O terrível show do The Doors que inspirou Iggy Pop e toda uma geração

Apresentação na Universidade de Michigan, em 1967, serviu como referência, apesar de ter sido um desastre

Pode um show ruim encorajar alguém a ponto de esta pessoa se tornar um ícone do rock? Na teoria, seria até lógico, já que uma apresentação onde tudo dá errado nos mostra que qualquer um de nós seria capaz. Mas o fato é que assistir a uma apresentação do The Doors onde as coisas não ocorreram como imaginadas foi o gás que faltava em Iggy Pop.

O concerto aconteceu no dia 20 de outubro de 1967, na Universidade de Michigan, localizada na cidade de Ann Arbor, nos Estados Unidos. A performance desastrosa, potencializada pelo comportamento errante de um Jim Morrison completamente embriagado, acabou inspirando o futuro frontman dos Stooges e seus amigos.

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O momento foi tão marcante que o tecladista Ray Manzarek ainda se lembrava décadas mais tarde, conforme resgate do American Songwriter:

“Jim estava perdendo o tempo em todas as suas entradas. Fiquei pensando: ‘Jim, não irrite esses caras! São jogadores de futebol. Veja a espessura de seus pescoços!’ Mas ele continuou falando sem parar.”

A solução foi bater em retirada, com o guitarrista Robby Krieger e o baterista John Densmore tomando a atitude e levando os outros dois de arrasto.

A aprovação ao The Doors

Apesar dos pesares, Iggy não se incomodou com o caos. Ao contrário, o evento serviu como fonte de inspiração. Ao livro “Mate-me Por Favor: Uma História Sem Censura do Punk”, ele destacou:

“A banda subiu ao palco primeiro sem Morrison, e eles soavam como uma m*rda. Parecia horrível – decrépito, nojento e desequilibrado. Eles estavam tocando o riff de ‘Soul Kitchen’ repetidamente até que o cantor fizesse sua entrada.”

Enquanto seus colegas de plateia ficaram irritados com a performance do cantor, que o incluía cantando em um falsete no estilo Betty Boop, o padrinho dos punk rockers se animou.

“Fiquei muito impressionado. Adorei o antagonismo. Amei que ele estivesse irritando-os. Sim! Sim! Sim! O show durou apenas quinze ou vinte minutos e eles tiveram que puxar Morrison para fora do palco e tirá-lo de lá rapidamente porque as pessoas iriam atacá-lo. Isso causou uma grande impressão em mim. Eu pensei ‘olha como eles são horríveis, e ainda assim têm o single número um do país!’ Se esse cara pode fazer isso, eu posso fazer isso. E eu tenho que fazer isso agora. Não posso esperar mais.”

Iggy Pop (foto: Ben Houdijk / Depositphotos)

Jim Morrison e Iggy Pop

Reações intempestivas e resultados inesperados se tornaram uma constante na curta carreira de Jim Morrison à frente do The Doors. Não à toa, o vocalista se imortalizou como um dos primeiros frontmen da história do rock, transformando um show em algo além de músicos executando suas criações sobre o palco.

Iggy Pop levou os ensinamentos um passo além, adotando performances que iam do escatológico ao perigo literal. Tanto à frente do The Stooges quanto em carreira solo, o performático cantor estabeleceu fama que o acompanha até hoje, aos 76 anos de idade.

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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