Banda consolidada no cenário extremo brasileiro há mais de 30 anos, o Torture Squad sempre transitou entre o death e o thrash metal tendo como principal marca alguns predicados técnicos, em especial a habilidade do baterista Amílcar Christófaro. Por conta disso, nunca foi raro notar passagens mais intrincadas e até progressivas na música do grupo.
De certa forma, isso se mantém em “Devilish”, só que agora também com a busca por uma nova sonoridade que, por vezes, passa ao largo do death/thrash. Há uma clara mudança estética no sentido de soar mais diversificado. E esse processo se dá não necessariamente pela via tecnicista, como já foi em tempos anteriores, mas pela escolha deliberada de experimentar outros estilos.
Duas faixas deixam explícita essa nova roupagem: “Warrior” e “Find My Way”. A primeira, com letra em homenagem ao lutador de jiu-jitsu Rickson Gracie, é um rockão simples e direto, como um AC/DC turbinado com distorção; a segunda já atira para um lado completamente diferente, com contornos acústicos e dramáticos que desembocam em uma power ballad na qual Mayara Puertas usa vocais limpos.
Em ambos os casos, ouso dizer que um fã desavisado jamais diria se tratar de músicas do Torture Squad. Se isso é bom ou ruim, fica a critério do cliente – leia-se ouvinte.
Mesmo em “Hell is Coming”, que remete a clássicos da banda paulista, como “Asylum of Shadows” e “Horror and Torture”, há novidades e a tentativa de inserir algo diferente: acordes com timbragem oriental, atabaques e outros elementos de percussão, bem como um teclado na porção final da faixa, que ganhou videoclipe e foi escolhida para abrir o trabalho.
“Uatumã”, por sua vez, é um apelo à preservação da Amazônia e inova ao reunir diversos convidados ligados às causas indígenas. As vozes de Susane Hécate (Miasthenia), Vítor Rodrigues (Tribal Scream e ex-Torture Squad) e João Luiz (Golpe de Estado) se somam à de Mayara para costurar uma métrica vocal exótica, perpassada por falas do líder caiapó Raoni Metuktire e ritmos tribais.
Por falar em participações especiais, o guitarrista Andreas Kisser, do Sepultura, dá as caras em “Buried Alive”. Essa, no entanto, é uma das faixas mais convencionais de “Devilish”, puxando para o thrash metal e indo direto ao ponto. Outra que segue esse caminho curto e grosso é “Mabus”.
Já “Sanctuary” traz peso e andamento brutal, pontuado por um vocal novamente pouco ortodoxo. Essa versatilidade de Mayara Puertas é algo bastante explorado no álbum como um todo, embora o resultado nem sempre seja o mais original. “Thoth”, por exemplo, soa genérica e pouco acrescenta.
Nas três faixas derradeiras, temos um bonito interlúdio ao violão em “Gaia” – méritos ao guitarrista Rene Simionato – e o que poderia ser uma boa conclusão em potencial com “A Farewell to Mankind”, fazendo de “The Last Journey” um outro ao piano um tanto quanto desnecessário.
“Devilish” tem arte de capa assinada pelo ilustrador Marcelo Vasco e saiu pela gravadora italiana Time To Kill, com distribuição nacional por Sound City Records e Valhall Music. Trazendo a mesma formação do antecessor “Far Beyond Existence” (2017) – completada pelo baixista Castor –, o disco mostra um Torture Squad mais entrosado e confiante para arriscar, ainda que o resultado possa surpreender alguns fãs – para o bem ou para o mal.
*Ouça “Devilish” a seguir, via Spotify.
Torture Squad – “Devilish”
- Hell Is Coming
- Flukeman
- Buried Alive
- Warrior
- Sanctuary
- Uatumã
- Thoth
- Mabus
- Find My Way
- Gaia
- A Farewell to Mankind
- The Last Journey
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