Por que Roger Waters demitiu Richard Wright do Pink Floyd

Conflitos durante a produção de “The Wall” (1979) levaram ao desligamento do tecladista

Para além da famosa rivalidade entre Roger Waters e David Gilmour, a liderança do baixista rendeu atrito com outros membros do Pink Floyd. Durante a produção de “The Wall” (1979), Waters protagonizou um conflito com o tecladista Richard Wright, que acabou demitido do seu posto de membro efetivo da banda.

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Durante a segunda metade da década de 1970, a liderança de Waters expandiu gradualmente, e resultou na diminuição do espaço criativo dos outros músicos. Para Wright, o marco do fim de sua participação foi o álbum “Animals” (1977), no qual o tecladista não foi creditado como compositor em nenhuma das faixas. Por outro lado, Waters desenvolveu todo o conceito do álbum seguinte, “The Wall”, durante uma pausa da banda entre trabalhos. 

Em 1999, em entrevista à revista Classic Rock, Waters deu sua versão de como surgiram as tensões durante a produção do álbum. Na declaração, o baixista relata como resistiu a proposta de Wright em colaborar com o trabalho. 

“O verdadeiro começo do fim foi quando trouxe Bob Ezrin como produtor. Eu precisava de ajuda para produzir esse disco, era um grande projeto. Até então sempre tínhamos sido ‘produzidos pelo Pink Floyd’, e a maior parte do trabalho de produção tinha sido feito por mim e por Dave [Gilmour]. Então eu disse a Nick [Mason] e Rick [Wright] que Bob Ezrin estaria produzindo o álbum comigo e Dave, mas com todo o respeito a esses caras, eles não conseguiriam porque nunca o fizeram. Achamos que era justo termos um ponto, um por cento, e isso sairia do topo e então dividiríamos o restante do acordo de quatro partes. Nick disse: ‘Tudo bem, sem problemas’. Mas Rick disse: ‘Mas eu posso produzir o disco, posso ajudar’. ‘Eu não acho que você pode Rick, você nunca conseguiu no passado.’ ‘Sim, eu consigo’. Então eu disse ‘Ok, vamos fazer isso. Vamos fazer o disco e se você for visto produzindo o disco, você também pode ter razão. Vamos dividir em quatro partes. Isto é Justo?’”

Após comparecer integralmente nas sessões de gravação, Wright foi abordado pelo produtor Bob Ezrin que anunciou ao tecladista que ele não fazia parte da produção. Posteriormente, o músico mudou de postura e passou a frequentar o estúdio apenas quando necessário. 

“Então, depois de trabalharmos por algumas semanas, Rick ficava no estúdio o tempo todo, desde o momento em que começávamos pela manhã até quando terminávamos a noite. Isso não era incomum. Um dia, Bob Ezrin me perguntou por quê. E eu disse: ‘Você não entendeu? Ele acha que está produzindo o disco’. Ele respondeu: ‘Não seja ridículo’. E eu disse: ‘Ele quer, ele quer o ponto. Você notou como ele ocasionalmente faz…’ e Rick não é muito articulado – ‘Uh, uh, uh, eu não gosto disso’. Ezrin diz ‘Sim, é bastante irritante’. Eu disse: ‘Ele acha que isso é produção de discos, pergunte a ele’. Ele voltou e disse: ‘Você está absolutamente certo. Bem, eu disse a ele que não.’ E depois disso Rick nunca mais apareceu, a menos que precisássemos de uma parte do teclado. Ele ficou chateado. Ele tocava cada vez menos e geralmente não estava interessado de verdade. Se ele pensasse que havia escrito uma boa parte de teclado, ele a guardaria e a colocaria em um de seus terríveis álbuns solo. Ele não queria compartilhar nada com ninguém, ele ficou muito seco.”

Por fim, Waters narrou o episódio que o levou a demitir o tecladista. Em sua versão, Wright se ausentou das sessões de gravação, o que fez necessário o desligamento do integrante sob ameaça de processo.

“De qualquer forma, estávamos no sul da França fazendo o disco e eu renegociei um acordo com a Sony para conseguir mais alguns pontos, mas no fim, o acordo era que eles queriam o disco no final de outubro. Todos tiramos férias em agosto, fiz um cronograma para quando nos reencontrássemos em 5 de setembro. Percebi que era impossível. Perguntei a Ezrin se ele faria o restante das partes do teclado na semana que começava em 28 de agosto. Ele disse: ‘Oh meu Deus, tudo bem’. Pedi ao Steve O’Rourke [empresário da banda] para ligar para Rick. Alguns dias depois, O’Rourke encontrou Rick na Grécia. A mensagem era: ‘Diga a Roger para se foder!’ Então eu dei a ele um ultimato para fazer o que ele disse e terminar o registro, ficar com sua parte inteira e sair em silêncio depois, ou eu o veria no tribunal.”

No início de 1980 Richard Wright se juntou ao Pink Floyd durante a “The Wall Tour” como músico contratado. Graças a ameaça de Waters em mover um processo contra o tecladista, a demissão levou anos para vir a público. 

O clima da banda sob o olhar de Roger Waters 

Em 2021, em entrevista ao podcast WTF de Marc Maron – via Guitar World – Roger Waters disse que David Gilmour e Richard Wright tornavam a banda um ambiente tóxico. Foco da reclamação de todos os antigos membros do grupo, o baixista afirmou que os demais tentavam o derrubar. 

