O desafio de se compor música prog hoje, segundo Steve Howe

Guitarrista do Yes acredita que determinada característica da sociedade atual dificulta o processo de criação

Surgido no fim dos anos 1960, o Yes é um dos grandes nomes do rock progressivo. Entre idas e vindas e mudanças na formação, como a maioria dos grupos, a banda segue ativa, tendo lançado seu mais recente álbum de estúdio, “Mirror to the Sky”, em maio último. 

Desde o início, muita coisa mudou, não só em relação aos integrantes, mas à indústria da música e à sociedade como um todo. Para o guitarrista Steve Howe, as transformações advindas com o tempo trouxeram novos desafios.

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Um deles envolve a criação. Segundo o músico, hoje em dia é complicado compor música progressiva — naturalmente mais longa e com maior tempo instrumental — devido ao perfil do público, que busca conteúdos cada vez menores e objetivos. À Guitar World, detalhou: 

“Acho que ainda vejo a guitarra como o meu melhor meio de expressão. Mas parte do desafio é equilibrar isso com a composição de músicas para um mundo que tem um tempo de atenção mais curto do que nunca. Agora, as coisas são diferentes. Nos anos 1970, fazíamos turnês como loucos e nem sempre tínhamos sucesso. E depois, com o supergrupo Asia, gravei um disco muito famoso [homônimo, lançado em 1982] que vendeu quatro milhões de cópias.”

Em seguida, complementou a resposta, ressaltando que sempre prioriza as próprias intuições, mas que também “dança conforme a música”. 

“Eu não conseguia acreditar que aquele sucesso veio sem esforço. Então, vi os dois lados e, agora, me guio mais pelo o que a música significa para mim do que qualquer outra coisa. Eu sempre disse que preferia ser um cara discreto tipo o guitarrista Chet Atkins. Eu ficaria muito feliz com isso. Mas certamente aproveito as oportunidades também. Então, se os holofotes continuarem sobre mim, lidarei com isso à altura.”

Steve Howe, Yes, Genesis e ELP

O rock progressivo vivenciou seu auge na década de 1970. Além do Yes, bandas como Genesis e Emerson, Lake & Palmer (ELP), entre outras, conseguiram furar a bolha e fazer sucesso mesmo com um tipo de som que não era exatamente comercial.

Curiosamente, Steve Howe admite hoje que ele e seus colegas sentiam estar em uma espécie de competição com os outros dois nomes mencionados acima. A situação era geral, envolvendo todas as atrações do subgênero, mas ocorria especialmente com o Genesis e o ELP.

A confissão surgiu em 2020, durante entrevista ao Ultimate Classic Rock. O assunto veio à tona depois que o entrevistador revelou que o tecladista do Genesis, Tony Banks, mencionou adorar o “The Yes Album”, disco lançado pelo Yes em 1970. Em seguida, o jornalista perguntou se Howe gostava dos álbuns do Genesis.

“Não sei se devo ser honesto, mas acho que o Yes tinha uma característica muito britânica que ninguém admite: éramos muito esnobes. Você conhece essa palavra? É usada na América? Talvez usada sobre britânicos?”

Em seguida, o guitarrista admitiu que o Yes nunca se permitiria ser influenciado pelo Genesis.

“A menos que seja só eu, mas acho que se você perguntar a outros membros do Yes em uma situação honesta, eles devem concordar com esse mesmo ‘crime’. Éramos assim particularmente com o ELP.”

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Maria Eloisa Barbosa
Maria Eloisa Barbosahttps://igormiranda.com.br/
Maria Eloisa Barbosa é jornalista, 22 anos, formada pela Faculdade Cásper Líbero. Colabora com o site Keeping Track e trabalha como assistente de conteúdo na Rádio Alpha Fm, em São Paulo.

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