Bruce Dickinson faz o esperado em BH — e, de sua parte, foi perfeito

Vocalista ofereceu espetáculo sem incidentes e de pura maestria — a ponto de não se ouvir qualquer pedido por música do Iron Maiden

Após 27 anos de espera, o público de Belo Horizonte recebeu, no último domingo (28), Bruce Dickinson para um show exclusivamente de sua carreira solo. A primeira vez do vocalista do Iron Maiden na capital mineira, neste formato, se deu em 1997, com a turnê do “Accident of Birth”. No ano de 2005, retornou como convidado da banda Tribuzy que promovia seu álbum de estreia em noite com outras participações.

Agora, o cantor veio para divulgar “The Mandrake Project”, seu sétimo disco longe do Maiden. E como era de se esperar — conforme anunciado pelo próprio Bruce em entrevistas —, a apresentação seria baseada, além do novo lançamento, em seus mais aclamados discos “Accident of Birth” (1997), “The Chemical Wedding” (1998) e “Tyranny of Souls” (2005)”. 

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E ele cumpriu o que prometeu: uma noite praticamente perfeita, na Arena Hall, em Belo Horizonte.

Foto: Iana Domingos

Evento de poucos erros

Nem o saudosismo de tantos anos sem um show de Bruce Dickinson foi capaz de lotar a Arena Hall, neste domingo, 28 de abril. O ginásio — cujo calor em suas dependências beirava o insuportável — recebeu um bom público, mas muito aquém da magnitude do vocalista. Por quê?

Os ingressos variavam entre R$ 300 e R$ 480. Mesmo com o desconto da entrada solidária, são valores acima da média praticada na capital. Soma-se a isso a quantidade de eventos ocorridos na mesma época e uma debandada de mineiros rumo ao Summer Breeze Brasil, realizado em São Paulo no mesmo fim de semana. Vale ressaltar que BH não costuma ser rota obrigatória das grandes bandas e recebe poucos sideshows derivados de festivais.

A atração de abertura, Clash Bulldog’s, teve sua apresentação cancelada horas antes do início do evento. Eles haviam tocado com o cantor em Curitiba, Porto Alegre e Brasília, mas cancelou os demais compromissos devido a uma questão de saúde. Mesmo assim, Dickinson contrariou a chamada “pontualidade britânica” e entrou no palco 20 minutos após o horário anunciado. Nada que incomodasse, porém.

Foto: Iana Domingos

Repertório aprovado pelo público

Se houve pequenos erros em relação ao planejamento e execução do evento como um todo, não dá para reclamar do show em si. O público já ficou ensandecido logo quando a tradicional abertura da série “The Invaders” ecoou nas caixas de som da Arena Hall junto com “Toltec 7 Arrival. A faixa instrumental do 4º disco de Bruce Dickinson anunciava o início do espetáculo com nada menos do que a faixa-título do trabalho citado: “Accident of Birth”. O jogo já estava ganho — e nem precisava de um ginásio lotado para produzir um verdadeiro espetáculo.

“Abduction”, de “Tyranny of Souls”, veio na sequência com a banda esbanjando qualidade em sua performance. Em relação ao show anterior de Brasília, no sábado (27), a única diferença veio na canção ao seguir: “Laughing in the Hiding Bush” substituiu “Starchildren”. Se alguém não gostou da escolha, com certeza foi abafado pela galera que, mais uma vez, foi à loucura.

A primeira música do novo “The Mandrake Project” a aparecer foi “Afterglow of Ragnarok”. Tanto esta faixa, single inaugural do disco, quanto as demais escolhidas para estarem no repertório — “Many Doors to Hell”, “Rain on the Graves” e “Resurrection Men” — funcionaram perfeitamente em meio aos clássicos. O que nos foi apresentado ao vivo do álbum demonstra solidez e coerência frente à carreira de Bruce. Destaca-se a terceira canção citada, com linha de baixo marcante executada por Tanya O’Callaghan e dramaticidade extra na performance de palco.

Outra novidade no setlist, mas repetindo algo apresentado apenas em Brasília, ficou por conta de “Gates of Urizen”, de “The Chemical Wedding”. Memorável, a ponto de várias pessoas chegarem a se abraçar na pista em celebração à música.

