Parece que foi ontem que Mark Hoppus e Travis Barker anunciaram a saída nada amigável de Tom DeLonge do Blink-182.
Segundo os músicos, Tom ficava adiando shows e gravações “sem razão”. Ele rebateu, afirmando que o motivo foi apenas porque “queria focar em outras atividades fora do mundo da música” — entre elas, se dedicar à pesquisa sobre a existência de OVNIs.
A banda persistiu. Com Matt Skiba, vocalista do Alkaline Trio, no lugar de Tom, foram lançados os razoáveis “California” (2016) e “Nine” (2019).
Aí Hoppus foi diagnosticado com câncer, fazendo DeLonge retornar ao grupo em 2022. Pela segunda vez na carreira, uma calamidade foi responsável por reunir o trio — como esquecer o acidente de avião sofrido por Barker em 2008, que quase lhe custou a vida e acabou pondo fim a três anos de hiato?
Essa tendência de fazer as pazes apenas quando a vida apronta uma das suas dá o tom da faixa-título do novo álbum “One More Time”. “Why’s it gotta be tragedy to open our hearts?” (“Por que tem que haver uma tragédia para abrirmos nossos corações?”), questiona Mark num dos versos da canção lançada antecipadamente em setembro.
O teor autobiográfico de passagens como “From strangers to brothers, then back to strangers” (“De estranhos a irmãos e depois estranhos de novo”) adquire complemento visual no clipe dirigido por Carlos López Estrada. A filmagem mostra o grupo se apresentando diante de vários cenários que sinalizam memórias importantes de sua trajetória.
Só essa casadinha já teria bastado; os saudosistas já se dariam por satisfeitos e todos ficariam felizes por terem Mark, Tom e Travis juntos no palco tocando aquelas que embalaram sua juventude. Mas a verdade é que “One More Time…” é muito mais do que seu momento mais emotivo.
Não que as outras dezesseis faixas do repertório careçam de sentimento, pelo contrário. Em “Fell in Love”, também lançada como single, DeLonge relembra quando conheceu a esposa, Rose-Marie. “You Don’t Know What You Got” gira em torno do só dar valor depois que perde. A derradeira “Childhood” é uma reflexão pós-pandêmica sobre um mundo que desaprendeu a sonhar.
Crescemos, mas nem tanto. Essa é a mensagem captada nas menções à masturbação e transar no banco de trás do carro em “Dance with Me” e “When We Were Young”. Mas a maior prova da molecagem interior é manifesta nas curtinhas, explosivas e intencionalmente cômicas “Turn This Off!” (indiretinha de 23 segundos aos patrulheiros da moral e bons costumes) e “Fuck Face”, um cala-a-boca de 27.
Apesar das facetas opostas no departamento lírico, musicalmente a receita permanece inalterada: canções de dois minutos e pouco a quatro minutos que vão direto ao ponto nas quais Travis se projeta acima dos companheiros; o que ele toca não é brincadeira, não. Pop/punk como o que costumávamos ouvir nas paradas de clipes da MTV Brasil e nas também defuntas rádios rock do começo dos anos 2000.
As exceções à regra ficam por conta do lamentoso interlúdio “Hurt” e de “Blink Wave”, um aceno à modernidade — com direito a bateria eletrônica — que, torçamos, não indique novos caminhos sonoros para a banda.
Ao final de seus 44 minutos de duração, “One More Time…” deixa um sorriso no rosto e a vontade de ouvir tudo de novo, mais uma vez. Também assevera o quanto o Blink-182 com Mark, Tom e Travis que tanto amamos fez falta. Desculpe, Matt, mas, como diz o último verso de “Bad News”, “There’s no such thing as a happy ending” (“Não há nada como um final feliz”). E quer final mais feliz do que uma reconciliação?
*Ouça “One More Time…” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.
*O álbum está na playlist de lançamentos do site, atualizada semanalmente com as melhores novidades do rock e metal. Siga e dê o play!
Blink-182 — “One More Time…”
- Anthem Part 3
- Dance With Me
- Fell In Love
- Terrified
- One More Time
- More Than You Know
- Turn This Off!
- When We Were Young
- Edging
- You Don’t Know What You’ve Got
- Blink Wave
- Bad News
- Hurt (Interlude)
- Turpentine
- Fuck Face
- Other Side
- Childhood
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