Por mais que o Death Angel tenha ficado 10 anos em hibernação, entre 1991 e 2001, é curioso pensar que até hoje o grupo só esteve no Brasil uma única vez. Ao contrário de expoentes do thrash metal oitentista que se tornaram figurinhas carimbadas no país, como Exodus, Kreator, Destruction e Testament — isso sem falar nos gigantes Metallica, Slayer e Megadeth —, a banda formada originalmente por garotos descendentes de filipinos demorou tanto para vir como para voltar.
A estreia em solo brasileiro só ocorreu em 2010, trazendo apenas dois integrantes do lineup clássico: o guitarrista e fundador Rob Cavestany e o vocalista Mark Osegueda. De lá para cá, porém, uma nova formação se consolidou — com Ted Aguilar (guitarra), Damien Sisson (baixo) e Will Carroll (bateria) — e agora o retorno está prestes a acontecer, depois de longos 14 anos e mais três álbuns de estúdio na bagagem.
Desta vez, o Death Angel se apresenta em Brasília (25 de abril), Recife (26) e São Paulo (28). Na capital paulista, o quinteto fundado em 1982 em São Francisco, na Califórnia, tocará no terceiro dia do festival Summer Breeze, cujo headliner será o Mercyful Fate.
Em entrevista ao site IgorMiranda.com.br, Mark Osegueda falou sobre o fascínio que tem por King Diamond e cia, como se tornou vocalista na banda solo de Kerry King (Slayer) e, claro, da grande expectativa por voltar ao Brasil.
“Todos na banda estão empolgados. Já faz 14 anos desde que estivemos no Brasil. Mal podemos esperar! Essa turnê anterior foi em 2010, quando lançamos ‘Relentless Retribution’. Alguns shows foram exatamente na semana em que o disco saiu! Então, foi um pouco estranho, porque ele tinha acabado de sair e foi a primeira turnê com Damien (Sisson, baixista) e Will (Carroll, baterista). As pessoas nem sabiam quem eram eles. Agora, estamos voltando com essa formação, que é a mais durarouda que o Death Angel já teve. Passaram-se 14 anos e estamos mais animados que nunca!”
Death Angel no Brasil
Questionado sobre possíveis motivos que levaram o Death Angel a não se tornar uma atração recorrente no país, Mark diz não saber exatamente quais são e admite uma certa frustração pela demora entre a primeira visita e o retorno.
“É uma loucura! Todos os nossos amigos estão sempre indo ao Brasil. Bandas que são contemporâneas do Death Angel. Isso nos chateia. Sabemos que há uma cena aí e queremos fazer parte dela, caramba!”
Em Brasília e Recife, o Death Angel tocará em casas de menor porte (Toinha e Estelita, respectivamente), enquanto no Summer Breeze a expectativa é de um grande público no Memorial da América Latina. Segundo o vocalista de 55 anos, isso possibilita experiências diferentes em termos de interação. E não há uma que ele prefira.
“É difícil dizer, pois adoro os dois tipos. É fantástico tocar nesses festivais grandes, pois a energia é inegável. Procuramos sempre tocar em festivais em que ainda não estivemos, e o Summer Breeze no Brasil é um deles. Vai ser louco! Ao mesmo tempo, também adoro tocar em locais pequenos, suando horrores, cara a cara com o público e gritando em frente aos fãs, que gritam de volta! É incrível! Em 2010, também tocamos nessas cidades, Recife e Brasília. Agora vamos voltar com um setlist que contempla todas as fase do Death Angel.”
Ao comentar sobre o repertório, Mark confirmou que também há planos concretos para a gravação de um novo disco de estúdio, ainda sem nome. No entanto, o sucessor de “Humanicide” (2019) só deverá ficar pronto em 2025 e não será desta vez que os fãs terão algum tipo de aperitivo em termos de músicas novas.
