Ninguém pediu por isso, mas Roger Waters regravou “The Dark Side of the Moon”.
Lançado em 1973, o álbum mais famoso do Pink Floyd foi resultado de várias ideias compiladas ao longo dos anos. Reflexões sobre morte, medo, solidão, abalos emocionais e empobrecimento espiritual permeiam as letras de Waters.
Mas o pessimismo evidente em sua escrita, talvez conscientemente rejeitando o romantismo escapista que havia caracterizado — e, em última análise, destruído — o ex-colega de banda Syd Barrett, foi mascarado pela impressionante produção, sem paralelo para a sua época.
No comunicado à imprensa que precedeu o lançamento deste “The Dark Side of the Moon Redux”, Waters escreveu: “David [Gilmour, guitarrista], Rick [Wright, tecladista], Nick [Mason, baterista] e eu éramos muito jovens quando fizemos [o ‘The Dark Side of the Moon’ original], e basta olharmos para o mundo ao nosso redor para que fique claro que a mensagem não foi captada. Foi por isso que comecei a considerar o que a sabedoria de um octogenário poderia trazer para uma versão reimaginada”. Ou, como enuncia na abertura “Speak to Me”: “As memórias de um homem na velhice são suas ações no auge de sua vida”.
Uma versão reimaginada em forma e com acréscimos significativos ao conteúdo. Para começar, Waters eliminou todos os solos de guitarra, substituindo-os por palavras faladas nas quais ele vocalizações, arranjos de cordas, teclados ou “un poco de cada cosa”. É nas tais palavras faladas que ele revisita e atualiza as declarações políticas do álbum cinquentão.
Originalmente uma faixa instrumental, “On the Run” serviu de púlpito para Waters zerar seu estoque de metáforas sobre a guerra. O espetáculo vocal de Clare Torry dá lugar a murmúrios na nova “The Great Gig in the Sky”. “Money” soa como um trabalho em andamento, e, juntamente com “Time”, elucida a pouca qualidade vocal de Roger.
A partir de “Us and Them”, porém, a abordagem perde o caráter invasivo e descaracterizador, preservando a estrutura já consagrada das canções. A exceção é “Any Colour You Like”, da qual foi mantida apenas a levada viajandona e sobre a qual Waters disserta a respeito de sermos “bombardeados por duras notícias como moléculas em um microscópio eletrônico”.
Longe de ser o desastre que todos previram com o lançamento de “Money” e “Time” como prévias — acredite, Waters não poderia ter escolhido piores maneiras de apresentar o disco para o público —, “The Dark Side of the Moon Redux” é uma empreitada esteticamente interessante. Obviamente, nunca será capaz de ofuscar o álbum original — até hoje, o maior sucesso de vendas do Pink Floyd —, mas a ideia nem era essa mesmo.
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Roger Waters — “The Dark Side of the Moon Redux”
- Speak to Me
- Breathe (In The Air)
- On the Run
- Time
- The Great Gig in the Sky
- Money
- Us and Them
- Any Colour You Like
- Brain Damage
- Eclipse
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Ótima resenha, Marcelo!
Achei uma porcaria. Até o cover do baiano Luís Caldas é mais interessante.
Vou ter que discordar de um ponto, porque gostei de “Time” nessa nova versão e acho que, graças à sua própria temática, é a que mais combina com isso de “considerar o que a sabedoria de um octogenário poderia trazer para uma versão reimaginada”. De resto, belo texto.
Como tudo o que Roger Waters fez após o Pink Floyd, soa atonal, monótono. O que ele tem de criativo é o oposto como músico. Limitadíssimo, panfletário. A arte russa no período soviético é um exemplo de não arte por ser exatamente isso, panfletagem política. O mesmo se pode dizer do que foi produzido na Alemanha nazista. Não se mistura arte e política.
A obra que conhecemos como The Dark Side of The Moon é a soma dos talentos musicais de Gilmour, Wright e Manson aliada a criatividade de Waters como criador de conceitos.
A frase “não se mistura arte e política” é problemática, especialmente por você gostar do Pink Floyd. Boa parte do catálogo da banda mistura arte e política. Outras bandas consagradas como U2, Rage Against the Machine e muitas outras misturam arte e política.