Não existe subgênero dentro do metal que ressoe mais com adolescentes imersos em mundos de fantasia através de filmes, jogos de vídeo game e literatura do que o power metal. E dentro do power metal, talvez não haja figura mais representativa do que Kai Hansen.
O guitarrista foi um dos membros fundadores do Helloween, uma das bandas pioneiras do power metal. Durante os quatro anos que permaneceu a bordo, foi central na criação de álbuns clássicos, como “Keeper of the Seven Keys Part I” (1987) e “Part II” (1988). Em 1988, decidiu, por motivos que ainda são objeto de muito debate, deixar o grupo. No ano seguinte, formou o Gamma Ray, projeto a ser conhecido como um dos mais proeminentes da cena heavy alemã.
O histórico do Gamma Ray no Brasil — um dos países que mais ouve power metal no mundo — é de cair o queixo: foram onze as turnês que passaram por aqui, totalizando 42 shows em solo verde e amarelo. No último sábado (27), a conta precisou ser atualizada, já que Hansen, o vocalista Frank Beck, o guitarrista Kasperi Heikkinen, o baixista Dirk Schlächter e o baterista Michele Sanna desembarcaram em São Paulo para uma única apresentação na edição 2024 do Summer Breeze.
O presente giro dos alemães se dá em meio a uma entressafra no Helloween, ao qual Hansen retornou em 2016. Seu último álbum de estúdio — o mormente aceitável “Empire of the Undead” — data de dez anos, mas uma enxurrada de compilações, discos ao vivo e relançamentos tomou conta do mercado na última década a fim de preservar a reputação conquistada com clássicos como “Land of the Free” (1995) e “Somewhere Out in Space” (1997).
Aliás, é justo dizer que as faixas-título desses dois foram provavelmente os momentos em que o povo mais se esgoelou durante a apresentação no Ice Stage. Na hora de palco que coube ao grupo, este escriba notou:
- vocais pré-gravados;
- solos divididos irmãmente entre Hansen e Heikkinen — embora todos os olhos parecessem magnetizados por Kai —;
- e o calor promovendo baixas na plateia.
“Está um forno aqui”, queixou-se Hansen, o porta-voz por excelência. “Quase tão quente como vocês”, riu.
Na sucessão de hinos do power — “Rebellion in Dreamland”, “Heaven Can Wait” e a cadenciada e pesadíssima para os padrões do estilo “Empathy” —, ficou evidente a limitação da maioria dos fãs em reter apenas os refrãos ou nem isso. Embora as introduções fossem festejadas como gol em final de campeonato, essa empolgação inicial logo assentava, voltando à tona nos ganchos que fizeram a trilha sonora da juventude deste que vos escreve e de tantos outros afeitos a memórias afetivas musicais.
Quem esperava por “I Want Out” — a saber, a quarta faixa mais executada ao vivo pelo Gamma Ray em sua história — ou qualquer outro aceno ao catálogo do Helloween, ficou chupando o dedo. Mas a julgar pelo quão a resposta poderia/deveria ter sido mais efusiva, e em se tratando de Brasil, teria sido uma cartada de mestre de Hansen.
**Este conteúdo faz parte da cobertura Summer Breeze Brasil 2024 — clique para conferir outras resenhas com fotos e vídeos.
Gamma Ray — ao vivo no Summer Breeze Brasil 2024
Repertório:
- Welcome / Land of the Free
- Last Before the Storm
- Rebellion in Dreamland
- Master of Confusion
- One With the World
- The Silence
- Induction / Dethrone Tyranny
- Empathy
- Heaven Can Wait
- Somewhere Out in Space
Bis:
- Send Me a Sign
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