Robertinho de Recife nasceu Carlos Roberto Cavalcanti de Albuquerque em 5 de novembro de 1953 no… Recife, Pernambuco. Onde mais?
Seu primeiro contato com um violão foi aos 10 anos quando, após ser atropelado por um carro, teve que passar longos períodos em casa e, assim, pôde se dedicar a dominar o instrumento. A primeira guitarra, presente do avô, veio quando os Beatles viraram sua cabeça e o tiraram do sério.
A impressionante técnica e o vasto repertório levaram-no a tocar com bandas locais ainda na adolescência. Tocava de tudo já nessa época e, ao longo de sua carreira discográfica, passeou por diversos estilos.
Diversos, mesmo. Foi das músicas infantis ao heavy metal, gênero do qual teve pioneirismo no Brasil. É ele na guitarra em “Mordida de Amor”, versão em português de “Love Bites”, do Def Leppard, gravada pelo Yahoo no final dos anos 1980.
A partir da década seguinte, diminuiu um pouco o ritmo, dedicando-se mais à produção musical. Durante a pandemia, optou por uma vida longe das capitais, instalando-se na região serrana do estado do Rio de Janeiro, onde mora com a esposa, Claudia André. É pai da cantora e acordeonista Roberta de Recife, colaboradora frequente do gigante Zé Ramalho.
A lista de 5 discos indicados para conhecer muitas facetas da obra de Robertinho de Recife é uma das mais ecléticas já publicadas no site. Confira.
5 discos para conhecer Robertinho de Recife
Robertinho de Recife – “Jardim da Infância” (1977)
Houve um momento, em meados da década de 1970, que as pessoas diziam que CBS era “Cearenses Bem-Sucedidos”. De fato, uma grande parcela dos best-sellers da gravadora vinha do Nordeste do Brasil — não só do Ceará: Raimundo Fagner, Nonato Luiz, Geraldo Azevedo… e Robertinho de Recife, que, à época, se consolidou como produtor e faz-tudo dessa turma toda.
Chegou o momento, porém, de o guitarrista extrapolar o papel de braço direito dos famosos e ver seu nome estampado na capa de um LP. “Jardim de Infância” marcou a estreia de Robertinho como artista solo, tocando um repertório que vai do baião ao fado, do frevo ao fusion, passando pela MPB raiz e com temperos jazzísticos no decorrer de suas nove faixas, que incluem participações especiais de Sivuca, Wagner Tiso, Marcio Montarroyos e uma dezena de outros.
Gal Costa – “Gal Tropical” (1979)
O 13º álbum de Gal Costa surgiu a partir do espetáculo homônimo concebido para promover o LP anterior, “Água Viva” (1978), que foi seu primeiro disco de ouro. O show, responsável por tornar Gal uma artista das massas, ficou em cartaz até o início de 1981 e, sucesso de público e crítica, teve datas nos Estados Unidos, na Europa e até mesmo em Israel.
Em depoimento ao documentário “Robertinho de Recife? Robertinho do Mundo!” (2020), Caetano Veloso comenta a importância deste trabalho, um dos mais marcantes da saudosa cantora, e o papel do guitarrista nele:
“‘Gal Tropical’ foi um dos ápices da carreira de Gal, né? Depois do ‘Fatal’, eu acho que é o grande ápice da carreira dela. E o Robertinho é essencial naquilo porque é a guitarra dele que impulsiona a voz dela. E a voz dela ecoa a guitarra dele. Uma beleza! Robertinho é um guitarrista único do Brasil com essa identificação com o heavy metal! Ele tem um negócio que os outros grandes guitarristas brasileiros não têm! (…) Ele tem uma porção de coisas que o pessoal que toca no ambiente heavy metal não tem. Então, ele é um caso especial na guitarra brasileira, além de ser um dos melhores objetivamente. Mas, subjetivamente ele tem uma complexidade diferente.”
