Como Axl Rose se defende de processo por estupro que teria ocorrido em 1989

Advogados do cantor resgataram entrevista e trechos da autobiografia da responsável pela ação onde ela teria assumido que relação foi consensual

Uma ex-modelo chamada Sheila Kennedy moveu um processo contra Axl Rose por um crime de estupro que teria ocorrido em 1989. A ação contra o vocalista do Guns N’ Roses foi movida no último mês de novembro, na Suprema Corte de Nova York, nos Estados Unidos. 

Ela, que trabalhava para a Penthouse, diz que tinha por volta de 26 anos quando conheceu o cantor em uma casa noturna. Na mesma noite, foram para um quarto de hotel, onde o artista teria cometido o abuso, além de agressão física, imposição intencional de sofrimento emocional e violência motivada por gênero.

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Logo que o caso veio à tona, o artista se manifestou por meio do advogado Alan S. Gutman. Em nota ao site Far Out Magazine, o profissional negou todas as acusações e afirmou que seu cliente nem mesmo lembrava de conhecer a mulher. 

“Embora não negue a possibilidade de uma foto de um fã tirada de passagem, o sr. Rose não se lembra de ter conhecido ou falado com a Requerente e nunca tinha ouvido falar dessas alegações fictícias até então. Sr. Rose está confiante de que este caso será resolvido a seu favor. Simplificando, este incidente nunca aconteceu.”

A defesa do artista encontrou uma maneira de contestar as queixas. Conforme publicado pela Classic Rock, que teve acesso aos documentos, a brecha utilizada pelos advogados do vocalista é a autobiografia da antiga modelo, “No One’s Pet”. Ao longo do livro, lançado em 2016, ela teria confirmado que a relação sexual entre ela e o integrante do Guns N’ Roses foi consensual. 

“Em seu livro de memórias de autoria própria ‘No One’s Pet’, de 2016, Kennedy descreveu o suposto incidente como sexo consensual e observou especificamente: ‘Eu estava bem com isso. Eu queria estar com ele desde o minuto em que o olhei pela primeira vez e agora eu o estava conquistando’.”

O mesmo tipo de declaração teria sido dada durante uma entrevista para o documentário “Look Away” (2021), sobre o abuso sexual de meninas na indústria do rock. A defesa alega:

“Em uma entrevista para o documentário ‘Look Away’, de 2021, Kennedy descreveu a suposta relação sexual desta forma: ‘Foi consentido. Rose não estava tentando me machucar e agiu gentilmente. Estava tudo bem. Ele foi bom… eu não considerei isso estupro. Foi consensual’.”

Na opinião dos profissionais, a queixa veio como uma forma de surfar na New York’s Adult Survivors Act. Até poucos dias antes do processo, a lei abdicava do estatuto de limitações — incluindo o ano em que o crime supostamente ocorreu — para ações de má conduta sexual em ações cíveis. O regimento temporário permitia a entrada de processos antigos dentro do novo prazo estipulado. Sendo assim, justificaram: 

“Apesar de ter feito declarações claras, tanto antes como depois do auge do movimento ‘Me Too’, de que a sua suposta relação sexual com Rose havia sido consensual, a sua posição mudou agora. O fato de que o prazo de prescrição foi reaberto e que ela poderia lucrar alegando – pela primeira vez, quase 35 anos depois – que o incidente não tinha sido de fato consensual, era aparentemente uma oportunidade boa demais para ser desperdiçada. Então ela apresentou essa falsa acusação apenas dois dias antes do vencimento da lei.”

Diante da situação, a defesa de Rose agora direciona uma série de queixas contra a ex-modelo. Ela é acusada pelos advogados do cantor de “envolver-se em conduta irresponsável, fazer declarações materialmente falsas, envolver-se em conduta realizada principalmente para assediar e ferir de forma maldosa o acusado e não contribuir com a investigação de forma honesta”.

As acusações

Atenção: supostos crimes de abuso sexual são descritos nos parágrafos seguintes.

Na ação, Sheila afirma que foi à casa noturna junto de uma amiga, na tentativa de conhecer integrantes do Guns N’ Roses. A ex-modelo foi convidada para o quarto de hotel onde Rose daria uma festa — a amiga ficou de fora porque Axl não a achou “gostosa o suficiente”, segundo o processo.

O relato destaca que a festa foi regada a cocaína, champanhe e outras bebidas alcoólicas. Sheila diz que foi ao banheiro em dado momento e quando saiu, foi pressionada à parede e beijada à força por Axl. O texto jurídico afirma:

“Kennedy achou Rose atraente e não se importou com esse encontro. Ela estava aberta a dormir com ele se as coisas progredissem.”

Porém, segundo Sheila, houve relação sexual não consentida ainda naquela noite, quando apenas Axl, ela, outra modelo e Riki Rachtman (futuro apresentador da MTV) estavam no local. Rose teria transado com a outra modelo, o que teria deixado Sheila desconfortável.

A partir de então, de acordo com a ex-modelo da Penthouse, “Rose começou a agir de forma agressiva” e a “encorajar sexo grupal”, o que não era do interesse dela. Então, Sheila e Riki saíram e foram para o quarto deste, no mesmo hotel.

Após isso, Axl teria agido de forma violenta com a outra modelo que permaneceu. O cantor, então, teria ido até o quarto de Riki, perguntado a Sheila “o que ela estava fazendo ali”, a empurrado em direção ao chão e a arrastado pelos cabelos até seu quarto.

Foi quando, de acordo com Sheila, ocorreu o estupro. A ex-modelo da Penthouse diz ter sido amarrada com as mãos atrás das costas e penetrada por Axl. O processo afirma:

“Nesse ponto, Kennedy, com as mãos amarradas nas costas, estava trancada no quarto, sangrando e vulnerável com Rose, sozinha, enquanto ele estava em uma fúria sexual e volátil. Kennedy tinha acabado de testemunhar Rose fazendo sexo violentamente com outra mulher. Ele arrastou Kennedy para seu quarto como um homem das cavernas e agiu com fúria descontrolada. Rose a impediu fisicamente de sair e a trancou. Kennedy estava preso. […] Rose então penetrou à força no ânus de Kennedy com seu pênis.

Ele a tratou como uma propriedade usada exclusivamente para seu prazer sexual. Ele não usou camisinha. Kennedy não consentiu e sentiu-se dominada. Ela sentiu que não tinha escapatória ou saída e foi obrigada a concordar. Ela acreditava que Rose iria atacá-la fisicamente, ou fazer algo pior, se ela dissesse ‘não’ ou tentasse afastá-lo. Ela entendeu que a coisa mais segura a fazer era deitar na cama e esperar que Rose terminasse de agredi-la.”

Sheila Kennedy afirma ter pasado a sofrer com sintomas de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) sempre que escuta o nome de Axl Rose ou alguma música do Guns N’ Roses. Ela também diz sofrer de ansiedade e depressão desde o caso, comprometendo sua carreira.

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Maria Eloisa Barbosa
Maria Eloisa Barbosahttps://igormiranda.com.br/
Maria Eloisa Barbosa é jornalista, 22 anos, formada pela Faculdade Cásper Líbero. Colabora com o site Keeping Track e trabalha como assistente de conteúdo na Rádio Alpha Fm, em São Paulo.

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