“Eu acho que é muito importante que saí da banda naquele momento. Eu estava em um ambiente muito tóxico. Eu estava perto de algumas pessoas, bem, David e Rick, principalmente, que estavam sempre tentando me arrastar para baixo. Eles estavam sempre tentando me derrubar de qualquer lugar.”

“[Eles fizeram isso] Ao afirmar que eu era surdo e que não entendia música. “[Eles pensaram] ‘Oh, ele é apenas uma figura chata, tipo de professora que nos diz o que fazer, mas ele não pode afinar seu próprio violão. Eles se sentiam muito insignificantes naquele momento.”

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Tairine Martins
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Tairine Martins é estudante de jornalismo na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Administra o canal do YouTube Rock N' Roll TV desde abril de 2021. Instagram: @tairine.m

18 COMENTÁRIOS

  1. Sempre se achou a cereja do bolo e ele narra apenas sua versão, mas poucos conhecem o outro lado da história que iniciou em 1982 após o álbum the final cut.

  2. Legal Tairine essa matéria e também por reavivar a lembrança agradável da cidade em que estuda, onde tenho profundo carinho em minha formação acadêmica ( Faculdade Viana Júnior).

    Concordo com o Júnior: o Division Bell é um excelente álbum assim como o Wish You Here Were.
    Como músicos isolados, em minha opinião o Gilmour era e é o mais fera. Em documentários que assisti , o Roger diminuía a qualidade musical do Rick, mas uma das melhores músicas do Floyd (Echoes) ele tem forte participação na criação, além de cantar com o Dave!!!
    Os 4 juntos eram demais!!!

    • Eu já conhecia essa estória. Pra mim o Roger Waters sempre foi apenas um grande babaca, tanto que depois foi expulso do Pink Floyd por unanimidade pelos outros integrantes.

  3. O Pink Floyd com Gilmour e sua sutileza nos solos,mostra o quão grande ele é,toda expressão em poucas notas é capaz de emocionar quem ouve,já Roger fora, não possui a mesma pegada e sensibilidade do David Gilmour.

  4. Richard Wright musicalmente falando sempre foi superior a Roger Waters, aliás Waters e um músico muito inferior a muitos baixistas do progressivo. Coincidência ou não os melhores discos ou álbuns do PF estão na primeira parte dia anos 70, mais precisamente até Wish You are here. Roger Waters ego ditador!

  5. Cada vez mais eu tenho perdido interesse nos albuns do PF que o Roger waters participou mais. o cara que é contra o fascismos, Mas olha a postura dele na época e como é hj. Puta cara hipócrita. Sem David,Nick e Rick, waters não era nada. E até hj ele não é nada. Sobrevive graças as musicas do pink floyd, pq seus discos solos são horriveis.(Ninguem vai ao show dele pra ouvir musica solo. Pessoal quer ouvir another brick in the wall.) Refez DSOTM em sua visão atual e conseguiu fazer um chorume musical. O cara nem pra se reinventar consegue. Só sabe cantar como se tivesse acabado de acordar depois de um porre,cheio de sono e cansado. Só sabe escrever as mesmas musicas desde o the wall. Superestimado demais e que não fará falta pra ninguem daqui um tempo. Mas na visão dele, ele é deus

  6. Waters , um egoísta nato e sem criatividade fez bem em sair do pf em 86 , hoje em dia procura artstas do rock para enfeitar sua triste carreira sem os integrabtes do floyd

  7. Acho que a história deixou claro em que lado da balança realmente estava o talento. O Pink Floyd seguiu, fez coisas ótimas, e Waters está até hoje arrastando correntes com o que fez naqueles anos em que quem fazia a maior parte eram os outros caras.

    • Você precisa avisar os outros caras que eles faziam a maior parte urgentemente. Até hoje eles e o Waters pensam que ele compôs a maior parte. Os produtores e o escritório de direitos autorais e propriedade intelectual inglês também não sabem. Ninguém sabia!
      Esta “informação” só você tem. rsrsrsr

      • Você, igual ao Waters, não deve realmente entender nada de Música. Está tudo gravado desde 1967. Aprenda a ouvir Música e escute tudo de novo. Mas lembre-se que a quantidade não tem nada a ver com a qualidade. Waters, o baixista perna-de-pau, que precisava de Wright para afinar seu instrumento e de Gilmour para compor seus arranjos de baixo, impôs sua personalidade egoísta aos poucos e quando conseguiu a quantidade a que você se refere, resolveu demitir Wright. Ora, Summer ’68, The Great Gig in the Sky, Paint Box e Echoes valem muito mais do que a xaropada adolescente do The Wall inteiro. Para escrever sobre Música, não basta ter um par de ouvidos, entendeu bem?

  8. Roger é complexo. Seu talento como compositor é inegável – basta ouvir ÇA IRA, a ópera que compôs sobre a Revolução Francesa, e algumas pérolas de sua carreira solo para atestar isso. Mas sua posição quanto ao antigos companheiros de banda é controversa: de forma quase stalinista vem tentando “apagar” a figura de David Gilmour – na última turnê, chegou ao cúmulo de reescrever a história da banda tirando Gilmour até das fotos, sem falar em Comfortably Numb sem guitarra… Seu posicionamento político também é controverso: a coragem e consistência que tem para defender a causa palestina não demonstra para denunciar a agressão de Putin à Ucrânia…

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