*Texto por Jô Campos. | Muitos podem ter se surpreendido quando Kiko Loureiro anunciou que realizaria shows após sua saída do Megadeth, no fim de 2023, justamente para passar mais tempo com a família. Mas a atual turnê, iniciada em Ribeirão Preto no sábado (27) após performances isoladas no Rio de Janeiro e Presidente Prudente, é bem curta: dez datas em duas semanas, indo até o dia 11 de agosto.
O G3 Centro de Eventos, na cidade do interior de São Paulo, recebeu a performance inaugural da excursão — que, apesar da banda de apoio diferente, pouco se diferiu do que foi visto na edição carioca do Best of Blues and Rock, em junho.
Santa Cora
Os portões se abriram às 20h no G3. A noite contou ainda com a abertura da banda local Santa Cora, composta por Carol Corteze (vocal), João Augusto Michelin (guitarra), Desirée Nobrega (baixo), Cesar Bolfarini (teclado) e Yago Cefaly (bateria).
Orientado ao power metal / sinfônico, o grupo apresentou um mix de músicas autorais e covers. O início foi meio tímido, mas aos poucos o quinteto ganhou confiança e se soltou. Em alguns momentos, como na versão para “Hunting High and Low” (Stratovarius), não se ouvia o teclado — o que veio melhorar com o decorrer do repertório.
Apesar disso, Bolfarini foi um dos destaques do show, especialmente quando assumiu os vocais para o dueto de “The Phantom of the Opera” (Andrew Lloyd Webber, na versão do Nightwish). Simpática, Desirée Nobrega também chamou a atenção com sua performance.
Kiko Loureiro
Exatamente às 23h08, Kiko Loureiro subiu ao palco junto de seus companheiros de banda Felipe Andreoli (baixo), Bruno Valverde (bateria) e Luiz Rodrigues (guitarra). Como esperado, o setlist foi composto majoritariamente por músicas de sua carreira solo, ainda que Megadeth e Angra também tenham sido representados.
O quarteto, que ainda contaria com o acréscimo de Alírio Netto (voz) em duas canções ao fim, encontrou uma casa com aproximadamente metade de sua capacidade total, de 3 mil pessoas na área coberta. A maior parte do público se concentrou na pista premium.
As seis primeiras faixas executadas — “Overflow”, “Escaping”, “Reflective”, “Pau-de-Arara”, “No Gravity” e “Vital Signs” — vinham dos álbuns solo de Kiko. Foram efetivas em prender a atenção da plateia, dada a complexidade da performance. Todavia, o público só foi ao delírio a partir da execução de um medley, ainda instrumental, de músicas do Angra: “Carry On”, “Spread Your Fire”, “Nova Era”, “Morning Star”, “Evil Warning” e “Speed”.
Antes do pot-pourri, houve uma interrupção ocasionada por, segundo Loureiro, problemas técnicos. O músico também teceu alguns comentários sobre uma quantidade de pessoas ao lado do palco, mostrando-se incomodado com a situação.
Enquanto o caso era solucionado, o protagonista aproveitou o momento para, além de apresentar a banda, conversar em um momento quase de “stand-up comedy” — ao menos conforme definição do próprio. Rolaram brincadeiras com o apelido “Tesouro” e gritos de “Kiko, Kiko, rá rá rá” em referência ao personagem do seriado “Chaves”, além de depoimentos sobre sua experiência nos Estados Unidos, onde as pessoas que pesquisavam por seu nome encontravam um “cara com uma cara estranha”.
As reações da plateia se intensificaram quando, já na 12ª música da noite, Loureiro chamou ao palco Alírio Netto, vocalista com passagens pelo Shaman, Age of Artemis e Khallice e desde 2017 envolvido com o Queen Extravaganza. O cantor, porém, interpretou apenas “Rebirth” e logo saiu para outra instrumental, “Dilemma”, que encerrou o set regular. A faixa-título do quarto álbum do Angra foi apenas a segunda música com vocais na noite — a primeira, “Killing Time” (Megadeth), levou o guitarrista ao microfone principal.
Já no bis, Alírio retornou ao palco para “Nothing to Say”, também do Angra, que teve como destaque a participação de Jéssica di Falchi. A guitarrista da Crypta mora em Ribeirão Preto e estava na cidade, o que possibilitou o encontro. Sua parceira de instrumento na banda, Tainá Bergamaschi, estava na plateia. Outra instrumental, “Enfermo”, concluiu o set em definitivo de forma sublime.
Não surpreendeu o fato de a apresentação ter entregue altíssimo nível de musicalidade. E não apenas pelo protagonista. Felipe Andreoli e Bruno Valverde demonstraram entrosamento ímpar, digno de quem, além de dominar o próprio instrumento, toca junto há mais de uma década. Ainda que apareça mais apagado no palco, Luiz Rodrigues não deixa nada a desejar e oferece toda a base necessária para a atração principal.
Por outro lado, deve-se mencionar que é uma performance dedicada, em especial, a verdadeiros amantes da guitarra que agora podem ver execuções de excelência. O público só vibrou mesmo, como pede o figurino de um show, nas duas músicas em que Alírio esteve no palco — seja por poder cantar junto ou por serem clássicos do Angra. Nem “Killing Time”, também com vocais, levantou tanto a plateia como as canções do grupo que teve Kiko como membro por 23 anos. Passa a impressão de que é um desperdício ter o ex-frontman do Shaman presente por tão pouco tempo.
A tour está apenas no começo, restando outras oito datas — Belo Horizonte também recebeu Kiko e banda, no último domingo (28). Talvez até dê tempo de pensar em alternativas para aproveitar mais o vocalista. Se não é a intenção, tudo bem: a performance ainda é de alto nível, apenas mais nichada.
Kiko Loureiro — ao vivo em Ribeirão Preto
- Local: G3 Centro de Eventos
- Data: 27 de julho de 2024
- Produção: Top Link Music e Arena Club
Repertório — Santa Cora:
- Secret of The Pine Forest
- Hunting High and Low (Stratovarius)
- The Way Back Home
- Only Love Can Save Me Now (The Pretty Reckless)
- Enjoy the Silence (Depeche Mode)
- Unleashed (Epica)
- The Phantom of the Opera (Andrew Lloyd Webber, na versão do Nightwish)
- Not That Saint
- Abismo
Repertório — Kiko Loureiro:
- Intro + Overflow
- Escaping
- Reflective
- Pau-de-arara
- No Gravity
- Vital Signs
- Angra medley (Carry On, Spread Your Fire, Nova Era, entre outras)
- Du Monde
- Conquer or Die! (Megadeth)
- Killing Time (Megadeth) (Kiko Loureiro no vocal)
- Dreamlike
- Rebirth (Angra) (Alírio Netto no vocal)
- Dilemma
Bis:
- Nothing to Say (Angra) (Alírio Netto no vocal, participação de Jéssica di Falchi)
- Enfermo
Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Twitter | TikTok | Facebook | YouTube | Threads.