Sem surpresas, Ratos de Porão enfileira clássicos no Summer Breeze Brasil

Mesmo sob sol impiedoso, músicos não pararam no palco e as rodas foram constantes

Depois de se apresentar com o seu projeto Brutal Brega em 2023, era meio óbvio que não demoraria para a banda principal de João Gordo fosse escalada para o Summer Breeze Brasil. Em um dia com várias atrações de thrash metal, o crossover do Ratos de Porão era uma boa pedida para quem acabara de ver o Overkill no Ice Stage fugir do Avatar no palco principal.

Como esperado, o Sun Stage ficou cheio para ver o lendário grupo paulista – até Dan Lilker, que mais tarde tocaria com o Anthrax, marcou presença. O terceiro palco do Summer Breeze, sem as falhas constantes no som ocorridas ano passado, mostrou-se perfeito nesta segunda edição do festival para shows que funcionam melhor quando há mais proximidade do público com a banda, garantindo espaço para ocorrerem as rodas sem prejudicar a visão de quem só quiser curtir mais de boa.

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Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Com o pano de fundo do palco indicando seus quarenta anos de carreira, o Ratos de Porão enfileirou clássicos, com mais da metade do repertório dedicada aos discos “Brasil” (1989) e “Anarkophobia” (1991). Privilegiaram a época em que soava mais próxima do thrash metal/crossover de gringos como Suicidal Tendencies, D.R.I. e fase inicial do C.O.C. As rodas foram perenes durante a hora que o quarteto esteve no Sun Stage.

A pancadaria na pista começou logo nas duas primeiras, “Alerta Antifascista” e “Aglomeração”, tiradas de “Necropolítica”, disco “pandêmico” lançado em 2022. No entanto, foi em “Morte ao Rei”, de “Anarkophobia”, que Gordo endereçou críticas diretamente ao ex-presidente da época pedindo sua prisão, para delírio do público que mantinha os coros xingando o político inelegível.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Mesmo tendo o vocalista se assumido já “no bico do corvo” com “sessentinha” ao sofrer com o calorzão, ele parece cada vez mais saudável. Gordo fez suas dancinhas e caretas, sempre mantendo o fôlego para cantar, ou vomitar, seus versos rápidos que, segundo ele próprio, fazem mais sentido hoje do que trinta anos atrás.

Jão e Juninho pularam e correram incessantemente pelo palco, enquanto Boka seguiu uma máquina na bateria. A banda emendava uma música na outra, com poucos momentos de trégua ao público sob sol inclemente do início da tarde. Exceto pelo fato de fazerem isso sob um calor anormal para o outono paulistano, estávamos sem novidades. “Amazônica nunca mais”, né?

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Apesar da presença majoritária de público da velha guarda metálica, ninguém ali reclamou de ouvir clássicos da fase inicial mais punk da banda, como os hinos “Crucificados pelo Sistema”, “Morrer” e “Descanse em Paz”.

Como nunca é diferente, a catarse do show do Ratos de Porão aconteceu quando o grupo enfileirou “Aids, Pop, Repressão” e “Beber até Morrer”. Os… ahn… “hits” do disco “Brasil” tiveram as maiores rodas e os coros mais altos daquela tarde para a banda brasileira.

O Ratos de Porão deixou o palco do Sun Stage, sem surpresas também, com “Crise geral”, mas sem apatia do público presente, prestes a ter de se decidir entre Carcass e Death Angel no conflito mais duro do domingo no Summer Breeze Brasil.

**Este conteúdo faz parte da cobertura Summer Breeze Brasil 2024 — clique para conferir outras resenhas com fotos e vídeos.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Ratos de Porão — ao vivo no Summer Breeze Brasil 2024

Repertório:

  1. Alerta Antifascista
  2. Aglomeração
  3. Amazônia Nunca Mais
  4. Farsa Nacionalista
  5. Ignorância
  6. Lei do Silêncio
  7. Morte ao Rei
  8. Morrer
  9. Mad Society
  10. Crianças sem Futuro
  11. Crucificados pelo Sistema
  12. Descanse em Paz
  13. V.C.D.M.S.A.
  14. Igreja Universal
  15. Sofrer
  16. Conflito Violento
  17. Aids, Pop, Repressão
  18. Beber até Morrer
  19. Crise Geral
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Thiago Zuma
Thiago Zuma
Formado em Direito na PUC-SP e Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero, Thiago Zuma, 43, abandonou a vida de profissional liberal e a faculdade de História na USP para entrar no serviço público, mas nunca largou o heavy metal desde 1991, viajando o mundo para ver suas bandas favoritas, novas ou velhas, e ocasionalmente colaborando com sites de música.

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