Os integrantes do Titãs eram na sua maioria amigos de escola, unidos pela vontade coletiva de fazer música. Então quando alguém dessa turma decidia se afastar, era notícia. Curiosamente, Charles Gavin não era da turma de amigos do Colégio Elite. Sequer fazia parte quando a banda foi formada. Ele tocava com o Ira! até 1985, quando trocou de lugar com André Jung.
Ao longo de sua trajetória, o baterista também se estabeleceu como um dos principais colecionadores e especialistas em discos de vinil do país. Gavin se provou figura importante para o relançamento de álbuns há muito fora de catálogo, trazendo Tom Zé e Novos Baianos a uma nova geração de fãs através de CDs.
O anúncio da saída
Quando Charles Gavin saiu do Titãs, em 2010, a surpresa ocorreu mais pelo fato de ninguém sequer considerar que ele deixaria a banda. Gavin era o metrônomo, a pessoa seguindo firme no meio de tudo.
Entretanto, como o próprio revelou numa entrevista ao podcast Papo com Clê (transcrição via Whiplash), o ritmo das turnês pesou.
“Nessa época, me bateu uma crise ao fazer 50 anos. Um dos questionamentos era que eu tinha duas filhas pequenas. Se eu continuar na estrada, não ia conseguir participar da criação delas. Também não teria autonomia sobre minha agenda. Quem trabalha como os Titãs trabalham é assim. A agenda é a prioridade total, não dá para marcar quase nada. Não rolava bloquear um final de semana, só se convencer mais duas pessoas. Éramos cinco e só se três topassem que rolava. Infelizmente, o músico no Brasil hoje depende cada vez mais da estrada. A pandemia foi terrível por isso. Naquele momento, bateu essa angústia. Queria mais autonomia. Não avaliei meu lado profissional.”
Entretanto, como o próprio revelou em entrevista à Rolling Stone Brasil em 2012, a decisão não ocorreu da forma como se dá em tantas bandas.
“Engraçado que eu nunca disse que saí dos Titãs. Sempre disse: ‘Eu me afastei’. Porque foi abrir mão de uma coisa importantíssima na minha vida. A gente não brigou. Não tem nenhum ressentimento.”
Apesar disso, Gavin na mesma entrevista descreveu o quão dolorosa foi a situação.
“Foi como ter que amputar a própria mão para continuar vivendo. Em outras épocas, eu faria uma escolha diferente, preferiria ficar com a mão presa até morrer.”
Depois que Charles Gavin saiu do Titãs
Desde sua saída, Charles Gavin se dedica a trabalhos mais leves. Em 2011, ele formou o supergrupo Panamericana com Toni Platão, Dado Villa-Lobos e Dé Palmeira, cuja proposta é reinterpretar clássicos do rock sul-americano.
O ano de 2017 viu ele embarcar em outro projeto de reimaginação. Gavin se aliou à cantora Duda Brack, ao guitarrista Paulo Rafael, ao baixista Pedro Coelho e ao multi-instrumentista Felipe Pacheco Ventura no grupo Primavera nos Dentes, gravando 11 canções do Secos & Molhados.
Ele também apresenta desde 2007 no Canal Brasil o programa “O Som do Vinil”, no qual explora as histórias dos maiores álbuns da música brasileira.
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