Lançado em 2015, “Mad Max: Estrada da Fúria” representou um acontecimento. O longa que marcou o retorno da franquia após três décadas de sumiço é, para muitos, um dos grandes filmes de ação do século 21.
Nele, o cineasta George Miller apostou em ação caótica e desenfreada, funcionando como uma grande perseguição no deserto do início ao fim. Sem muito tempo de respiro, o australiano ainda inseria suas tão valiosas temáticas e alegorias político-sociais de forma bastante eficaz.
A lógica é outra em “Furiosa: Uma Saga Mad Max”, spin-off focado na personagem-título introduzida em “Estrada da Fúria” – onde, à época, foi interpretada pela atriz Charlize Theron. A nova produção, protagonizada por Anya-Taylor Joy, é em essência um filme de origem. Assim, para concretizar melhor suas ideias, Miller substitui a adrenalina ininterrupta por um equilíbrio maior entre ação e drama.
Com camadas, sem fan services
Definida a estratégia, o longa que estreia nesta quinta-feira (23) nos cinemas brasileiros evita se sustentar por meio de explicações ou “fan services” gratuitos e vazios. Todos os elementos introduzidos pelo diretor, além de contribuírem para uma expansão dramática desse universo como um todo, agregam de fato na jornada da personagem principal.
A presença das figuras de líderes impiedosos e tiranos, como a do já conhecido Immortan Joe (Lachy Hulme) e um novo senhor da guerra chamado Dementus (Chris Hemsworth), expande os horizontes da disputa por recursos em meio a uma realidade devastada. O personagem de Hemsworth, canastrão e com sotaque acentuado, também é o alicerce central da história e das motivações da jovem Furiosa.
As camadas, para além da terra apocalíptica por essência, não se limitam apenas a isso. Nos instantes iniciais de filme, há uma breve sequência de abertura em que somos introduzidos à terra natal de Furiosa. Habitado apenas por mulheres, o local tem caracterização em tons idílicos, de uma região fértil isolada da ganância e da crueldade do homem. A pequena sequência contrasta de forma gritante com o restante do longa, inteiramente situado no deserto.
Nesse sentido, George Miller faz uso poderoso dos planos gerais. Temos a noção completa da beleza e de um lado épico desses polos. Tanto o que vemos brevemente, tomado pelo verde, azul e frutos, quanto aquele dominado pela areia e pelos tons bege, marrons e alaranjados – que, mais uma vez, são os destaques desse mundo árido e impiedoso.
Nada arrastado
O ápice da jornada da personagem de Taylor-Joy é uma clássica narrativa de vingança – algo já conhecido para os fãs dos “Mad Max” estrelados por Mel Gibson. Está dividida em cinco partes, mas nenhuma delas parece arrastada ou desnecessária. O ritmo desacelera em algumas transições de seus 148 minutos, mas logo depois já estamos mais uma vez envolvidos.
Aqui, o mérito de Miller está na forma como o início e o fim se conectam de forma brilhante. E é lógico que, no meio disso, a ação em si – que segue bem os moldes da produção anterior – representa um acerto. As sequências são longas, mas envolventes do início ao fim em virtude da câmera que se movimenta de forma dinâmica e da encenação criativa, que organiza muito bem os elementos das cenas.
No clímax, ainda cabe um gancho para com “Mad Max: Estrada da Fúria” que não soa forçado. Toda a jornada da personagem nesse filme, de fato, se encaixa como motivação para o que veremos no próximo.
Há quem possa reclamar de “Furiosa: Uma Saga Mad Max” por preferir a ideia do caos frenético e quase imparável de “Estrada da Fúria”. Mas é inegável o quanto que, em termos de conteúdo, essa nova realização, mais equilibrada na ação e nos diálogos, é uma excelente adição ao icônico universo de George Miller.
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