus discos no país – e à Democrs avisando que estavam rescindindo o contrato previamente assinado.

Dizia o comunicado, que não citava os motivos reais, como de praxe até hoje em cancelamentos do tipo:

“Devido a problemas técnicos, os shows do Kiss previstos para os dias 19, 20 e 21 de agosto em Buenos Aires, no estádio do Boca Juniors, estão cancelados. A empresa Demorcs e o clube foram alertados sobre isso. O Kiss orienta que todo o dinheiro arrecadado seja devolvido imediatamente a cada pessoa que comprou ingresso para os shows. Gene, Paul, Vinnie e Eric lamentam muito não poder tocar para os muitos fãs na Argentina como planejado.”

Mais problemas

Para os fãs, os problemas estavam apenas começando. No dia seguinte, um dos sócios da Demorcs renunciou. Mais uma conferência foi realizada, anunciando que o Kiss estava adiando seus shows para setembro e que parte dos lucros seria doada à Cruz Vermelha Argentina. A maioria das pessoas guardou seus ingressos para a nova data.

Dias depois, foi decidido devolver metade do dinheiro em agosto, com um vale para que, no mês seguinte, o reembolso fosse total. Apenas alguns dos mais de 50 mil fãs que chegaram a adquirir o ingresso conseguiram recuperar essa parte, que depois de alguns dias não era nada.

Estreia em 1994

O Kiss só estrearia em palcos argentinos em 1994. À época, a banda também veio ao Brasil como headliner da primeira edição do Monsters of Rock, em São Paulo.

Os hermanos foram compensados pelo “cano” anterior com 5 shows em Buenos Aires – intercalados por um no México – nos dias 3, 5, 14, 15 e 16 de setembro. O primeiro foi realizado no Monumental de Nuñez, estádio do River Plate. Os outros aconteceram no Obras Sanitarias, ginásio usado para partidas de basquete e vôlei, entre outros esportes.

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João Renato Alves
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João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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