“Um prato cheio para os fãs de glam metal, sleaze, shock rock, hard rock e tudo mais” é como o press-release do Glam Fest define o evento a ser realizado na capital paulista no próximo domingo (17). O evento terá cobertura do site IgorMiranda.com.br. Ingressos podem ser adquiridos aqui.
Na escalação, três ícones internacionais do estilo: os americanos Tuff (substituindo o originalmente anunciado Enuff Z’Nuff) e Pretty Boy Floyd e o sueco Crazy Lixx. A cota brasileira fica a cargo dos gaúchos da Goaten.
Em antecipação ao que foi anunciado, também, como a primeira de mais edições por vir, o site conversou com um representante de cada atração. O resultado desses quatro bate-papos você confere abaixo.
Goaten: Entre o ocultismo e o glam metal
A cena musical do Vale do Sinos, no Rio Grande do Sul, viu nascer em 2018 uma banda que mistura influências clássicas do heavy metal dos anos 1980, como Judas Priest e Mercyful Fate, a uma paixão por filmes de terror e narrativas ocultistas. Essa é a Goaten, formado por Francis Lima (baixo e vocais), Daniel Limas (guitarra) e Rafaah Drinkwine (bateria).
Sucessor dos EPs “The Following” (2021) e “Crimson Moonlight” (2022), o álbum “Midnight Conjuring” foi lançado em 22 de novembro do ano passado e revelou um amadurecimento na composição e produção. Apesar de, à primeira vista, parecer um peixe fora d’água no evento, Francis explica que a Goaten tem uma forte ligação com o glam metal.
“Já tocamos em bandas de glam metal alguns anos antes da criação da Goaten. Embora nossa estética e abordagem musical possam parecer diferentes hoje em dia, esse estilo ainda faz parte das nossas influências. Bandas como Pretty Boy Floyd, Tuff, Alleycat Scratch, Tryx e Big Bang Babies sempre nos inspiraram na criação de melodias. Essa é uma característica da Goaten; ela pode se encaixar tanto em um show de black metal, como já aconteceu [quando tocou com a banda Gaerea], quanto em um evento de glam metal.”
A imagem ousada da Goaten também gerou momentos curiosos. Francis compartilha histórias de reações inusitadas, como a avó de um amigo que queimou uma camiseta da banda devido à estampa, ou ser xingado por religiosos na rua. Esses episódios, segundo ele, apenas destacam o poder provocativo da arte.
Com uma agenda movimentada para 2024, o grupo já está imerso na criação de novas músicas para um próximo álbum. O lançamento está previsto para o início de 2025.
Tuff: “Kurt Cobain não está mais aqui, mas eu estou!”
Stevie Rachelle, o líder do Tuff, é conhecido por sua paixão pela vida e pela música; uma narrativa evidente em cada post em suas redes sociais, onde destaca constantemente: “I ♥ my life, so much” (“Eu ♥ minha vida, muito”). Durante nossa conversa, que se estendeu por quase duas horas, ficou claro por que o vocalista de 58 anos é tão entusiástico ao falar sobre sua jornada musical e a trajetória do Tuff.
Embora não tenha sido um dos membros fundadores, Rachelle tornou-se a figura central da banda, gerenciando todos os aspectos do negócio, incluindo um extenso catálogo de produtos lançados de forma independente por sua RLS Records.
Prestes a desembarcar no Brasil pela sétima vez, ele revela que o país está entre seus destinos favoritos no mundo. “Já estive em mais de 30 países. E o Brasil está definitivamente entre meus três prediletos”, afirma, recordando sua primeira visita em 2006 e mencionando o Rock in Rio e a importância de bandas como o Sepultura, “o Metallica de vocês”.
A discografia do Tuff abrange mais de dez títulos, sendo “What Comes Around Goes Around” (1991) o mais conhecido. Rachelle reconhece o impacto do álbum, que marcou a estreia da banda em uma grande gravadora, Atlantic, e a levou a ser apresentada na MTV, a tocar em rádios nos Estados Unidos e figurar em centenas de revistas de todo o mundo.
