Desde os primórdios da existência humana, a música é usada para contar histórias e expressar sentimentos que são transmitidos ao longo das gerações. Assim, “The Show Must Go On” assume um papel significativo na história do Queen, ao revelar os bastidores dolorosos da perda de Freddie Mercury.
Entre 1989 e 1990, a banda se dedicou a gravação de “Innuendo”, álbum cujo pano de fundo foi a piora da saúde do frontman, que lidava com o avanço da Aids. Em meio às sessões, o guitarrista Brian May aproveitou uma série de acordes tocada pelos colegas e desenvolveu a base do que se tornou a faixa de encerramento do trabalho.
May levou a estrutura até Mercury que definiu o tema da composição. Em entrevista ao Daily Express, o guitarrista refletiu sobre o significado da música.
“Não discutimos qual era o significado da música, mas era claro e evidente que no fundo era uma tentativa de dar voz aos sentimentos que a valente luta de Freddie contra a Aids criou em todos nós, e até mesmo em Freddie.”
Por estar muito debilitado, Freddie contribuiu apenas com a primeira parte, que norteou Brian no desenvolvimento do resto da letra.
“Ele estava com pouca energia para compor sozinho. Tive uma tarde especial inesquecível trabalhando junto com ele na solidificação da letra do primeiro verso dessa música embrionária, sobre um palhaço cuja maquiagem escondia sua dor, antes de ele sair para fazer outro tratamento. Isso me deu material lírico suficiente para mais tarde expandir para os dois versos finais.”
Gravação de vocais de Freddie Mercury
Com a letra e o arranjo prontos, a gravação dos vocais preocupou os músicos que acharam que os agudos da faixa exigiam mais do que a saúde de Mercury permitia.
“A melodia pedia algumas notas de topo muito exigentes, e eu só consegui ‘demonstrá-las’ em falsete. Eu disse a Freddie: ‘não quero que você se esforce, essas coisas não vão ser fáceis em agudo, nem mesmo para você!’ Ele disse: ‘não se preocupe, vou acertar, querido!’.”
O frontman então colocou em prática a alegoria da composição – que aborda as dificuldades de seguir com a carreira em meio ao avanço da doença – e entregou uma performance vocal memorável, assim como destacado por Brian May.
“Ele, então, bebeu algumas doses de sua vodca favorita. Apoiou-se na mesa de mixagem e… fez uma das performances mais extraordinárias de sua vida. Na mixagem final de ‘The Show Must Go On’, quando você chega em ‘on with the show’, você está ouvindo um homem que fez tudo para entregar seu melhor trabalho.”
Queen e “The Show Must Go On”
“The Show Must Go On” foi lançada como single em 14 de outubro de 1991. A canção gerou grande especulação por parte da mídia que, a partir da letra, criou diversas teorias sobre o estado de saúde de Freddie Mercury. À época, seu diagnóstico ainda não era público.
Em entrevista de 1994 ao The Guardian, Jim Hutton – companheiro de longa data de Freddie – abordou a forma que o músico lidava discretamente com a batalha contra o vírus HIV.
“Para mim, a frase mais autobiográfica foi: ‘My makeup may be flaking, but my smile still stays on’ [‘Minha maquiagem pode estar se desfazendo, mas meu sorriso ainda permanece’]. Não importa o quão doente Freddie se sentisse, ele nunca resmungou com ninguém ou procurou simpatia de qualquer tipo. Era a batalha dele, de mais ninguém, e ele sempre mostrou uma cara corajosa contra as probabilidades cada vez maiores contra ele.”
Freddie Mercury morreu em 24 de novembro de 1991, seis semanas após o lançamento da música. A repercussão da perda do músico impulsionou o desempenho comercial da faixa, que entrou para as paradas de sucesso do Reino Unido.
O álbum “Innuendo”
Décimo quarto álbum de estúdio da discografia do Queen, “Innuendo” é considerado o retorno da banda às suas origens sonoras após vários experimentos na década de 1980. O último trabalho lançado com Freddie Mercury ainda vivo teve um ótimo desempenho comercial, atingindo o topo de diversas paradas europeias.
Mesmo com a saúde debilitada, o frontman participou ativamente do processo de criação. Foi creditado como compositor em sete de doze faixas do álbum e tocou piano e teclado, além de desempenhar o papel como vocalista principal.
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