Como já antecipado por Edu Falaschi, o conflito entre o vocalista e os remanescentes de seu período no Angra se encaminhou para um fim. A principal razão — uma situação de quase uma década envolvendo direitos autorais — está resolvida.
Felipe Andreoli comenta situação
Em entrevista ao Heavy Talk, o baixista do grupo e um dos remanescentes do período com Falaschi, Felipe Andreoli, comentou o atual status da relação e compartilhou algumas reflexões. O músico disse que ainda não foi possível desenvolver uma nova amizade — até por questões geográficas impedirem um encontro —, mas confirmou que ao menos o conflito foi solucionado.
Conforme transcrição do site IgorMiranda.com.br, Felipe declarou inicialmente:
“Não dá para ser hipócrita e dizer que a gente está super brother, marcando um cafezinho. Mas acho que isso até pode acontecer. É uma questão de ter oportunidade. O Edu está morando em Minas e eu moro em Jundiaí, a gente não se encontra pessoalmente há muitos anos. O fato é que a gente conseguiu conversar, se acertar e encontrar um um ponto comum, que é nada além do que o correto e justo para todos.”
Andreoli comentou a importância de haver um acordo em relação aos direitos autorais do Angra, pois os frutos do trabalho se revertem para a família dos músicos.
“Ele estando ou não na banda, o legado que construímos juntos é para sempre. Além de ser para os fãs, é também um legado para a família dele. São bens. Quando um compositor se vai, as músicas, as composições dele, os discos que ele participou, são herança para a família dele. Era muito importante acertar tudo, deixar tudo às claras, para que ele possa fazer as coisas dele e para que o Angra possa fazer as nossas coisas.”
Ainda de acordo com o baixista, o assunto também é discutido com Aquiles Priester, baterista do grupo entre 2001 e 2007 e atual parceiro de Falaschi na carreira solo do cantor. Nas palavras de Felipe, “nossa intenção é que seja tudo feito da forma mais clara e justa possível”.
Sentimentos ruins, futuro e relação pessoal
Também durante a entrevista, Felipe Andreoli admitiu que “aconteceram muitas coisas” nos últimos anos que “acabaram atrapalhando as negociações”. O baixista citou que “sentimentos ruins” vieram à tona e atrasaram o acordo.
“São coisas legítimas, não tô aqui tirando a razão de ninguém porque cada um sabe onde o calo aperta, mas o tempo muitas vezes é necessário para que as pessoas possam ter essa tranquilidade de parar, conversar e chegar a um acordo.”
O baixista destacou nunca ter rompido contato com o cantor. Porém, ele afirma ter tomado para si “essa bandeira de ser o cara que iria finalmente colocar um fim nessa nesse mal-estar e fazer o que precisava ser feito”.
Por fim, Andreoli deixou claro que “qualquer coisa pode acontecer” no futuro — inclusive um encontro pessoal dos ex-colegas e uma eventual reaproximação como amigos. Ele refletiu:
“Tocamos junto por muitos anos, vivemos muita coisa juntos, conquistamos muitas coisas juntos, passamos por muito perrengue junto também. Quando tem uma separação, os fãs vão muito para o lado musical: ‘ah, aquele cara que saiu’. Mas não se ligam muito que essa separação também é num nível pessoal para os membros da banda. Sempre tive uma amizade muito legal com o Edu. Com certeza vai ser legal se reencontrar e poder conversar numa boa de novo, já tendo colocado para trás todas as partes burocráticas que tinham que ser resolvidas.”
Entenda o conflito entre Angra e Edu Falaschi
As divergências entre Angra e Edu Falaschi no que diz respeito a direitos autorais começou em 2015. Em entrevista de 2020 ao Heavy Talk, o guitarrista Rafael Bittencourt contou que o cantor, membro da banda entre 2000 e 2012, “fez uma grande besteira”.
