Há anos, Marty Friedman direciona críticas aos guitarristas que focam somente nos solos tradicionais. Ainda em 2003, o ex-integrante do Megadeth opinou que, para manter o instrumento de seis cordas vivo, seria necessário “fazer boa música que inclua a guitarra” e deixar de lado o exibicionismo.
Durante recente entrevista à Guitar World, o músico retomou o assunto e foi além. Em sua opinião, os guitarristas solo têm a tendência de querer impactar o público, optando, muitas vezes, pelo clichê e não exercitando a criatividade — o que é um grande problema.
Ele declarou:
“Normalmente, o guitarrista solo chega, faz um solo de oito compassos, toca um monte de licks idiotas, talvez acrescenta algo sofisticado que vai impressionar. Mas estou substituindo o vocalista quando estou solando, o que significa que canto com minha guitarra. Então, em vez de dizer: ‘aqui está o solo obrigatório de oito compassos’, se necessário, serei egoísta, porque é exatamente isso que eu quero, em vez de um solo chato e antigo.”
Sendo assim, esse tipo de comportamento, para Marty, foi o responsável por “matar” os solos nas canções mais radiofônicas nos Estados Unidos. Por isso, os moldes e fórmulas tradicionais devem ficar de escanteio, segundo o músico.
“Essa mentalidade matou os solos de guitarra na música mainstream americana. A obrigação de dizer: ‘preciso fazer algo chamativo e sair fora’ é a morte da noção do solo. Espero que o solo de guitarra tradicional tenha uma morte lenta e dolorosa. Os solos de guitarra precisam ser criativos. Eles precisam de algo para manter os ouvintes envolvidos, principalmente aqueles que não estão aprendendo a tocar e apenas ouvem.”
Música para um público mais amplo
Para exemplificar, o artista citou o deslumbre que instrumentistas mais novos têm pelos solos enquanto ainda estão aprendendo a tocar:
“Quando você está aprendendo a tocar, você tende a se impressionar com tudo que não consegue fazer, certo? E se você é jovem e está apenas aprendendo guitarra, essa emoção pode ser mágica. É tipo: ‘como eles fazem isso!?’. Esse elemento é incrível… mas significa menos que zero aos olhos de todos. Precisamos de música de guitarra que faça essas pessoas sentirem algo. É responsabilidade dos guitarristas trazer algo aos solos que alcance isso.”
Por fim, completou, deixando a seguinte mensagem:
“As coisas parecem promissoras porque há muitos ótimos trabalhos de guitarra. Existem muitas abordagens interessantes por aí, feitas por pessoas que olham para o instrumento de maneiras interessantes. Todas aquelas outras coisas batidas de oito compassos têm que acabar. Precisa haver algo melodicamente único que nos conecte a um nível superior. É isso que procuro na guitarra hoje e espero que seja o que os jovens músicos também procuram.”
Guitarra no Japão
Há anos um japonês honorário, Marty Friedman sempre exaltou como o público nipônico consome música de um modo diferente em comparação ao mercado ocidental. Em postagem de 2022 no Facebook, o instrumentista falou sobre o que é assunto no momento. E lhe diz muito respeito.
“Os solos de guitarra estão nos trending topics do Japão. Você pode estar se perguntando o motivo. Pelo que está sendo reportado, muitas pessoas pulam para a faixa seguinte quando chega a hora deles. Não me surpreende. Um hit mainstream tem muitas pessoas envolvidas antes mesmo de sair. Compositores, letristas, produtores, arranjadores, músicos de estúdio para a demo, outros para a master, pessoas das gravadoras, engenheiros e técnicos. Para não citar quando há os videoclipes.”
Para Marty, isso leva os produtores a considerar o solo de guitarra como a primeira coisa com a qual sentem que podem economizar tempo, energia, comprometimento e dinheiro.
“Especialmente na música mainstream, um solo deve ter muito cuidado, magia e razão de estar lá. Embora o Japão sempre tenha sido mais receptivo, o fato de estar lá por obrigação torna o solo menos inspirador. Eu mesmo, às vezes, acabo pulando. Mesmo que meu lado fã goste, a parcela músico entende que precisa ser algo muito especial para justificar a presença.”
Marty Friedman, Megadeth e Argentina
Marty Friedman virá à América do Sul daqui pouco mais de dois meses. O guitarrista subirá ao palco da Arena Sur, no dia 18 de abril, com a sua banda solo – formada atualmente por Chargeeeeee (bateria), Wakazaemon (baixo) e Naoki Morioka (guitarra).
Por sua vez, o Megadeth tem três shows marcados em Buenos Aires, na Argentina, no mesmo período. Diferentemente de outras datas da “Crush the World Tour”, as apresentações contarão com uma “grande surpresa”, segundo o líder Dave Mustaine. Ainda não há qualquer confirmação oficial, mas a hipótese da participação de Friedman tem sido levantada.
Em 2023, após mais de duas décadas afastado, o guitarrista participou de shows do grupo no Budokan, em Tóquio, Japão, e no festival alemão Wacken Open Air. Nas palavras de Mustaine, estar com o amigo novamente “foi um momento muito sentimental”.
Marty Friedman integrou o Megadeth entre 1990 e 2000, participando da fase mais bem-sucedida da banda. No período, gravou os álbuns “Rust in Peace” (1990), “Countdown to Extinction” (1992), “Youthanasia” (1994), “Cryptic Writings” (1997) e “Risk” (1999).
Ao deixar o grupo, se mudou para o Japão, onde vive desde então. Tornou-se figura pública reconhecida, participando de programas televisivos populares e eventos tradicionais do país. Nos últimos tempos, voltou a trabalhar com maior frequência visando o mercado ocidental.
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