Não é segredo para ninguém que o Led Zeppelin bebeu na fonte artística estadunidense desde os primórdios. Na 15ª temporada de “Os Simpsons”, no episódio onde a família está em Londres, Homer chegou a dizer: “E lá vai o Jimmy Page, um dos maiores ladrões da música negra americana”.
O blues e outros formatos yankees foram decisivos para que a banda desenvolvesse sua riquíssima obra e faz parte do cotidiano dos envolvidos até hoje. Em entrevista de 2020, Robert Plant falou à revista Classic Rock sobre sua rotina diária. E revelou como a música que o influenciou possui papel decisivo.
Seu “café da manhã” é um box set que documenta o trabalho de Alan Lomax, etnomusicólogo americano que recebeu financiamento para viajar pelos estados do sul dos Estados Unidos com equipamento de gravação de campo visando coletar canções folclóricas. As excursões aconteceram na virada dos anos 1950 para os 60, acompanhado por sua então parceira Shirley Collins. O roteiro ficou conhecido como Southern Journey.
Contextualizou o vocalista:
“Passei muito tempo em Nashville nos últimos dez anos. Não sendo exatamente o turista musical que costumava ser, mas me aprofundando em outros aspectos da cultura. Aprendi cada vez mais sobre formas que são antiquadas, mas ao mesmo tempo, por serem relativamente novas para mim, despertam meu entusiasmo à medida que encontro cada vez mais essas canções estranhas. Isso me leva à condição que mais gosto de tudo, que é ser o caçador, o estudante, o geek que tenta encontrar estruturas musicais e líricas que vêm de outro lugar. Esta é uma compilação que não é particularmente rara, faz parte do catálogo de música americana do Smithsonian.”
Robert Plant e a viagem sulista
Plant disse que sempre se inclinou para o blues e esta coleção o levou profundamente às suas origens.
“Isso leva a música de volta para muito, muito longe do verdadeiro blues do showman, do brilho e das coisas lindamente gravadas. São principalmente gravações de campo. Eu ouço essas músicas porque há uma simplicidade nelas e também uma franqueza incrível em ambas as áreas, seja no povo branco das montanhas Blue Ridge ou no material que foi gravado no norte do Mississippi, em Como, com a bateria e bandas de pífano. Não consigo fugir do fato de que cada uma das músicas dessas coleções está me dando uma aparência totalmente diferente, uma ressonância totalmente diferente.”
O cantor ainda lembrou de uma conversa que teve com Shirley Collins sobre quando uma das gravações foi feita.
“Falei com Shirley Collins há algum tempo sobre o dia em que eles estavam em Como, Mississippi, encerrando a tarde e na clareira veio Mississippi Fred McDowell, que ninguém tinha ouvido antes. Ele se sentou e começou a tocar. Você pode imaginar, vindo do interior da Inglaterra ou de onde quer que seja e acabar com Alan Lomax em Como, Mississippi, um cara passar pela clareira depois de ter feito um dia de trabalho e começar a tocar daquele jeito? Eu carrego isso comigo. Sou muito apaixonado por essas gravações. É uma ótima maneira de começar o dia. Não tenho certeza se meu cachorro ou minha namorada estão particularmente interessados em ouvir isso, mas funciona bem.”
Sobre a “Southern Journey”
A “Southern Journey” foi pioneira no uso de gravações estéreo em ambientes externos aos estúdios. O projeto rendeu 13 volumes em discos. São eles:
- Southern Journey, Vol. 1 – Voices from the American South
- Southern Journey, Vol. 2 – Ballads and Breakdowns
- Southern Journey, Vol. 3 – 61 Highway Mississippi
- Southern Journey, Vol. 4 – Brethren, We Meet Again
- Southern Journey, Vol. 5 – Bad Man Ballads: Songs of Outlaws and Desperadoes
- Southern Journey, Vol. 6 – Sheep, Sheep, Don’t You Know the Road
- Southern Journey, Vol. 7 – Ozark Frontier
- Southern Journey, Vol. 8 – Velvet Voices: Eastern Shores Choirs, Quartets, and Colonial Era Music
- Southern Journey, Vol. 9: Harp of a Thousand Strings
- Southern Journey, Vol. 10 – And Glory Shone Around
- Southern Journey, Vol. 11 – Honor the Lamb: The Belleville A Cappella Choir
- Southern Journey, Vol. 12 – Georgia Sea Islands: Biblical Songs and Spirituals
- Southern Journey, Vol. 13 – Georgia Sea Islands: Earliest Times
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