“Ele fez um contrato com uma editora musical e em um anexo ao contrato, ele colocou as obras dele, com as autorias dele, só que completamente diferentes dos cadastros já feitos, ou seja, acordos existentes. Nessa lista, tem músicas que nem são dele. Tem músicas do Andre Matos, músicas até de outras bandas. Ele assinou para a editora constando, por exemplo, músicas do Iron Maiden e do Genesis.”
Isso, de acordo com o guitarrista, gera duplicidade nos cadastros de direito autoral. Então, todos os envolvidos ficaram sem receber o rendimento dessas obras. Edu, em entrevista ao empresário Paulo Baron, explicou que o erro foi cometido pela editora e que também foi prejudicado.
Já em 2017, Falaschi anunciou que faria uma turnê chamada “Angra Years”, cantando músicas de seu período no grupo. Porém, uma notificação extrajudicial em nome de Bittencourt foi enviada para impedir o uso da marca da banda. A tour, então, foi rebatizada “Rebirth of Shadows”.
No ano de 2019, o DVD “Temple of Shadows in Concert”, em que Edu interpreta com orquestra as músicas do álbum “Temple of Shadows” (2004), do Angra, foi gravado e lançado apenas no Japão. Em entrevistas, os envolvidos contaram que foram impedidos de disponibilizar o material no Brasil.
Ao Podihhcast, Aquiles Priester disse que os músicos creditados como autores das canções originais “não querem liberar” o lançamento em território nacional “porque eles (responsáveis pelo Angra) viram a qualidade que tem o produto”.
“Os autores das músicas lá no Angra não querem liberar, não querem chegar a um acordo financeiro para que seja lançado no Brasil, porque eles viram a qualidade que tem o produto. Eles sabem que se isso for lançado no Brasil, vai ser de fácil acesso para todos. As pessoas vão comparar: isso aqui é o Edu, o Aquiles e o Fabio Laguna (tecladista), com o Roberto Barros (guitarrista), Diogo Mafra (guitarrista) e Raphael Dafras (baixo), com uma p*ta orquestra, fazendo o show mais importante da história do heavy metal brasileiro.”
O anúncio de que os conflitos haviam chegado ao fim se deu em dezembro último, durante entrevista de Edu Falaschi ao Flow Podcast. O cantor adotou cautela ao destacar que ainda não se encontrou pessoalmente com os ex-colegas para selar a paz.
“Todos sabem que rolou uma ruptura quando saí. E quando comecei a carreira solo, teve um momento tenso. Agora, nos resolvemos. Não ficamos brothers, não nos encontramos pessoalmente, mas eles vão relançar o catálogo da banda, eu vou lançar o meu DVD ‘Temple of Shadows in Concert’ — que não foi lançado no Brasil por causa de direitos —, vou lançar o DVD do ‘Vera Cruz’ com o ‘Rebirth’ completo. Finalmente, né?”
O vocalista reforçou ter ficado muito feliz com o encaminhamento para uma paz entre ambos os lados.
“Acho que estamos chegando a esse amadurecimento para virar essa página. A parada de se acertar com o lance dos direitos para mim é tipo: ‘p#ta, car#lho, sai essa zica’.”
Como já mencionado, o Angra pretende relançar os álbuns de sua discografia, ou ao menos os trabalhos gravados com Edu — a saber: “Rebirth” (2001), “Temple of Shadows” (2004), “Aurora Consurgens” (2006) e “Aqua” (2010). Edu comentou:
“Eles estão liberados para relançar a discografia inteira do Angra. Notícia boa para os fãs, pois ficava essa discussão e os fãs já estavam de saco cheio. Agora resolveu essa parte (de direitos autorais).”
Por fim, Falaschi disse manter contato mais regular apenas com Felipe Andreoli. Em 2020, o vocalista havia revelado que voltou a conversar com Kiko Loureiro após oito anos.
“Não tive contato com os caras pessoalmente. Com o Felipe eu falo mais, via WhatsApp, mas é isso, um abismo perto do que era antes. O tempo vai dizer, mas acho que todo mundo está mais de boa.”
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