A influência do Led Zeppelin na carreira do Rush sempre esteve presente, mas acabou se diluindo com o passar do tempo e a adoção de uma identidade muito personal do trio canadense formado por Geddy Lee (voz e baixo), Alex Lifeson (guitarra) e Neil Peart (bateria). Natural, tendo em vista que toda banda se vale de referências no início da carreira.
Porém, era algo evidente quando o grupo lançou seu primeiro disco, ainda com John Rutsey na bateria. Chegou ao ponto de terem sido criticados pela mídia especializada, acusados de copiar Jimmy Page, Robert Plant, John Bonham e John Paul Jones.
Em um trecho de sua biografia “My Effin’ Life”, liberado para a Rolling Stone, o baixista e vocalista Geddy Lee compartilhou sua relação com os monstros sagrados do rock inglês.
“Enquanto isso, o Rush aumentava seu som. E o que aconteceu em 1969 para provocar isso? Na esquina da Yonge Street com a Davenport Road, em Toronto, havia um venerável prédio antigo pelo qual a maioria de nós já havia passado muitas vezes a caminho da vizinha Yorkville Village, sem prestar muita atenção. Foi construído como um templo maçônico, mas em 1969 aquele edifício de sigilo havia se tornado o clube e local de rock and roll mais legal da cidade, o Rock Pile. Em fevereiro, John foi um dos poucos a testemunhar um show de uma banda desconhecida chamada Led Zeppelin. Naquela época, a atração principal era o guitarrista, Jimmy Page, ex-Yardbirds. Mas Rutsey ficou especialmente impressionado com o baterista John Bonham, cujo estilo e timbre eram excepcionalmente sólidos e poderosos, sem nunca parecer muito ocupado. Ele não conseguia parar de delirar.”
Após o testemunho, não havia outra saída a não ser buscar o trabalho de estreia do quarteto.
“Assim que o primeiro álbum deles foi lançado, corremos até a loja Sam the Record Man local, apenas para descobrir que a notícia estava se espalhando rapidamente e já estava esgotado. Quando o novo pedido finalmente chegou, pegamos um, voltamos para casa e colocamos no meu toca-discos. Ainda me lembro de nós três sentados na cama em total admiração, ouvindo o peso de ‘Good Times Bad Times’, o fogo de ‘Communication Breakdown’ e, ah, aquele som de bateria! O alcance vocal extremo de Plant e o histrionismo da guitarra de Jimmy colocaram esta banda muito acima do limite, e para mim as linhas de baixo emocionalmente comoventes de John Paul Jones fundiram-se perfeitamente às partes de bateria, fundamentando a banda e criando uma seção rítmica para uma nova era do rock.
O The Who era cheio de abandono, rock pesado e melodicamente brilhante; Jimi era a encarnação do vodu musical e da extravagância; o Cream foi uma vitrine do virtuosismo do blues; mas isso? Isso era pesado, cara. O Zep reforçou o blues em um estilo explosivo e muitos inglês, que falaria com a nossa geração de músicos como nenhum outro. Para nós, havia o Rock antes do Zep aparecer e houve o Rock depois. Este foi o nosso novo paradigma.”
Rush e Led Zeppelin
Não é de se estranhar que o debut do Rush soe um tanto quanto parecido com o zepelim de chumbo. Afinal de contas, foi o que eles passaram a tocar pouco antes.
“Tentamos aprender algumas de suas músicas, mas naquela fase elas estavam além de nós; mesmo quando acertávamos as notas, o som saía errado. (Zep só entraria em nosso set list quando o Rush tocava os compassos com ‘Living Loving Maid’ do Led Zeppelin II.) Independentemente disso, o Zeppelin desafiou a maneira como nos sentíamos em relação ao nosso próprio som: se não fosse pesado agora, parecia simplesmente fraco.”
Geddy Lee e “My Effin’ Life”
“My Effin’ Life” sai em edição nacional dia 30 de novembro, sob o título “Geddy Lee: a Autobiografia”. A editora responsável é a Belas Letras.
No momento, Geddy excursiona pelos Estados Unidos com eventos em spoken word onde conta histórias do livro, além de responder perguntas da plateia. Mês que vem é a vez do Reino Unido. Há tentativas de trazê-lo ao Brasil em 2024.
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