Em 2023, Max e Iggor Cavalera lançaram regravações oficiais para o EP “Bestial Devastation” (1985) – originalmente um split com o Overdose – e “Morbid Visions” (1986), primeiro álbum do Sepultura. A maior parte do público compreendeu a proposta, dada a precariedade técnica dos trabalhos originais e a evolução musical dos envolvidos. Porém, talvez não se imaginasse que a dupla iria adiante.
Em sua versão original, “Schizophrenia” (1987) já representava um momento de maior desenvolvimento para a banda, apesar do curto espaço de tempo em comparação aos antecessores. A entrada de Andreas Kisser na guitarra solo expandiu as possibilidades sonoras, da mesma forma que os irmãos já estavam mais confortáveis em suas funções – Paulo Xisto Júnior ainda não registrava o baixo em estúdio.
Sendo assim, o inevitável questionamento é: seria mesmo necessário uma nova versão do disco? Não há resposta certa. O fato é que, apesar do audível crescimento do grupo, a gravação ainda era um quanto rudimentar – algo comum ao heavy metal nacional dos anos 1980. Analisando por esse lado, é perfeitamente compreensível que os Cavalera tenham buscado um tratamento mais adequado às faixas. Assim, Travis Stone (Pig Destroyer) foi chamado para registrar os solos nas seis cordas, enquanto Igor Amadeus, filho de Max, assumiu o baixo.
As sessões em estúdio aconteceram entre 15 de abril e 5 de junho de 2023, no Focusrite Room em Mesa, Arizona. A mixagem e a masterização foram feitas por Arthur Rizk (Soulfly, Go Ahead and Die, Turnstile). A arte da capa original foi restaurada em aquarela e pintada à mão pelo artista alemão Eliran Kantor.
A pergunta que a maioria se fará ao ouvir é inevitável: melhorou? Do ponto de vista técnico e tecnológico, a resposta é um inevitável sim. Porém, novamente, os critérios a serem adotados são totalmente subjetivos. Quando se considera o aspecto emocional na análise, não dá para desconsiderar o valor sentimental do produto original. E é justamente aí que o “Schizophrenia” Cavalera perder para o “Schizophrenia” Sepultura – e de longe.
Os grandes momentos do tracklist ficam por conta das sempre eficientes “From the Past Comes the Storms”, “Escape to the Void” – presença até hoje no setlist das bandas dos envolvidos no registro –, “Septic Schizo” e “R.I.P. (Rest in Pain)”. Todas evidenciam uma transição gradual do death metal que motivou os envolvidos a se aventurar por esse meio para o thrash.
A instrumental “Inquisition Symphony”, que já apresentava um teor mais sofisticado para os padrões da época, é a que evidencia de forma mais latente o quanto a abordagem experiente pode fazer a diferença. Foi a que mais se beneficiou da iniciativa. Ainda há espaço para a inédita “Nightmares of Delirium”, adequada ao repertório, embora não acrescente nada de especial.
A regravação de “Schizophrenia” não alcança o mesmo impacto das de “Bestial Devastation” e “Morbid Visions”. Ainda assim, é sempre um prazer ouvir um resgate dos primórdios da banda brasileira mais relevante da história do heavy metal. Especialmente considerando todas as dificuldades enfrentadas pelo grupo original em um período mais ingênuo e cheio de percalços, quando gravar um disco era ato quase heroico. Senão por outro motivo, só esse já justifica a iniciativa.
Nas últimas semanas, alguns fãs questionaram – de forma irônica ou com real curiosidade – se a saga de regravações teria prosseguimento. Considerando que “Beneath the Remains” (1989) já traz um Sepultura mais encorpado e rumo ao desenvolvimento que os colocaria em um patamar diferenciado, talvez seja totalmente desnecessário. No entanto, quem realmente poderia impedir Max e Iggor? Aguardemos…
*Ouça “Schizophrenia” nas plataformas digitais a partir do dia 21 de junho. Clique aqui para fazer o pré-save.
Cavalera – “Schizophrenia”
- Intro
- From the Past Comes the Storms
- To the Wall
- Escape to the Void
- Inquisition Symphony
- Screams Behind the Shadows
- Septic Schizo
- The Abyss
- R.I.P. (Rest in Pain)
- Nightmares of Delirium
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