Destacam-se no repertório do disco a versão de “Força Estranha”, que Caetano escreveu para Roberto Carlos, a marchinha “Balancê”, de Carmen Miranda, que foi música-tema do Carnaval de 1980, e as regravações dos sucessos “Índia” e “Meu Nome é Gal”.
Robertinho de Recife – “Metal Mania” (1984)
Robertinho começou a ouvir Deep Purple muito jovem. Sempre gostou de guitarras distorcidas; aliás, diz ele que toca por causa disso. Só que no início dos anos 1980, ele tirava seu sustento fazendo músicas infantis, uma coisa que lhe dava um dinheiro absurdo. Até que um dia ouviu Van Halen e seu mundo nunca mais foi o mesmo; ele precisava dar vazão ao seu lado metal.
Como a gravadora não acreditava no som, achava que metal não vendia, o guitarrista impôs como condição para gravar a música “É de Chocolate”, lançada pela dupla Patrícia & Luciano, ele poder gravar seu LP “Metal Mania”. “Ninguém estava pronto para ouvir aquilo”, disse em entrevista à Freak. “Ninguém contratava a gente. Era uma batalha sem apoio da gravadora.”
Embora hoje considere essa fase uma devastação em sua vida — “até pobre fiquei; entrei no metal e me dei muito mal” —, Robertinho pode bater no peito e dizer que foi pioneiro no heavy metal cantado em português. “Abrimos para Deep Purple, Quiet Riot… até nos Estados Unidos a gente tocou e todo mundo curtia; éramos pesados, a banda era boa, só músicos bons”, afirmou.
Uma segunda encarnação do Metal Mania, sem nenhum dos outros integrantes originais, lançou o adequadamente denominado “Back for More” em 2014. Passados seis anos, Robertinho confirmou, em primeira mão e com exclusividade a Igor Miranda, o fim da banda. “Tivemos o álbum ‘Back for More’, agora temos ‘No More’”, brincou.
Robertinho de Recife – “Rapsódia Rock” (1989)
As gravações de “Oração da Vitória” (1989), segundo LP do Yahoo e do qual consta o sucesso “Anjo” — versão em português de “Angel”, do Aerosmith —, terminaram antes do esperado. Robertinho aproveitou que o estúdio já estava pago e seus colegas de banda disponíveis para desenvolver algo que tinha em mente: um trabalho 100% instrumental.
“Rapsódia Rock” traz, na capa, o guitarrista trajado como Wolfgang Amadeus Mozart, e, nos sulcos, uma mistura de releituras de peças clássicas da música erudita — como o Bolero de Ravel e “Noturno Nº 10”, de Frédéric Chopin — com números autorais, destacando-se “Batman Rock”, fruto de parceria com o renomado maestro Lincoln Olivetti, e a neoclássica “O Fim da Guerra da Montanha”.
Considerado um clássico da música brasileira, o disco serviu de base para o show frequentemente apontado como o ápice da carreira de Robertinho nos palcos: o espetáculo na Quinta da Boa Vista, acompanhado da Orquestra Sinfônica do Rio de Janeiro, sob a regência luxuosa do inglês George Martin, maestro e produtor dos Beatles, em 1993
Rogério Skylab – “Skylab” (1999)
No alvorecer dos anos 1990, Rogério Tolomei Teixeira largou um emprego no Banco do Brasil para perseguir o sonho de viver da própria arte. Adotando para si o nome artístico Rogério Skylab, sagrou-se cantor, compositor, letrista, poeta, apresentador de TV e uma tremenda figuraça.
Seu segundo CD, e que deu início à série Skylab — encerrada em 2011 com o décimo volume —, teve Robertinho de Recife como arranjador e guitarrista. Nele estão algumas das músicas mais amplamente conhecidas de Rogério, como “Carne Humana”, “Motoserra”, “Naquela Noite” e a suprema “Matador de Passarinho”, que, com quase 600 mil plays no Spotify, é a segunda faixa mais ouvida do artista na plataforma.
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Só faltou o disco Eternas Ondas do Fagner. As guitarras são do Robertinho do Recife e são espetaculares.