Serj Tankian volta a criticar Imagine Dragons por show no Azerbaijão

Vocalista do System of a Down rebateu justificativa dada pelo líder da banda americana e disse que odeia "artistas tirando proveito de ditaduras genocidas"

Serj Tankian recentemente criticou o Imagine Dragons. Durante entrevista, o vocalista do System of a Down relembrou o show da banda americana em Baku, no Azerbaijão, mesmo após pedidos para que não o fizessem por causa da situação em Nagorno-Karabakh. Por isso, afirmou que não tem “nenhum respeito” pelos músicos.

Agora, voltou a falar sobre o assunto após o próprio grupo responder à declaração. Dias atrás, em conversa com a Rolling Stone, o vocalista Dan Reynolds disse acreditar que fãs de todos os países têm o direito de assistir às suas apresentações, independentemente da posição política dos governos.

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Porém, para Serj, o argumento não é válido e demonstra hipocrisia. Em texto compartilhado nas redes sociais, o cantor rebateu a fala, alegando que um lugar que promove o genocídio não deveria ser considerado por um artista.

Para ilustrar, citou o posicionamento do procurador argentino Luis Moreno Ocampo, que desempenhou um importante papel no julgamento dos líderes da ditadura militar argentina, como também o nazismo da Alemanha. Ele escreveu:

Dan Reynolds declarou: ‘não acho que devemos privar nossos fãs que querem nos ver tocar por causa dos atos de seus líderes e governos. Acho que é um caminho perigoso. Há líderes corruptos e promotores de guerra em todo o mundo. No segundo em que você começa a fazer isso, qual será o seu critério?’. Respeitosamente, meu critério é a limpeza étnica e o genocídio. A ditadura do Azerbaijão com apoio popular já estava promovendo a  fome havia 9 meses em Nagorno-Karabakh, o que se qualificava como genocídio pelo ex-procurador do Tribunal Penal Internacional Luis Moreno Ocampo quando a banda decidiu tocar em Baku. Eles tocariam na Alemanha nazista? Por que eles não querem tocar na Rússia? Porque não é popular? Eles apoiam a Ucrânia, mas não os armênios de Artsakh?”

Por fim, acrescentou:

“O único ‘caminho perigoso’ é a farsa do argumento que está no cerne dessa atitude hipócrita. Não tenho nada contra esse cara nem contra sua banda. Eu simplesmente odeio artistas tirando proveito de ditaduras genocidas de embranquecimento.”

A crítica de Serj Tankian ao Imagine Dragons

Durante conversa com a Metal Hammer, Serj Tankian refletiu sobre como o Imagine Dragons ignorou os apelos dele e de vários outros músicos para que deixassem de se apresentar em Baku, capital do Azerbaijão. A performance ocorreu em 2 de setembro do ano passado.

Sobre o motivo para ter escrito uma carta aberta ao grupo americano, o vocalista do System of a Down explicou:

“Não é sobre o meu ego. Eu só queria causar uma mudança positiva. Queria que esses caras soubessem que estavam prestes a fazer algo capaz de gerar repercussão negativa para eles. Eu estava para o bem deles, para a moralidade deles.”

O Imagine Dragons não se manifestou sobre a carta e escolheu fazer o show conforme programado. Tankian falou sobre sua frustração com essa postura:

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“Olha, eu não sou um árbitro de onde bandas podem tocar ou não. Existem artistas tocando em reinos incrivelmente questionáveis, comandados por uma pessoa só, onde pessoas não possuem muitos direitos civis. Entendo que estejam fazendo isso por dinheiro, que são artistas, estão ali para entreter, tudo isso. Mas quando um governo está prestes a cometer limpeza étnica, quando o Azerbaijão estava fazendo 120 mil armênios em Nagorno-Karabhak passarem fome, sem deixar comida ou remédios entrarem na região…”

“Sabe, como um artista, se descobrisse sobre isso, não teria feito esse show. Mas alguns artistas fazem. E eu não sei o que dizer sobre esses artistas. Não os respeito como seres humanos. F#da-se a arte deles, não são seres humanos decentes, ao meu ver. Se você está tão cego a ponto de fazer um show num país que faz outro país passar fome, ilegalmente, de acordo com a Corte Internacional de Justiça, de acordo com a Anistia Internacional, Human Rights Watch… se você ainda vai e toca naquele país, eu não sei o que dizer sobre você como ser humano. Eu nem ligo para sua música. Se você for um ser humano ruim, eu não ligo para sua música. Tenho nenhum respeito por esses caras.”

Conscientização sobre Nagorno-Karabakh

A área de Nagorno-Karabakh, localizada em uma região montanhosa no sul do Cáucaso, é alvo de disputa internacional entre a Armênia (de maioria cristã) e o Azerbaijão (com mais muçulmanos). As duas últimas músicas lançadas pelo SOAD como singles, “Protect the Land” e “Genocidal Humanoidz”, arrecadou fundos para prestar auxílio aos moradores dali.

Embora esteja no Azerbaijão (por determinação da União Soviética, que influenciava os dois países), Nagorno-Karabagh tem moradores e governantes armênios há muito tempo. A disputa ganhou caráter bélico entre 1988 e 1994, deixando 30 mil mortos, mas foi cessada.

Em 2016, foi retomada por quatro dias de ataques e a situação apenas piorou. Após um novo cessar-fogo no ano em questão, os ataques foram retomados em 2020. O Azerbaijão aplicou um bloqueio à região separatista que dificulta acesso a alimentos, remédios e outros suprimentos.

O trabalho de Serj Tankian para conscientizar o mundo dos eventos em Nagorno-Karabhak vai além de apenas shows. Ele falou:

“Tenho avisado várias organizações sobre o Azerbaijão como local porque, novamente, se deixarem o país ter laços internacionais que os fazem se sentir legitimados, eles irão continuar com suas ações. Há um ditador fazendo limpeza étnica que continua recebendo mais eventos, Fórmula 1 e shows de rock, aí ele vai achar que pode matar pessoas. Isso não é certo. Então é necessário romper essa corrente, passar uma mensagem clara para essas pessoas.”

A passagem do Imagine Dragons pelo Azerbaijão correspondeu a uma das últimas datas da “Mercury World Tour”. À época, a banda também se apresentou em Israel, Geórgia, Alemanha, Grécia e França.

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Maria Eloisa Barbosa
Maria Eloisa Barbosahttps://igormiranda.com.br/
Maria Eloisa Barbosa é jornalista, 22 anos, formada pela Faculdade Cásper Líbero. Colabora com o site Keeping Track e trabalha como assistente de conteúdo na Rádio Alpha Fm, em São Paulo.

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