No entanto, mesmo com essas conquistas, o vocalista enfatiza que nunca houve um momento em que tenha se considerado totalmente realizado. “É sempre uma questão de dar o próximo passo”, diz ele, que elabora:
“A primeira vez que vimos nosso clipe [de ‘I Hate Kissing You Goodbye’] na MTV, eram 15h ou 16h. Todos nós assistimos. Foi fantástico. Mas assim que acabou, pensamos: ‘Ok, o que vamos comer?’. ‘Bem, tem macarrão com queijo e cachorro-quente.’ E quando saímos do nosso apartamento, ninguém estava esperando por nós. Ninguém estava gritando nosso nome. Não havia paparazzi. Mas 10 minutos antes, estávamos na MTV e 50 milhões de pessoas em toda a América estavam assistindo, se perguntando quem são esses caras. Em cada estágio, você sente uma sensação de realização, mas nunca me olhei no espelho e disse: ‘ok, conseguimos’. Porque mesmo quando uma banda consegue todos aqueles contratos e tudo mais, você está de volta à linha de partida.”
O clipe de “I Hate Kissing You Goodbye” alcançou o 3º lugar no “Dial MTV” (o equivalente americano ao antigo “Disk MTV”, da MTV Brasil). Contudo, o surgimento do grunge nos anos 1990 teve consequências significativas. Rachelle recorda que a cena dos anos 1980 foi devastada da noite para o dia.
“Quando os anos 1990 realmente começaram e o Nirvana realmente decolou, de repente, não era legal ser Bret Michaels do Poison, ou Jon Bon Jovi com o cabelo armado, ou Stevie Rachelle do Tuff ou qualquer um de nós que tivesse aquele visual. Os produtores não queriam trabalhar com as bandas, as gravadoras não queriam nos contratar. Passamos por três gravadoras, três empresários, três agentes de reservas de shows. E eu me dei conta de que nada estava melhorando. Estávamos fazendo shows por US$ 200 de cachê. E estávamos em turnê com oito pessoas em uma van. Então, no final de 1995 decidimos jogar a toalha. Coloquei o Tuff em espera permanente até os anos 2000.”
Precisamente em 2001, Rachelle surpreendeu ao ressuscitar o Tuff com “American Hair Band”. A música, que faz uma crítica irreverente à cena musical da época, lhe apresentou e sua banda para uma nova geração de ouvintes. Ele explica:
“Quis fazer uma canção que simbolizasse o renascimento do Tuff. E queria fazer algo que fosse como a continuação de ‘The All New Generation’, do ‘What Comes Around Goes Around’. A letra [de ‘The All New Generation’] fala sobre a história da música, as décadas e as variações e estilos musicais que levaram até 1990, quando a gravamos. Eu queria lançar uma continuação que não fosse apenas minha opinião ou minha mensagem para os fãs. Também queria lançar algo um pouco mais moderno porque o Metallica neste momento era a maior banda do planeta [‘American Hair Band’ tem como base o riff de ‘Sad But True’ do Metallica]. E eu sou fã de Kid Rock. Acho que ele faz um ótimo trabalho misturando rock e hip-hop. Mas o mais importante era a mensagem: ‘F#da-se o Pearl Jam. Kurt Cobain não está mais aqui, mas eu estou. E quer saber? Eu não vou embora’.”
Nos shows no Brasil, os fãs terão a oportunidade de adquirir o mais recente lançamento da RLS Records: a reedição em vinil de “Fist First”, segundo álbum do Tuff, lançado originalmente em 1994. Rachelle promete ainda meet & greet gratuito após os shows reforçando seu compromisso de que nunca cobrou nem nunca cobrará por isso.
Pretty Boy Floyd: carregando a tocha do glam
Autor de “American Hair Metal” (Feral House, 2006), Steven Blush descreveu o Pretty Boy Floyd como a banda mais quente da Sunset Strip por volta de 1988-1989. Provavelmente era mesmo, já que bastaram nove shows para que o quarteto liderado pelo vocalista Steve “Sex” Summers assinasse com a MCA Records. “Foi louco”, recorda-se ele. “Havia um milhão ou mais de bandas na cena e nós conseguimos um contrato de gravação depois do nosso nono show, então foi bem rápido.”
