O Kiss tem uma discografia cheia de momentos curiosos, já que, entre o fim da década de 1970 e o meio dos anos 1990, a banda nunca se esquivou de tentar seguir as tendências do momento. Na visão do vocalista e baixista Gene Simmons, isso levou à criação de álbuns que não são exatamente tão bons — e um deles recebeu a classificação de “mais desonesto”.
Em entrevista à edição 330 da revista Classic Rock, Simmons foi convidado a determinar, inicialmente, o pior disco que fez. A resposta não surpreendeu: “Music From ‘The Elder’”, infame álbum de 1981, uma tentativa de fazer um álbum conceitual que passou um tanto longe do resultado esperado.
Gene respondeu:
“’Music From ‘The Elder’. Eu levo a culpa por ele, porque foi ideia minha. Me lembro de falar a Bob Ezrin (produtor) que eu estava escrevendo o roteiro de um filme, que estávamos fazendo um álbum conceitual baseado nisso e ele disse: ‘vamos fazer nosso próprio ‘Tommy!’ e eu disse: ‘Sim. Se o The Who pode fazer, por que não podemos?’. Bem, a resposta direta é porque não somos o The Who! Existem alguns fãs que amam esse disco. Para mim ele é desonesto.”
Ao citar a palavra “desonesto”, Simmons se lembrou de outro álbum que ele considera ainda pior nesse quesito. O trabalho em questão é mais um “patinho feio” na discografia do Kiss: “Carnival of Souls (The Final Sessions)” (1997).
Simmons continuou:
“Mas de verdade, o disco mais desonesto que já fizemos foi ‘Carnival of Souls’, quando estávamos tentando seguir uma tendência em vez de sermos nós mesmos.”
“Carnival of Souls” e o Kiss grunge
Lançado em 1997 apenas para frear a pirataria, “Carnival of Souls (The Final Sessions)” é considerado por muitos como o “álbum maldito” do Kiss. Ele foi gravado na primeira metade dos anos 90, pouco antes da reunião da formação original, que praticamente engavetou o projeto ainda durante a sua concepção.
O objetivo fica claro na audição do álbum. O Kiss queria soar como Soundgarden, Alice in Chains e outras bandas oriundas da chamada cena grunge, que viveu seu auge e decadência na mesma época.
E mais uma vez, o culpado é Gene Simmons, o autor da ideia. No livro “Kiss: Por Trás da Máscara”, o linguarudo traz uma opinião bem diferente a respeito do álbum, sem nenhuma menção a “desonestidade” – pelo contrário.
Ele disse:
“Nós basicamente dissemos: ‘vamos acreditar que essa banda é novinha em folha’. Naquela altura, nós tínhamos perdido a esperança de nos reunirmos novamente com Ace (Frehley) e Peter (Criss). Então pensamos: ‘Vamos esquecer todas as regras, esquecer o Kiss, esquecer de tudo. Vamos tentar fazer com que o Eric (Singer) e o Bruce (Kulick) se sintam em casa’. Em minha opinião, foi um disco muito corajoso e não me arrependo.”
A sonoridade beira a melancolia, com afinações de guitarra mais graves e uma atmosfera pesada, nada parecida com o que se espera do Kiss, mesmo quando a banda explorava novos caminhos. Somado à capa com uma foto simples e a falta de divulgação (a ponto de o encarte do CD original trazer propaganda da reunião da formação original), “Carnival of Souls” não registrou boas vendas e se tornou um encerramento estranho para a era sem maquiagens do grupo.
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