Demorou 30 anos para que a L7 fizesse seu primeiro show solo em São Paulo — a apresentação em 2018, vale lembrar, foi realizada ao lado do Soul Asylum. As produtoras Powerline e Maraty deixaram a noite ainda mais convidativa ao escalar Cólera e Mercenárias como bandas de abertura.
Uma curadoria muito bem feita, diferente da ocorrida na primeira vez em que o grupo americano tocou aqui: no festival Hollywood Rock de 1993, que não prezou pela coerência ao escalar Engenheiros do Hawaii e Dr. Sin para as mesmas posições, com todos os três antes do Nirvana.
*Fotos de Ísis Trindade.
Cólera
A combinação do acerto ficou evidente desde o show do Cólera, primeira banda a subir ao palco, com alto e bom som. O público estava estático a princípio, mal abriu roda ou pulou, o que era uma farsa. Chegou em número expressivo, pelo menos 60% dos pagantes já estavam na casa e conheciam tudo, cantando junto sempre que o vocalista Wendell Barros os chamava para tal.
A banda atendeu a pedido da plateia e tocou “Humanidade”, que não havia entrado no setlist e nem ensaiada estava. Quando o baterista Pierre Pozzi apresentou como inédita uma música de 1986 (disco “Pela Paz em Todo Mundo”), o clássico “Medo”, obteve uma reação e participação típica de headliner que se repetiria ao longo da noite. Esse grande nome do punk rock mundial, que ainda conta com Fábio Belluci na guitarra e Val Pinheiro no baixo, foi recebido como deveria na primeira vez em que tocaram no Carioca Club, uma já tradicional casa de shows paulista. A história foi corrigida.
Repertório – Cólera:
- Duas Ogivas
- Alternar
- Minha Mente
- Por Que Ela Não?
- CDMP
- Repetição Constante
- Somos Vivos
- Palpebrite
- Humanidade
- Medo
- Dia e Noite, Noite e Dia
- Pela Paz
As Mercenárias
Na sequência, As Mercenárias fizeram um show hermético, com pouca comunicação com o público. A formação foi diferente da tradicional: além de Sandra Coutinho no baixo, Silvia Tape na guitarra e Pitchu Ferraz (que já tocou no Dominatrix e Nervosa) na bateria, completaram o time Bibiana Graeff e Mayla Goerish, seja nos vocais ou efeitos.
Não foi a primeira vez em que o grande nome do pós-punk brasileiro deixou de se apresentar como trio. Recentemente elas fizeram uma temporada no Centro da Terra também com número maior de integrantes, inclusive com participação de Edgard Scandurra (guitarrista do Ira! e ex-baterista da Mercenárias) tocando raridades da longa carreira da banda.
Esse repertório, “Linha do Tempo Contínuo”, foi executado na sexta-feira (20), antecedendo os clássicos “Polícia” e “Me Perco Nesse Tempo”. Os fãs ganharam por ver uma apresentação única, mas perderam por ver um grupo menos à vontade e comunicativo do que o usual.
Repertório – As Mercenárias:
- Dá Dó
- Inimigo
- Meus Pais
- Há Dez Anos Passados
- Ação na Cidade
- Poder
- Labirintos
- Eu Não Consigo Mais Dormir
- Danação
- Linha do Tempo Contínuo
- Não Não Não
- Polícia
- Me Perco Nesse Tempo
L7
Assim que a L7 subiu ao palco, o instrumento da baixista Jennifer Finch caiu no chão pois a alça havia se soltado. Recolado, precisou ser novamente afinado. Uma situação desconfortável simplesmente ignorada pelo quarteto de Los Angeles.
O bom humor não é forçado, a comunicação é espontânea e a energia é infinita: 23 músicas em pouco mais de uma hora e meia, praticamente sem pausa e sem tirar o pé do freio. O exato oposto do que o Steel Panther apresentou também em São Paulo na última quinta-feira (19), conforme relato do jornalista Igor Miranda que pode ser lido clicando aqui.
O público não esperava coisa diferente — e respondeu na mesma moeda. Quando a banda ainda estava na sexta música do setlist, “Stadium West”:
- um sem número de pessoas já havia saltado do palco;
- uma fã mostrou os seios;
- em todos os lados era possível encontrar latas espirrando cerveja, camisas girando, ou pessoas de ponta cabeça, apenas com os pés visíveis.
“Pretend We’re Dead” é conhecida no nível que pode levar uma banda a ser one hit wonder, mas não é o caso da L7. O público cantou praticamente tudo.
O único momento mais calmo foi em “Fighting the Crave”. Pode ser porque ela é de “Scatter the Rats” (2019), disco mais recente, mas o mais provável é porque ela sucedeu “Fuel My Fire” e a bagunça que o povo fez consumiu energia demais. Precisavam de um descanso.
O ponto negativo foi o baixo volume das guitarras, o que, para uma banda do calibre da L7 poderia ser mortal. Solos como o de “Slide” ficaram inaudíveis e assim foi durante o show todo.
Ainda assim, o saldo foi positivo e é de se duvidar de que algo mude nos próximos 5 shows que o grupo vai fazer no Brasil nesta turnê. Em São Paulo, ficou o desejo de que voltem o quanto antes.
Se puder vê-las, não perca a oportunidade. Você precisa ver um show da L7.
*Fotos de Ísis Trindade. Mais imagens ao fim da página.
L7 – ao vivo em São Paulo
- Local: Carioca Club
- Data: 20 de outubro de 2023
- Turnê: The Best of L7: South America Tour 2023
Repertório:
- Deathwish
- Andres
- Everglade
- Scrap
- Shove
- Stadium West
- One More Thing
- Mr. Integrity
- Slide
- Can I Run
- Human
- Bad Things
- Monster
- Fuel My Fire
- Fighting the Crave
- Drama
- Patricia
- Wargasm
- Dispatch From Mar-a-Lago
- Pretend We’re Dead
- Shit List
- American Society (cover de Eddie and the Subtitles)
- Fast and Frightening
Cólera:
As Mercenárias:
L7:
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Acabei perdendo o show com ingresso comprado. Uma coisa da crítica: estava em 2018 no show do Tropical Butantã que foi um dos melhores de minha vida, mesmo sem quase visão nenhuma do palco. Esqueceu ou esse não é considerado um show solo?
Não era um show solo. Elas vieram com o Soul Asylum.
Neste de 2018,o Soul Asylum entrou de última hora,porque o show que fariam em Sorocaba foi cancelado.
Na compra do ingresso só constava L7.
“A produtora Powerline, responsável pela vinda da banda L7 ao Brasil, anunciou na tarde desta quinta-feira (22) que os caras do Soul Asylum vão se juntar ao line-up do evento no próximo dia 2 de dezembro no no Tropical Butantã. Os americanos tinham compromisso para esta data em Sorocaba no Fabrica Festival, que foi cancelado, então, rolou o convite para tocar em São Paulo”