Diferentemente de muitos colegas, Summers, 55, é natural da Califórnia, o que lhe permitiu assistir a bandas como Van Halen, Mötley Crüe e Guns N’ Roses nos primórdios. Ele conta que o rock and roll entrou em sua vida ainda na adolescência e que, embora as coisas tenham acontecido rapidamente para o PBF, “levou muito tempo para encontrar as pessoas certas, garantir que músicas, show e visual fossem ótimos”.
O álbum de estreia “Leather Boyz with Electric Toyz” (1991) vendeu números razoáveis (chegou ao 133º lugar na Billboard), mas nunca alcançou o sucesso estrondoso esperado. Para Steve, a MCA “não era capaz de fazer o que precisava fazer”. A gravadora, na época também lar de bandas como Trixter e Lillian Axe, queria que o PBF fosse “o Mötley Crüe deles, o Poison deles”, mas não sabia como “mexer os pauzinhos” para garantir que fossem vistos.
“Demos a eles um ótimo disco, ótimos clipes, shows lotados e tudo mais. Mas se você faz um clipe, precisa tê-lo na MTV o tempo todo. Se você tem ótimas músicas, elas precisam estar no rádio o tempo todo. Você precisa sair em turnê com as bandas maiores. É o tipo de coisa que não se pode arranjar sozinho. Longe de mim apontar culpados. São apenas fatos. Você não pode se tornar o Bon Jovi a menos que seu primeiro clipe, ‘Runaway’, esteja sendo exibido à exaustão na MTV e você esteja em turnê com Journey e Def Leppard. A MCA deixou a peteca cair em muitas categorias. Vimos os erros, então não precisamos que o grunge ou a cena de Seattle viessem para saber que nossos dias na MCA estavam contados.”
Mas o PBF permaneceu inabalável, de acordo com seu líder. Hoje, é basicamente uma operação solo de Summers. Gerenciamento de mídia social, cuidado com merchandise, todas as coisas relativas ao grupo 24 horas por dia, 7 dias por semana… esse malabarismo de tarefas não assusta o vocalista de jeito nenhum. Ele confessa: “Gosto disso. É minha banda, então não há problema. Amo os fãs, amo viver de rock and roll, amo o estilo de vida que escolhi para mim”.
Um estilo de vida do qual, enquanto entre as poucas bandas ativas ainda promovendo uma vibe old-school, também se orgulha: “Somos uma das poucas bandas que nunca pararam de fazer turnês. Nunca paramos de fazer música. ‘Leather Boyz’ marcou como um dos maiores discos de glam metal de todos os tempos”. Summers prossegue falando de alguns contemporâneos ao PBF do final dos anos 1980:
“Muitas bandas diminuíram o tom. Envelheceram e estão no piloto automático; e tudo bem. Mas nós seguimos carregando a tocha do glam dos velhos tempos. Ainda somos uma das bandas mais sacanas em atividade. Somos os verdadeiros bad boys da Sunset Strip e ainda usamos toda aquela maquiagem. Nossos shows são selvagens. Arrasamos. E é isso que você vai ver no Glam Fest.”
Crazy Lixx: “Não somos uma banda”
Nascida na mesma leva sleaze que trouxe ao mundo nomes como Crashdïet e Hardcore Superstar no início dos anos 2000, o também sueco Crazy Lixx, assim como seus compatriotas, possui um público cativo no Brasil e passou por inúmeras mudanças de formação ao longo do tempo. Mas desde 2016, o front permanece inalterado, algo celebrado pelo baterista e cofundador Joel Cirera. “São quase oito anos sem trocas. Finalmente, um pouco de consistência e continuidade!”, destaca.
Quase que numa rejeição aos primórdios marcados pelo visual extravagante característico do sleaze, o Crazy Lixx de hoje adota uma estética mais refinada e um som que reflete esse “amadurecimento”. Para Cirera, o tal do sleaze evoluiu para o que ele chama de “bom e velho hard rock”.