“O setlist está pronto. Já ensaiamos e agora também estamos ocupados trabalhando no disco novo. Estamos compondo, o Rob (Cavestany) tem feito algumas demos, desenvolvido as linhas de bateria com o Will (Carroll). Já gravei alguns vocais. Então, estamos totalmente focados nesse processo e nos ensaios para a turnê. Acredito que vamos entrar em estúdio no fim do ano. Ainda não é certeza, mas esperamos ter o disco pronto para ser lançado na primavera de 2025 (outono no Brasil, entre março e maio).”
Fascínio por Mercyful Fate
A oportunidade de se apresentar no mesmo dia do Merfycul Fate no Summer Breeze, inclusive, foi motivo de comemoração para Mark Osegueda. Ao comentar sobre a vinda para o festival, o vocalista disse que ficou ainda mais empolgado ao saber que dividirá palco com uma de suas referências no heavy metal.
Inicialmente, o Mercyful Fate estava escalado para fechar a noite de sexta-feira (26) no festival. Contudo, foi remanejado para domingo (28) após a inclusão da Gene Simmons Band, que trará o baixista do Kiss em expediente solo.
“O Mercyful Fate iria tocar no primeiro dia (26), certo? Quando eu vi que mudaram para o domingo (28), eu vibrei! YEAH! É uma das minhas bandas favoritas em todos os tempos. Quando houve esse ajuste, comemorei demais! Estar no palco é sempre o ponto alto de todo festival, mas fora isso, ver o King Diamond vai ser o ápice.”
Mark até recordou uma outra ocasião em que Death Angel e Mercyful Fate estiveram juntos no mesmo cast. Numa típica história de “fã encontra o ídolo”, o vocalista contou entusiasmado como já “salvou” King Diamond antes de um show.
“Tocamos com o Mercyful Fate na Europa alguns anos atrás. Eles já estavam prontos para subir ao palco, e o tour manager veio perguntando se alguém no backstage tinha água sem gás. Nesse festival, só havia água com gás. Ele queria natural para o King Diamond, que não toma com gás. Eu também não! Quer dizer, gosto de água com gás, mas não quando vou cantar, pois faz arrotar e resseca a garganta. Então, sempre que estou em turnê eu carrego água sem gás. Nesse dia eu tinha, entreguei quatro garrafas para ele e ganhei um passe para ver o show na lateral do palco! Foi incrível! Como eu disse, eu amo Mercyful Fate.”
Relação com Kerry King
Em meio às atividades do Death Angel, Mark Osegueda também terá um ano cheio com a banda solo de Kerry King. Os compromissos envolvem o lançamento do álbum “From Hell I Rise”, marcado para 17 de maio, e a turnê de divulgação.
Escolhido por Kerry para ser o vocalista do projeto, Mark conta que a relação com o guitarrista do Slayer vem de longa data e remonta ao início da cena thrash da Bay Area.
“No meu aniversário de 16 anos, fizemos um show no The Stone, em São Francisco. As bandas eram Slayer e Death Angel. Foi pouco antes de sair o ‘Hell Awaits’ (1985). Estavam na turnê do EP ‘Haunting the Chapel’ (1984). Eu vi os caras, mas éramos muito novos e tímidos para falar com eles. Depois disso, tocamos com eles várias vezes. Com o passar dos anos, nossos caminhos se cruzaram bastante. Temos grandes amigos em comum, como Kirk Hammett e Gary Holt.”
A amizade com King, porém, ganhou contornos mais sólidos há menos de 10 anos. Mark conta que deixou de ser apenas um fã ou um mero “conhecido” do guitarrista quando as bandas excursionaram juntas na época de “The Evil Divide” (2016), penúltimo disco do Death Angel até o momento.
“Em 2016, fizemos uma turnê com Slayer e Anthrax na América do Norte. Foi quando Kerry e eu realmente nos aproximamos e nos conectamos de vez. Eu estava sempre com ele nessa época, todas as noites. Bebendo, ouvindo música, nos divertindo nos dias de folga. Saíamos para almoçar e foi quando passei a considerá-lo um grande amigo. Hoje, além disso, é também um colega de banda. Isso só solidificou nossa amizade e fortaleceu nossa relação.”
