Em abril do ano passado, o Titãs deu início à sua turnê de reunião. Intitulada “Encontro”, a série de shows contou com a participação de Arnaldo Antunes, Branco Mello, Charles Gavin, Nando Reis, Paulo Miklos, Sérgio Britto e Tony Bellotto e celebrou a trajetória de sucesso da banda.
Dentre as canções escolhidas para o setlist, figurou “Igreja”, faixa presente no álbum “Cabeça Dinossauro” (1987). A afiada música, cujo conteúdo causou polêmica por criticar abertamente a religião, foi a primeira a ser selecionada pelo grupo para compor o repertório.
Durante participação no programa Roda Viva, conforme transcrição do site IgorMiranda.com.br, Paulo Miklos opinou que, apesar de composta nos anos 1980, a letra ainda consegue chocar a sociedade atual:
“Eu acho que não mudou muita coisa. Você vê, ela ainda é chocante. A música é muito clara. Essa é uma outra coisa bacana das canções: elas são muito claras, objetivas. É um depoimento na primeira pessoa.”
Justamente pela questão, segundo o integrante, a banda não podia deixar de tocá-la. Por isso, logo decidiram colocá-la na turnê:
“Foi a primeira que entrou na lista. Porque ela faz parte do grupo de canções que desenham, que determinam o caráter da banda.”
Sobre “Igreja”
A composição de “Igreja” é assinada exclusivamente por Nando Reis. Conversando com o G1 em 2016, o músico revelou que criou a faixa em um violão de nylon na casa da mãe, no Butantã, em São Paulo. A inspiração para a letra veio por uma atitude do Roberto Carlos:
Ele explicou:
“Naquele ano foi quando (Jean-Luc) Godard lançou o filme ‘Je vous salue, Marie’, houve um boicote contra o filme e o Roberto Carlos, de quem eu sou fã incondicional, escreveu algo apoiando o boicote. Aquilo, de certa forma, ia contra os meus ideais, a questão da liberdade. Isso me motivou a escrever essa música.”
Já em vídeo publicado em seu canal no YouTube em 2021, conforme transcrição do Whiplash, o artista contou que, de início, Arnaldo e Paulo não queriam gravá-la porque “não queriam compactuar com o que dizia a música”. No entanto, cederam pela maioria. Ainda assim, durante a execução ao vivo, a banda enfrentou problemas com um dos membros:
“O curioso é que essa música deixou pessoas bastante incomodadas e se sentindo agredidas. Hoje em dia, gosto da música, mas entendo. Ela diz algo que é meu. Essa diferença com as religiões. Essa impossibilidade minha de acreditar em Deus. Mas ela generaliza e tem uma certa arrogância, que hoje não tenho mais. Ela desdenha um pouco da crença das outras pessoas, o que acho tolo. O que não invalida meu ponto de vista de não querer me envolver. Era um ponto alto do show. Nas primeiras apresentações, o Arnaldo saía do palco! Ele não compactuava com aquilo e saía com toda razão. Mas depois ele mudou de ideia.”
Titãs Encontro
Em nota, o Titãs afirmou que planejava apenas 10 shows para a turnê “Encontro” como um todo, mas os compromissos se multiplicaram de modo a compor um itinerário inicial de 22 datas pelo Brasil, reunindo um público aproximado de 600 mil pessoas. Depois, marcaram outras 30 performances em território nacional, além de outras agendadas para o exterior.
O encerramento aconteceu no Lollapalooza Brasil, em março deste ano. A banda continua com Branco, Sérgio e Tony, em compromissos divulgando o álbum “Olho Furta-Cor” (2022).
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