Desde “Vingadores: Ultimato” (2019), a Marvel nunca mais foi a mesma. Apesar das séries completando algumas lacunas do Universo Cinematográfico Marvel (UCM), algumas escolhas de enredo equivocadas se mostraram em bilheterias bem abaixo do esperado.
Engana-se, contudo, quem pensa que o alto comando do UCM está inerte: a Marvel está, discretamente, o resetando.
Os últimos resultados não têm sido bons. No cinema, “As Marvels” e “Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania”, ambos lançados em 2023, não agradaram a crítica e também não renderam financeiramente como o esperado. Na TV, o retorno das antigas séries produzidas em parceria com a Netflix ao cânone parece ter sido mais comemorado pelos fãs do que lançamentos como “Invasão Secreta” (2023), que teve um orçamento grande demais para o que entregou.
O caso Jonathan Majors
“Quantumania”, em específico, traz problemas ainda maiores. O filme deveria apresentar o vilão Kang, o Conquistador, que seria a nova ameaça a todo o UCM, como foi Thanos nos primeiros anos – e assim o faz. Acontece que não apenas o personagem não entrega o que prometia, como a escalação de Kang também traz problemas fora das telas.
Seu intérprete é Jonathan Majors, ator até então em ascensão, mas que surpreendeu a todos – fãs e Marvel – ao ser condenado por agredir sua companheira. A Disney, empresa “mãe” da Marvel, não costuma tolerar feridas tão sérias à reputação de seus colaboradores e despediu Majors horas depois da confirmação da sentença.
Isso afetou todos os planos futuros da Marvel de forma profunda. Kang, dentro do UCM, é um viajante no tempo, com diversas variantes que já foram mostradas em uma cena pós-créditos, em um congresso conhecido como Conselho dos Kangs – todos eles vividos por Majors. A fase atual da franquia deve culminar em dois novos filmes dos Vingadores, um deles com o subtítulo “Dinastia Kang”, que deverá ser alterado. Mas ao mesmo tempo, é a oportunidade perfeita para um reboot.
Pisando no freio
Fontes ligadas ao The Hollywood Reporter garantem que Kevin Feige, o CEO da Marvel Studios, não está de braços cruzados esperando a situação piorar. Muito pelo contrário.
O chefão e sua equipe já trabalham em um plano para resetar o UCM, não de forma brusca ou mesmo evidente, mas sutilmente. O movimento é chamado internamente de “creative retooling”, o que pode ser traduzido como “reequipamento criativo”.
Nomes como Eric Pearson, roteirista famoso pelas boas conclusões de histórias, estão sendo contratados para revisar próximos lançamentos. Joanna Calo, showrunner da aclamada série “O Urso”, foi escalada para o roteiro do filme dos “Thunderbolts”, por exemplo. Na TV, mudanças também estão acontecendo para evitar erros do passado.
A ordem, na verdade, vem de cima: Bob Iger, CEO da Disney, afirmou em reunião com acionistas no último dia 7 de fevereiro que a ideia é diminuir o volume de lançamentos. Dessa forma, há não só um corte de custos a curto prazo, como também um tempo criativo para que os roteiristas e diretores trabalhem, além de fazer com que o próprio público ganhe um “respiro”.
Sendo assim, os únicos lançamentos de 2024 devem ser o filme “Deadpool e Wolverine” (que traz a aguardada estreia do personagem de Ryan Reynolds no UCM) e as séries “Agatha: Darkhold Diaries” e “Echo” – essa última já liberada em janeiro. Títulos como “Capitão América: Admirável Novo Mundo” e “Blade” também sofreram adiamentos, muito por causa da greve em Hollywood em 2023; algo que, para a Marvel, veio a calhar.
Quarteto Fantástico e o novo Universo Marvel
Ao mesmo tempo em que tenta frear o trem descarrilhado, a Marvel se prepara para um futuro que parece mais promissor do que aquele que todos tinham em mente. “Deadpool e Wolverine”, lançamento desse ano, promete aprofundar mais a questão dos X-Men no UCM, algo que já foi iniciado em outras produções e que é um pedido antigo dos fãs. A volta de Hugh Jackman ao papel do Wolverine, ainda que só para esse filme, também é um aceno aos fãs de longa data e deve agradar.
Mas a notícia recente que mais gerou barulho foi a confirmação do elenco do filme do Quarteto Fantástico, outro momento muito aguardado. Ebon Moss-Bachrach (Ben Grimm, o Coisa), Vanessa Kirby (Sue Storm) e Joseph Quinn (Tocha Humana) foram bem recebidos, mas o grande nome confirmado foi o de Pedro Pascal como Reed Richards. O astro de “Game of Thrones”, “The Mandalorian” e “The Last of Us” é provavelmente o ator mais requisitado dos últimos tempos.
Chama a atenção também a forma como o anúncio foi feito: com o rosto dos atores em uma ilustração do Quarteto Fantástico dos anos 60, sugerindo que o filme pode ter alguma ligação com a estreia da equipe nos quadrinhos. “Quarteto Fantástico nº 1”, de Stan Lee e Jack Kirby, marca não só a primeira aparição da Famíla Fundamental em uma HQ, mas também o início do universo Marvel como o conhecemos. No caso do UCM, pode ser muito bem um reinício.
A presença do Quarteto Fantástico – e dos X-Men – muda muito as estruturas hierárquicas no Universo Cinematográfico Marvel atual. Os dois times de heróis têm um peso e uma influência tão grande quanto a dos Vingadores, que no momento estão fragmentados e devem passar por reformulação. É altamente provável que a figura de Reed Richards assuma um protagonismo que já foi do Homem de Ferro, entre outras mudanças, uma delas em relação ao antagonista.
Não se sabe ainda se o plano é substituir apenas Jonathan Majors ou tudo relacionado a Kang. No entanto, enquanto os X-Men possuem adversários mais nichados, o Quarteto é inimigo de pelo menos dois nomes muito fortes: Galactus, o Devorador de Mundos e o Doutor Destino. O segundo é tido pelos fãs como o maior vilão da Marvel e guarda semelhanças com Kang, o que o tornam uma boa opção para substitui-lo.
O Doutor Destino tem relação até mesmo com as “Guerras Secretas”, arco dos quadrinhos que é também o subtítulo do segundo dos dois próximos filmes dos Vingadores, o que pode indicar que sua presença já era pretendida antes de tudo acontecer.
De qualquer forma, mesmo que a fase atual não seja das melhores, não se pode subestimar uma franquia como o Universo Cinematográfico Marvel. Aos fãs desanimados, talvez seja a hora de dar um voto de confiança a Kevin Feige e seus comandados.
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