Crítica: “Duna: Parte II” busca mais conexão dos espectadores com seu universo

Cineasta Denis Villeuneve não abandona o épico, mas dá foco também a rituais, crenças e gestos da obra de Frank Herbert

A riqueza de conceitos e detalhes do universo de “Duna”, criado pelo escritor Frank Herbert, é algo incontestável. E não falta compreensão a respeito disso por parte do longa-metragem homônimo de 2021, dirigido por Denis Villeuneve (“A Chegada”, “Blade Runner 2049”) e o primeiro de uma duologia.

Nesta que foi a primeira parte das adaptações planejadas pelo franco-canadense, tudo parecia pensado para estabelecer uma contemplação à grandiosidade daquele mundo. Entretanto, por vezes todo esse fator épico parecia distante demais do público e muito “cinza”. Mesmo que a textura bege onipresente das imagens fosse pensada para transmitir a aridez do planeta Arrakis, muitos dos acontecimentos soavam vazios por trás de uma casca tecnicamente exuberante. 

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Passada a apresentação desse universo no primeiro filme, a segunda etapa da história traz a jornada de Paul Atreides (Timothée Chalame) assumindo de fato a liderança como um messias do povo Fremen na luta contra o domínio dos Harkonnen em Arrakis. Dito isso, em “Duna: Parte II” — que estreia nesta quinta-feira (29) nos cinemas brasileiros — Denis Villeuneve parece naturalmente almejar com que a contemplação ao épico puramente fique um pouco de lado, aproximando mais o espectador desse universo e das peças do seu tabuleiro.

Isso não significa que o fator épico tenha sido abandonado. Longe disso. Mas esse novo Duna é um longa que entra mais a fundo na mitologia dessa narrativa, dos Fremen aos Harkonnen, sendo muito mais um longa-metragem sobre e com bastante tempo de tela dedicado a diálogos, gestos e ações que evidenciam detalhes de crenças e rituais desses polos da história.

Até a encenação de Villeuneve é mais intimista em diversos momentos. Aqui, por meio de enquadramentos mais fechados, a câmera do diretor se posiciona mais próxima do que vemos, apostando em close-ups constantes nos rostos do seu elenco e em alguns planos detalhe nas mais variadas ocasiões que envolvem tais situações ritualísticas específicas. 

Problema se repete, mas em menor escala

O grande problema do primeiro filme, entretanto, de certa forma ainda está presente em alguns aspectos da continuação. Por mais que haja essa aproximação, sobretudo no início da projeção ainda é possível de nos sentirmos distantes daquilo que é grandioso — e até dos personagens, como no beijo de duas figuras centrais ou então em uma conquista fundamental de Paul Atreides logo em seguida. Apesar de mais uma vez a técnica de Denis Villeuneve e cia. nos visuais — acompanhada da trilha sonora de Hans Zimmer — estontearem olhos e ouvidos dos espectadores, tais sequências são, no fundo, difíceis de despertar uma empatia ou conexão mais genuína.

Felizmente, esse lado da obra melhora quando o diretor parece apostar numa intensidade alicerçada por um fator humano — sobretudo as atuações do seu elenco em certas passagens. Mais uma vez refletindo a questão da importância de gestos e rituais, alguns dos momentos que mais causam comoção são os relacionados a ascensão de Paul como o missionário dos Fremen na busca de um “Paraíso” e no surgimento de Feyd-Rautha (Austin Butler) como liderança entre os Harkonnen.

Seja em um discurso inspirado de Atreides para o seu povo ou em uma luta selvagem de Rautha contra três oponentes simultaneamente, a dupla Chalamet e Butler entrega interpretações pulsantes. Despertam em quem os assiste o entusiasmo por um herói e a ojeriza por um vilão de forma certeira. 

É quanto a isso que “Duna: Parte II” mostra potencial de fato. Daqui pra frente, quando Dennis Villeuneve propõe uma luta corpo a corpo e o início de uma guerra com uma batalha iluminada por um belo pôr do sol ou pelas luzes intensas de explosões, estamos mais propensos a de fato enxergar a jornada de Paul Atreides de forma mais orgânica.

O universo de Frank Herbert pode ainda não parecer perfeito. Contudo, demonstra-se consideravelmente mais tangível — consequentemente, melhor — por meio dessa aproximação vista na segunda parte.

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Guilherme Salomão
Guilherme Salomãohttps://igormiranda.com.br
Guilherme Salomão é Criador de conteúdo, Crítico de Cinema e Produtor Audiovisual carioca apaixonado por Cinema e Música desde que se conhece como gente. Administrador por formação, foi autor do TCC “O Poder da Marca no Cinema: O Caso Star Wars de George Lucas” na PUC-Rio, obtendo nota máxima em forma de reconhecimento pelo seu trabalho e dedicação. Cinéfilo de carteirinha, na produção já se dedicou a projetos que vão desde curtas e longas-metragens até videoclipes de artistas iniciantes.

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