Green Day reencontra em “Saviors” o pessoal na política

Duas décadas após “American Idiot”, trio punk americano mantém a empatia e o dom para a melodia

“American Idiot” (2004) foi, ao mesmo tempo, uma benção e uma maldição para o Green Day. Serviu para ressuscitar a carreira da banda e cimentou seu legado na história do rock – a entrada deles no Rock and Roll Hall of Fame se deve em grande parte a este álbum –, mas também fez todo material lançado por eles posteriormente soar menor em comparação.

O grupo havia feito um disco ambicioso com “A” maiúsculo que depois virou musical na Broadway. O que viria depois? O sucesso de “American Idiot” permaneceu muito além de um ciclo. Enquanto o Green Day queria fazer outras coisas, eram acusados de se repetirem ou não se esforçarem o suficiente nas composições.

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Isso já tinha ocorrido de certa maneira na carreira deles. “Dookie” (1994) vendeu mais de 10 milhões de cópias e ajudou a transformar o pop punk no subgênero dominante do rock. A reação negativa veio na forma da mesma cena de onde surgiram os acusando de se venderem. Os discos que chegaram após essa primeira onda de sucesso pareciam uma reação a isso — e a banda passou por um período complicado tentando encontrar um equilíbrio entre se provar punk autênticos e manter sua relevância comercial.

Dito isso, quer dizer que “Saviors”, novo álbum do trio, é uma obra prima prestes a redefinir a cultura? Sei lá. A indústria musical mudou demais nos 20 anos desde “American Idiot”. O Green Day também mudou. Billie Joe Armstrong (voz e guitarra), Mike Dirnt (baixo) e Tré Cool (bateria) estão na casa dos cinquenta agora. As preocupações juvenis eram um passado recente em 2004. Mas a empatia permanece e, principalmente, o dom para a melodia.

O trunfo de “Saviors” vem do fato de não emular a famosa ópera rock do Green Day ou se preocupar em ser deliberadamente despretensioso. O trio soa confortável em sua própria pele. Ninguém tenta reinventar a roda nesse álbum. Entretanto, nenhuma canção do grupo lançada nos últimos 20 anos é tão grudenta quanto “Corvette Summer”, “Dilemma” ou “1981”.

Faz-se presente a mensagem politizada que eles tanto discutiram nas entrevistas em antecipação ao lançamento. Contudo, as músicas são mais retratos cotidianos dos problemas enfrentados por pessoas atualmente do que hinos panfletários. “American Idiot”, vale lembrar, ressoou em tanta gente não só pela mensagem anti-George Bush, mas também por dar uma representação a uma juventude soterrada sob o peso de alienação, doença mental e medicação.

Política é tanto pelo pessoal quanto pelo ideológico. O Green Day parece ter percebido isso em “Saviors”.

*Ouça “Saviors” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.

*O álbum está na playlist de lançamentos do site, atualizada semanalmente com as melhores novidades do rock e metal. Siga e dê o play!

Green Day — “Saviors”

  1. The American Dream Is Killing Me
  2. Look Ma, No Brains!
  3. Bobby Sox
  4. One Eyed Bastard
  5. Dilemma
  6. 1981
  7. Goodnight Adeline
  8. Coma City
  9. Corvette Summer
  10. Suzie Chapstick
  11. Strange Days Are Here to Stay
  12. Living in the ’20s
  13. Father to a Son
  14. Saviors
  15. Fancy Sauce

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

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