Foto: Iana Domingos

Músicos afiadíssimos

Bruce Dickinson nunca está só: seja no Iron Maiden ou em carreira solo, o seu palco é completo por músicos do mais alto calibre. Quem viu Dave Moreno (bateria), Mistheria (teclados), Tanya O’Callaghan (baixo), Philip Naslund (guitarra) e Chris Declercq (guitarra) ao lado do cantor saiu com a certeza de que ele realmente sabe escolher com quem trabalhar.

Foto: Iana Domingos

Uma banda, aliás, que vai além de exímios músicos. Philip e Chris tiveram a missão de substituir ninguém menos que Roy Z, parceiro e produtor de Dickinson de longa data, e o fizeram muito bem. Além da precisão, a performance bem na pegada headbangers ficou marcada pela interação com público do início ao fim e preenchimento de todos os espaços do palco.

Dona de estilo forte, Tanya ofereceu bastante peso às músicas, principalmente mais recentes. Dave Moreno teve seu momento durante o cover de “Frankenstein”, do The Edgar Winter Group, quando ele e Bruce fizeram uma batalha de percussão, animando a plateia e saindo do convencional momento instrumental. Mistheria oferece a cama de teclados necessária, como uma cereja do bolo.

Foto: Iana Domingos

E o que falar de Bruce Dickinson? Perfeição vocal à parte, o inglês de 65 anos se divertiu durante toda a performance, seja ao oferecer sua típica teatralidade, ao brincar com os colegas de banda ou ao demonstrar domínio total do público.

Alguns incidentes em show anteriores minaram o bom humor de Bruce durante as apresentações. Em Porto Alegre, a porta aberta de uma área para fumantes rendeu um “esporro”. Já em Brasília, a explosão de um vape afetou até mesmo sua garganta. Como tudo em BH correu perfeitamente, ao menos aos olhos da plateia, tivemos um frontman 100% dedicado a dar o seu melhor.

E quando se fala em show, Bruce Dickinson não compromete. Entregou uma execução vocal impecável. Foram quase duas horas de um senhor de 65 anos correndo por todo palco sem desafinar ou perder o fôlego. Estamos falando de um cantor que já quase na hora do bis, gritava “are you ready?” como se a apresentação estivesse a começar.

Foto: Iana Domingos

Seu único tropeço pode ter sido visto até como um momento único — ou de humor. Pouco antes do bis, em “Darkside of Aquarius”, o frontman se embolou com a letra e acabou atrapalhando os músicos, que “se perderam”. Mas tudo foi rapidamente contornado.

De resto, tudo perfeito, Pode ter até quem discuta uma ou outra escolha do repertório — sempre há aquela música, do disco tal, que você queria ter escutado ao vivo —, mas isso é “problema” para Dickinson, que consolidou sua carreira solo de tal forma que o presente mistura-se ao passado tão majestosamente — e não se ouviu um pedido sequer de canções do Maiden.

Foto: Iana Domingos

*A turnê brasileira de Bruce Dickinson segue para o Rio de Janeiro. Ingressos para todas as cidades seguem à venda nos sites Uhuu (São Paulo) e Bilheteria Digital (demais cidades). O artista se apresenta:

  • dia 30 de abril no Rio de Janeiro, no Qualistage;
  • dia 02 de maio na Quinta Linda, em Ribeirão Preto;
  • e dia 04 de maio em São Paulo, na Vibra São Paulo.
Foto: Iana Domingos

Bruce Dickinson — ao vivo em Belo Horizonte

  • Local: Arena Hall
  • Data: 28 de abril de 2024
  • Turnê: The Mandrake Project
  • Produtora: MCA Concerts

Repertório:

  1. Accident of Birth
  2. Abduction
  3. Laughing in the hiding bush
  4. Afterglow of Ragnarok
  5. Chemical Wedding
  6. Many Doors to Hell
  7. Gates of Urizen
  8. Resurrection Men
  9. Rain on the Graves
  10. Frankenstein (cover de The Edgar Winter Group)
  11. The Alchemist
  12. Tears of the Dragon
  13. Darkside of Aquarius

Bis:

  1. Navigate the Seas of the Sun
  2. Book of Thel
  3. The Tower
Foto: Iana Domingos
Foto: Iana Domingos
Foto: Iana Domingos
Foto: Iana Domingos

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