O vocalista e guitarrista David Gilmour relembrou, no segundo episódio do “The Lost Art of Conversation”, da única vez em que viu o Pink Floyd tocando ao vivo. A transcrição é do Ultimate Classic Rock.
Diferente do que muitos podem imaginar, a situação não aconteceu na década de 1960, quando Gilmour ainda nem fazia parte do Pink Floyd. O fato ocorreu em 1977, último show da turnê do “Animals”, quando Gilmour se recusou a tocar o bis e acabou vendo a banda em ação, sem ele.
“A única vez que vi o Pink Floyd ao vivo foi no bis em Montreal, em 1977 – show final da turnê do ‘Animals’, aquele em que Roger (Waters, vocalista e baixista) cuspiu em alguém, eu acho. Eu estava p*to com alguma coisa e nem consigo me lembrar mais o que era, mas me recusei a tocar o bis e fui até a mesa de mixagem para assistir ao momento, com Snowy (White, guitarrista de apoio) tocando minhas partes. Foi a única vez que assisti um pouco.”
Gilmour também se recordou que se lembra de quando quase desistiu de seguir com o Pink Floyd sem Roger Waters, em meados de 1985. Ele achava que estava tudo ruim, a começar pela forma que trabalharia em palco: cantando mais e tocando guitarra ao mesmo tempo, sem poder interagir tanto com o público.
Ainda assim, ao lado do baterista Nick Mason e do tecladista Richard Wright, foi feita a opção pela sequência do Pink Floyd. De início, David Gilmour afirma que foi tudo muito “assustador”, pois a primeira turnê seria gigante e ingressos para shows já estavam sendo vendidos antes mesmo do álbum “A Momentary Lapse Of Reason” (1987) ser finalizado.
“Foi assustador trabalhar naquela turnê. Reconhecer que estávamos fazendo algo certo e que estava indo muito, muito bem foi uma grande fonte de alegria, alívio e emoção para mim.”
O fatídico show
O show do Pink Floyd em Montreal, no Canadá, em 6 de julho de 1977, entrou para a história por um motivo inusitado. Na ocasião, o vocalista e baixista Roger Waters cuspiu em um fã. David Gilmour, guitarrista e também cantor, abandonou a apresentação e recusou-se a tocar a parte final do repertório.
Até hoje, o motivo real do cuspe de Waters direcionado ao fã não está totalmente claro. O livro “The Making of Pink Floyd: The Wall”, de 2010, aponta que o músico se irritou com a reação empolgada e barulhenta de admiradores da banda na primeira fila em meio ao show. O site do jornal canadense The National Post destaca que o rapaz que foi alvo da cusparada estava tentando invadir o palco.
Fato é que toda a situação foi testemunhada pelo guitarrista de turnê Snowy White, que excursionava com o Pink Floyd naquela época. Quando Gilmour abandonou o palco, encaminhando-se para a mesa de som, sobrou para White, que não deixou a peteca cair ao lado do baterista Nick Mason, do tecladista Richard Wright e do próprio Waters.
O quarteto, sem Gilmour, começou a tocar uma melodia de blues melancólica, enquanto Waters, que seguia no palco e acompanhava no baixo, dizia que aquilo estava sendo performado como “uma música para que todos pudessem ir embora” – o músico estava praticamente expulsando os fãs. O incidente, aliás, teria inspirado o conceito por trás do álbum “The Wall”, lançado em 1979.
Em entrevista à Rolling Stone, Snowy White contou um pouco do que viu naquela fatídica noite. O guitarrista, que era apaixonado por blues, gostou de finalmente ter tocado um pouco daquele som com a banda, ainda que tenha sido em uma circunstância adversa.
“Ao longo da turnê, eu pensava: ‘seria legal tocar um pouco de blues’. Não pensava que eu estava em uma banda grande, de sucesso, e que eu deveria estar pasmo com isso. Sou normal demais. Só pensava: ‘legal, mas não é blues’.”
Sobre o show em Montreal, ele destacou:
“Não havia uma vibração muito boa por alguma razão. Foi nesse show em que olhei para a esquerda e vi Roger cuspindo em uma pessoa na plateia. Eu pensei: ‘o que ele está fazendo?’. Mas rolava uma energia engraçada.”
Após David Gilmour abandonar o palco e encaminhar-se para a mesa de som, o blues “comeu solto”, mas a equipe de roadies do Pink Floyd começou a desmontar o palco. Snowy relembra:
“Eu estava tocando e me divertindo até que um roadie veio e disse que precisava tirar a guitarra de mim. Eu olhava e a banda estava tocando, mas a equipe técnica estava desmontando o palco. Rick parou de tocar. Acabou com Nick na caixa e no chimbal da bateria.”
David Gilmour e Pink Floyd
Nascido em Cambridge, Inglaterra, David Jon Gilmour se interessou por música desde a infância. Incentivado pelos pais, aprendeu a tocar guitarra com ajuda de um livro e seus discos.
Paralelamente aos primeiros passos com a banda Jokers Wild, realizou alguns trabalhos como modelo para se sustentar.
Em 1967 foi convidado a se juntar ao Pink Floyd, inicialmente ajudando a cobrir os lapsos de Syd Barrett ao vivo. Acabou substituindo o amigo de infância. A partir da metade dos anos 1980 se tornou o líder do grupo, posição sustentada até o final.
Lançou discos solo, além de participar de trabalhos com Paul McCartney, Kate Bush, The Who, B.B. King, Paul Rodgers e Elton John, entre vários outros.
Integrante do Labour Party, posicionou-se defensor da causa palestina e se declarou socialista em entrevista à Mojo Magazine no ano de 2008.
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