Hard rock esse de bandas como Aerosmith e Kiss, as preferidas do vocalista Danny Rexon, que desempenha um papel central na criação musical, com Cirera enfatizando que o processo colaborativo mudou ao longo do tempo. “Percebemos há muitos anos que não somos uma banda”, revela o baterista, antes de descrever o método que envolve Rexon desenvolvendo músicas em casa, utilizando recursos digitais para, posteriormente, compartilhar e ajustar com os demais membros.
“Já faz mais de 10 anos que trabalhamos dessa maneira. Não nos sentamos juntos em uma sala de ensaio para criar músicas por horas desde o álbum ‘New Religion’ (2010). Esse método [presencial] já está obsoleto há muito tempo. É melhor para o Danny ir para casa, experimentar tudo, fazer os arranjos com bateria de computador e depois nos enviar para perguntar: ‘E aí, o que vocês acham disso?’. E então podemos ter uma opinião.”
Apesar do método, Cirera assegura que Rexon não é ditatorial e destaca seu crescente papel como produtor. “Ele conhece nossos pontos fortes e fracos e tenta incorporá-los. No fim das contas, ele é o que qualquer produtor precisa ser, e é ele quem compõe as músicas. Ele sabe o que quer”, conta.
Tanto sabe que o mais recente lançamento do Crazy Lixx, “Two Shots at Glory”, uma compilação lançada pela Frontiers Records em fevereiro, é praticamente uma empreitada solo de Rexon, apresentando remixes e duas novas faixas. Cirera compartilha que foi uma ideia do vocalista revitalizar o álbum “Riot Avenue” (2012) e que, embora tenha sido um projeto mais direcionado por Danny, a banda apreciou o resultado.
“‘Riot Avenue’ foi um álbum estranho porque faltavam muitas camadas que os álbuns anteriores a ele tinham. Então ele veio com essa de fazer um álbum de remixes e coisas do tipo. Achamos uma boa ideia, mas como são só remixes, isto ficaria meio que a cargo exclusivamente do Danny, porque nem sempre estamos muito interessados em ficar no estúdio operando botões.”
Sem pisar no Brasil desde a única vinda em 2012, o Crazy Lixx, na figura de seu baterista, mal pode esperar por esse retorno. “Quando viemos da primeira vez, não fazíamos ideia do que encontraríamos. Tocamos num local pequeno à beça [Manifesto Bar, em São Paulo], mas estava lotado, e a galera estava numa empolgação só. Quando se trata de público, Brasil, Chile e Argentina são incomparáveis”.
Quanto ao setlist, a promessa é de muita variedade. Serão 80 a 85 minutos de show.
“Vamos tocar músicas de quase todos os álbuns. Claro, sempre vai ter alguém dizendo que quer ouvir essa música ou aquela. Não dá para agradar a todos sempre, mas pensamos muito em como tornar o show o mais agradável possível, tanto para nós quanto para os fãs.”
Joel encerra, de certa forma, lamentando não ter tempo para conhecer melhor o país. “Só temos um dia de folga [em Curitiba], então não sei quanto tempo teremos para ver qualquer coisa”, diz ele, que ficaria feliz “apenas de conhecer as pessoas, conversar com elas e aproveitar sua companhia”. Mas seu sorriso seria de orelha a orelha “se houvesse uma praia por perto”.
Alguém poderia avisar a ele que a praia mais próxima da capital paranaense fica a 110km de distância?
Serviço – Glam Fest Br
- Data: Domingo, 17 de março de 2024
- Local: Carioca Club Pinheiros | Rua Cardeal Arcoverde, 2899 – Pinheiros – São Paulo, SP
- Classificação etária: 16 anos
- Abertura da casa: 16h
- Início dos shows: 17h
- Ingressos: Clube do Ingresso
- Preços: R$ 270 pista, R$ 400 camarote. Ambos os valores são referentes a meia-entrada legal e ingresso promocional (disponível a qualquer pessoa que doar 1 kg de alimento não perecível na portaria)
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