Na metade dos anos 1990, Alicia Silverstone estava com tudo. A atriz conquistou posição de destaque na indústria devido aos trabalhos nos videoclipes do Aerosmith (“Cryin'”, “Amazing” e “Crazy”) e no filme “As Patricinhas de Beverly Hills” (1995). Porém, não conseguiu ostentar essa posição por muito tempo.
Escolhas equivocadas e trabalhos abaixo da crítica fizeram com que Silverstone perdesse espaço em Hollywood. Porém, não só isso: uma série de ataques carregados de misoginia e gordofobia serviram para tirar de cena a artista americana.
A rápida ascensão de Alicia Silverstone
Nascida em 4 de outubro de 1976, Alicia Silverstone teve sua vida artística iniciada aos seis anos de idade, época em que fazia trabalhos como modelo e renderam convites para gravar comerciais. Ela já admitiu que odiava essa função, mas foi assim que as portas para o mundo da atuação foram abertas.
O primeiro trabalho como atriz veio em 1992, ao gravar um episódio da série “The Wonder Years”. Um ano mais tarde, apareceu em “Paixão Sem Limite” (1993), filme que a exigiu se emancipar dos pais com apenas 15 anos por conta das longas horas de gravações e o fato de viver uma “femme fatale” adolescente.
Em seguida, foi convidada para participar dos já mencionados videoclipes do Aerosmith. Em “Crazy”, inclusive, contracenou ao lado de Liv Tyler, filha do vocalista Steven Tyler, com direito a muitas cenas sensuais.
O sucesso foi enorme. Alicia viu sua popularidade crescer e chegou a ser rotulada como a “primeira estrela de cinema surgida na MTV”. Também foi transformada em símbolo sexual. Tudo isso antes de fazer 18 anos, já que o vídeo de “Crazy”, terceiro e último do Aerosmith que participou, saiu em maio de 1994.
Neste período, a cineasta Amy Heckerling convidou a atriz para estrelar “As Patricinhas de Beverly Hills”. No longa, Alicia viveu a protagonista Cher Horowitz, aquele que é, com certeza, o papel mais famoso de sua carreira.
Silverstone fechou um acordo com a Sony que rendeu alguns milhões de dólares para ela. No pacote, ainda estava incluso a criação da First Kiss Productions, estúdio que seria liderado pela atriz — o que também a transformou em produtora de Hollywood com apenas 19 anos de idade.
“Fatgirl”
A derrocada de Alicia Silverstone foi iniciada antes mesmo de seu próximo filme sair. Em 1996, ela foi convidada para entregar um dos prêmios do Oscar. Tropeçou enquanto caminhava no palco e leu suas falas de uma forma considerada estranha — muito provavelmente devido ao nervosismo.
Na mesma época, ela estava gravando “Batman & Robin” (1997), onde foi escalada para viver a Batgirl. Logo surgiram rumores de que o diretor Joel Schumacher teria exigido que Alicia perdesse entre 8 e 12 kg para caber no traje da heroína. Além disso, o possível contratempo teria resultado em mudanças no cronograma de filmagens e no corte de algumas cenas da atriz.
No dia seguinte à cerimônia do Oscar, o jornal New York Daily News publicou o seguinte comentário a respeito da atriz:
“Pode parecer injusto submeter uma jovem a tal escrutínio físico, mas quando (Mark) Canton (presidente da Sony) montou uma produtora para Alicia, a First Kiss, estava apostando em sua habilidade de manter os adolescentes babando. Ela claramente engordou 12 quilos. Foi uma tortura ver uma adolescente nervosa envolvida em metros de tecido que ela claramente estava usando para dissimular sua ampla figura. Dizem que o diretor de Batman & Robin lhe pediu que baixasse de 59 para 47 quilos para entrar no traje de Batgirl. Silverstone está recebendo uma lição precoce sobre a crueldade de Hollywood.”
Com a internet ainda engatinhando, mas já acumulando milhares de usuários, a publicação do Daily News ganhou tração online e, conforme registrado pelo jornal El Pais, levou a uma série de comentários maldosos, geralmente machistas ou gordofóbicos, direcionados a Alicia. A mídia, especialmente de celebridades, reforçou boatos diversos a respeito da artista e passou a retratá-la de forma pejorativa simplesmente por sua forma física.
A situação piorou após a estreia de “Batman & Robin”, filme que acabou fracassando em seus objetivos. Muitos internautas e até paparazzi passaram a chamar Silverstone de “Fatgirl” (ou “garota gorda”, um claro trocadilho com o nome da Batgirl) e dizer que ela “tinha bigode”.
Além disso, o primeiro filme de sua produtora, “Excesso de Bagagem” (1997), foi muito criticado e um fiasco de bilheteria. Como consequência, a Sony cancelou o contrato firmado com Alicia e o segundo filme da First Kiss foi cancelado.
Josep Parera, que foi correspondente de uma revista espanhola focada em cinema, se mudou para Los Angeles em 1997 e afirmou que, de fato, a mídia pegou muito pesado com Alicia Silverstone na época.
“As revistas de cinema tinham tiragens de centenas de milhares de exemplares. O que fizeram com ela foi horrível. Seria de esperar que algum veículo a defendesse, que algum colega de elenco (de ‘Batman & Robin’) dissesse algo. Mas isso não ocorreu. Limitaram-se a ecoar os insultos. Um jornalista chegou a lhe perguntar o tamanho de seu sutiã durante uma entrevista.”
O contexto não era favorável, já que o fim dos anos 1990 foi marcado justamente por uma obsessão midiática pelo peso de celebridades. Aquelas que não se encaixavam nos padrões estipulados de beleza eram criticadas e ridicularizadas tanto pelo público quanto pela mídia, o que aconteceu com outras colegas de profissão da atriz.
Desistência e volta ao mundo da atuação
Não foi à toa que vimos o nome de Alicia Silverstone sumir do mapa: a atriz admitiu que todos esses ataques que sofreu minaram sua confiança e a fizeram desistir parcialmente da profissão.
Em entrevista ao The Guardian, Alicia admitiu que perdeu a paixão pela profissão até que seu empresário a fez mudar de ideia.
“Aquelas piadas me machucavam, mas ao mesmo tempo eu sabia que elas eram erradas. Eu não estava confusa. Eu sabia que não era correto rir do corpo das pessoas, mas não respondi como uma guerreira dizendo ‘f#da-se’: eu simplesmente me afastei. Parei de amar a atuação durante muito tempo, até que meu novo agente me deixou claro que eu não precisava fazer nada que não quisesse.”
Aparentemente, a paixão pela atuação só foi recuperada recentemente: anos após participar de filmes e séries de maneira esporádica, voltou a trabalhar com mais frequência há algum tempo, com destaque para os longas “A Irmã do Noivo” (2020) e “Camaleões” (2023) e os seriados “American Woman” (2018) e “The Baby-Sitters Club” (2020-2021).
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