A banda nova
O anúncio oficial da nova empreitada de Kerry King, incluindo lineup e informações do disco, foi feito em fevereiro de 2024. No entanto, Mark revelou ao site que já sabia que seria o vocalista há um ano e precisou guardar segredo durante esse período.
“Fiquei sabendo em 4 de fevereiro do ano passado. Lembro exatamente o dia. Mantivemos em segredo por um tempo, mas foi nessa época que Kerry me contou que eu seria o vocalista. Somos amigos há anos e quando eu soube da banda, deixei claro para ele que estava interessando em fazer parte. Ele também tinha outras pessoas em mente. Fizemos algumas demos, trabalhamos bem juntos, mas foi um longo processo. Me esforcei bastante para conseguir a vaga.”
Ao contrário de Phil Demmel, que deixou o Vio-lence para ser segundo guitarrista na banda de Kerry King, Mark segue como vocalista do Death Angel e irá acumular as duas funções. Segundo ele, King não pediu exclusividade.
“Não foi dito ao Phil que ele teria que deixar o Vio-lence. Ele o fez por conta própria, por razões pessoais que ele mesmo pode falar mais a respeito. Mas não houve nenhum tipo de pressão do Kerry. Continuo como vocalista do Death Angel, e o Kerry não fez nenhuma exigência para eu sair da banda. Vou dar o meu melhor para as duas.”
O baterista Paul Bostaph (Slayer) e o baixista Kyle Sanders (ex-Hellyeah) completam a formação que gravou “From Hell I Rise”, disco que Mark Osegueda define como “brutal” e com algumas de suas melhores linhas vocais.
“Kerry me fez testar meus limites. Levou minha voz para um lado que eu não vou com frequência. É um estilo de cantar mais agressivo, certamente, e que casa perfeitamente com o clima do disco. Estou orgulhoso do que fizemos. Amo o disco e amo ‘Idle Hands’, o single que já foi divulgado. Ele representa muito bem o álbum, mas é apenas um pedacinho dele. Tenho certeza que as pessoas vão ficar impressionadas quando ouvirem o restante das músicas.”
Slayer em cena novamente
Pouco após o anúncio da banda solo de Kerry King, também houve a confirmação de que o guitarrista se reuniria com o Slayer para alguns shows no segundo semestre de 2024. Como garoto que cresceu ao som de thrash metal — quando entrou no Death Angel, tinha apenas 15 anos — e foi influenciado pelos mais velhos, Mark Osegueda diz que viu com bons olhos a volta de um dos veteranos do estilo.
“Fiquei entusiasmado! Sou um grande fã de Slayer. Hoje em dia somos amigos também, mas antes eu já era um fã. Acho que vai ser ótima essa volta e espero assistir a algum dos shows. Vai ser incrível. Acho que trará ainda mais atenção à banda Kerry King, ao disco novo e até ao Death Angel. Eu amo thrash metal e mal posso esperar por essa volta e para tocar com eles.”
Por estar inserido há décadas no mercado fonográfico e atualmente em contato direto com Kerry King, o vocalista não se mostra supreso com a reunião do Slayer. E tampouco teme por conflitos de agenda ou planejamento.
“Não foi uma surpresa para mim. Muita coisa foi falada na imprensa, algumas até fora de contexto, mas quando se está em uma banda, a conexão é muito forte. A energia que o Slayer tem é inegável. É maior do que tudo que foi ou possa ser dito. Não acho que vá atrapalhar a banda Kerry King. As coisas já estão muito bem planejadas. Não é da minha conta, mas acho que essa volta do Slayer será apenas para alguns shows pontuais. Bom, é o que eu penso. Já Kerry King fará muitos shows e turnês consistentes. Vamos continuar compondo e haverá mais discos pela frente, tenho certeza.”
Definitivamente, 2024 será um ano e tanto no QG de Mark Osegueda.
“Temos muitos shows pela frente com as duas bandas. Com o Death Angel, estamos tocando e compondo material. Com o Kerry King, mais shows e turnês estão sendo anunciados. A cada show anunciado, eu fico mais empolgado. Temos ensaiado bastante, venho mantendo a voz em forma e estou preparado para o que vier!”
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