Os mundos de Kate Bush e Pink Floyd são conectados desde os primórdios da carreira da cantora. O grupo foi fundamental para trazer a artista à atenção do mundo. Após ser apresentado ao trabalho por um amigo da família, coube a David Gilmour contratar um produtor para gravá-la.
O guitarrista e vocalista também ajudou a mostrar o material dela para a gravadora EMI, que a levou para seu cast, dando início a uma história gloriosa. Os dois até colaboraram em apresentações nos anos 1980, quando a crise com Roger Waters e o rompimento já estavam estabelecidos.
Porém, nem isso fez Bush se esquivar de uma crítica. Assim como vários fãs, a intérprete não assimilou o filme “The Wall”, estrelado por Bob Geldof. Em entrevista de 1982 à Melody Maker, resgatada pelo site Far Out Magazine, ela começou exaltando o disco.
“Fui muito influenciada pelo álbum ‘The Wall’ porque gosto da maneira como o Floyd entra direto nessa área emocional e trabalha com sons como imagens.”
Ainda assim – ou até por isso mesmo –, a produção cinematográfica não conseguiu surtir o efeito imaginado.
“Acho que o problema do filme é que, embora seja devastador como obra de arte, não é real o suficiente. Todo o filme é baseado negativamente.”
Faltou felicidade a Pink
Exemplificando a situação, Kate entende que o protagonista merecia algumas “vitórias” pelo caminho, em vez de passar o tempo todo no espectro negativo.
“Nunca durante a vida de Pink houve um momento de felicidade, que eu sei que existe na vida de todo ser humano. Mesmo que você tenha a vida mais horrível de todas, há sempre um pequeno momento em que você sorri por um segundo ou se apaixona por alguém e se sente feliz – nem que seja por apenas dez minutos.”
Lançado em junho de 1982 – precedido por uma estreia no Festival de Cannes, na França, em maio – “The Wall” foi orçado em US$ 12 milhões e arrecadou em torno de US$ 22,2 milhões em bilheteria à época.
“The Wall” e Bob Geldof
Curiosamente, o próprio Bob Geldof também possui seus problemas para com a película. Em sessão de perguntas e respostas no EnergaCamerimage Film Festival, na Polônia, transcrita pelo Deadline e repostada pelo Loudwire, o artista e ativista irlandês confessou:
“Não gosto do filme. Acho que fui muito mal nele. Assisti duas vezes e em ambas fiquei constrangido.”
O líder do The Boomtown Rats e idealizador do Live Aid ainda admitiu só ter conseguido atuar porque a exigência era mínima.
“O diretor, Peter Bizou, pegou leve comigo. Caso contrário, nem teríamos terminado. Ficava envergonhado dia após dia do quão ruim eu era. Não gosto do meu visual nem de como interpretei.”
Geldof ainda contou o motivo que o fez aceitar viver Pink, o personagem principal, mesmo com nenhuma experiência real.
“Dinheiro. E o pior é que nem isso foi tão bom. Os caras do Pink Floyd eram hippies, terríveis em administrar o que ganhavam. Fora isso, estava meio cansado da banda e queria um novo desafio.”
Bob concluiu deixando claro não se sentir isolado. Afinal, muitos outros músicos tentaram atuar e não conseguiram boas performances. Sobrou até espaço para uma teoria.
“David Bowie não era um bom ator, Sting não é um bom ator e eu, definitivamente, não fui um bom ator. Frank Sinatra era e Elvis Presley também. Em ‘Jailhouse Rock’ e ‘King Creole’, você pode ver que há um cara lá que sabe atuar. Então, por que Elvis e Frank conseguiram fazer isso, mas David Bowie e Bob Dylan não conseguiram?
É porque Sting, Bowie, Dylan e Bob Geldof escrevem suas próprias canções. Frank Sinatra e Elvis não compunham, eles interpretavam músicas que outras pessoas escreviam. Então, o trabalho deles era encontrar a psicologia de uma música. Meu trabalho é me projetar no palco. Estou cantando coisas que estão na minha cabeça.”
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Parece que o argumento de Kate Bush faz referência ao modelo “jornada do herói”, mas não procede, porque o filme mostra o casamento de Pink, ou seja, ele teve momentos de felicidade no início do casamento. Além disso, nenhum roteiro é obrigado a seguir as fases da “jornada do herói”.
Teoria interessante.